VERDADE EM FOCO

PERGUNTA: As orientações de Deus sobre carnes limpas e imundas continuam em vigor ainda nos dias de hoje?


I – INTRODUÇÃO

Muitos teólogos afirmam que a lei de Deus relacionada às carnes limpas e imundas findou na crucificação do Messias. Eles entendem que a Nova Aliança eliminou a necessidade de se observar essa lei. Será que esse é o verdadeiro ensinamento das Escrituras Sagradas?

A mudança do sacerdócio levítico para o ministério de Yeshua, o Messias, não anulou a ordem de Deus com relação às Suas orientações que tratam sobre carnes limpas e imundas, como parte de sua santificação ou separação, como povo de Deus:

“Porque Eu sou o Senhor vosso Deus; portanto santificai-vos, e sede santos, porque Eu sou santo; e não vos contaminareis com nenhum animal rasteiro que se move sobre a terra; porque Eu sou o Senhor, que vos fiz subir da terra do Egito, para ser o vosso Deus, sereis pois santos, porque Eu sou santo. Esta é a lei sobre os animais e as aves, e sobre toda criatura vivente que se move nas águas e toda criatura que se arrasta sobre a terra; para fazer separação entre o imundo e o limpo, e entre os animais que se podem comer e os animais que não se podem comer.” Levítico 11:44-47

“E não andareis nos costumes dos povos que Eu expulso de diante de vós; porque eles fizeram todas estas coisas, e Eu os abominei. Mas a vós vos tenho dito: Herdareis a sua terra, e Eu vo-la darei para a possuirdes, terra que mana leite e mel. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos separei dos povos. Fareis, pois, diferença entre os animais limpos e os imundos, e entre as aves imundas e as limpas; e não fareis abomináveis as vossas almas por causa de animais, ou de aves, ou de qualquer coisa de tudo de que está cheia a terra, as quais coisas apartei de vós como imundas. E sereis para Mim santos; porque Eu, o Senhor, sou santo, e vos separei dos povos, para serdes Meus.” Levítico 20:23-26.

Os apóstolos Paulo e Pedro falam da contínua necessidade de o povo de Deus ser santo, mostrando claramente que existe uma relação direta entre alimentação e santidade, conforme as passagens bíblicas acima expostas em Levítico 11:44-47 e 20:23-26:

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Yeshua, o Messias, o qual nos abençoou, no Messias, com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes; como também nos elegeu nEle antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dEle em amor.” Efésios 1:3 e 4.

“Como filhos obedientes, não vos conformeis às concupiscências que antes tínheis na vossa ignorância; mas, como é santo Aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento; porquanto está escrito: Sereis santos, porque Eu sou santo.” I Pedro 1:14-16.

É importante destacar que alguns estudiosos da Palavra de Deus reconhecem que o povo de Deus, após a morte do Messias, continuou observando as distinções entre carnes limpas e imundas. No entanto, devido ao equívoco comum de que a Nova Aliança abolira grande parte das leis de Deus, muitos creem que esses requisitos alimentares eram simplesmente práticas culturais judaicas. Essa conclusão de muitos religiosos não se fundamenta nas Escrituras Sagradas, pois, antes da existência de qualquer judeu na face da terra, Deus disse que havia animais limpos e não limpos. Antes do dilúvio Deus disse a Noé o seguinte:

“De todos os animais limpos levarás contigo sete e sete, o macho e sua fêmea; mas dos animais que não são limpos, dois, o macho e sua fêmea.” Gênesis 7:2.

Muitas ideias preconcebidas tiveram forte influência nas interpretações de muitas passagens bíblicas escritas pelos apóstolos após a morte do Messias. Nos círculos teológicos, isso é conhecido como “eisegesis”, ou seja, o ato de injetar ideias equivocadas com intuito de manipular o texto bíblico.

Faz-se necessário examinar os textos bíblicos que tratam sobre o tema em pauta, e assim praticar a “exegesis”, que é a regra correta de interpretação das Escrituras Sagradas, cujo intuito é buscar um entendimento claro das passagens e a sua correta aplicação.



II – QUAIS SÃO AS ORIENTAÇÕES DE DEUS SOBRE A QUESTÃO DOS ANIMAIS LIMPOS E IMUNDOS?

Esse assunto encontra-se registrado em Levíticos 11:1-47 e Deuteronômio 14:1-21.

Todos os animais estão agrupados de acordo com o seu habitat. Dessa forma, são mencionados primeiro os animais ou criaturas que habitam sobre a terra (Levítico 11:2-8); depois os que habitam na água (Levítico 11:9-12); depois as criaturas do ar, ou seja, aquelas que voam (Levítico 11:13-19); posteriormente Deus menciona separadamente os insetos que tem asas (Levítico 11:20-23) e, finalmente, os animais rasteiros, que andam sobre o ventre e outros que têm muitos pés (Levítico 11:41-43).

Deus fez a distinção entre animais limpos e imundos de uma maneira bem simples:


1) Os animais ou criaturas que habitam sobre a terra:

a) São classificados como limpos os que têm unhas fendidas de alto a baixo e ruminam. Exemplo: Alce, Antílope, Bode, Cabra, Ovelha, Carneiro, Boi, Vaca, Touro, Veado, e outros segundo suas espécies.

b) São classificados como imundos os que não têm unhas fendidas e não ruminam; os animais que ruminam, mas não têm unhas fendidas e aqueles animais que têm unhas fendidas e não ruminam. Exemplo: Porco, Lobo, Raposa, Gato, Leão, Onça, Tigre, Cavalo, Jumento, Zebra, Coelho, Esquilo, Macaco, Rato, Tatu, Urso, Lebre, Camelo, e outros segundo as suas espécies.


2) Os animais que habitam na água:

a) São classificados como limpos os que possuem barbatanas e escamas. Exemplo: Atum, Bacalhau, Carpa, Corvina, Pescada, Robalo, Salmão, Sardinha, Tainha, Tilápia, Truta, e outros segundo suas espécies.

b) São classificados como imundos os que não possuem barbatanas e escamas. Exemplo: Tubarão, Lula, Golfinho, Camarão, Lagosta, Mexilhão, Molusco, Ostra, e outros segundo as suas espécies.


3) As criaturas do ar, ou seja, aquelas que voam:

a) São classificadas como aves limpas aquelas que não são de rapina. Exemplo: Codorniz, Galinha, Pardal, Peru, Pombo, e outros segundo as suas espécies.

b) São classificadas como aves imundas aquelas que são de rapina. Exemplo: Águia, Gavião, Corvo, Avestruz, Gaivota, Coruja, Pelicano, Abutre, Cegonha, Garça, Morcego, e outros segundo as suas espécies.


4) Insetos que tem asas:

a) São classificados como limpos aqueles insetos que tem suas patas articuladas acima dos pés, possibilitando-lhes saltar sobre o solo. Exemplo: Gafanhoto, Grilo, e outros segundo as suas espécies.

b) São classificados como imundos os demais insetos que tem asas.


5) Os animais rasteiros, os que andam sobre o ventre e outros que têm muitos pés são classificados como imundos. Exemplo: Cobra, Crocodilo, Lagartixa, Tartaruga, Minhoca, Lagarta, e outros segundo as suas espécies.

6) Muito importante observar o que está escrito em Deuteronômio 14:21:

“Não comam nenhum animal que morreu naturalmente; … Não cozinhem um animal de pouca idade no leite de sua mãe.”

Deus não tem revelado especificamente os motivos pelos quais alguns animais podem ser consumidos e outros devem ser evitados. Sabe-se, no entanto, que essa lei foi dada para o bem daqueles que desejam obedecer ao Criador.

Há certos animais criados por Deus cujo único objetivo é atuar como saneadores de nosso eco sistema. Com certeza Deus está dizendo simplesmente que é melhor para o ser humano não consumir a carne desses coletores de lixo.


III – TEXTOS BÍBLICOS MAL INTERPRETADOS


1. A VISÃO DE PEDRO (Atos 10:11-28)

A visão de Pedro do lençol repleto de animais, limpos e imundos, relatada em Atos 10, tem sido utilizada para provar a autoridade divina para se comer as carnes que foram proibidas ao homem.

Nesta visão o apóstolo Pedro “viu o céu aberto e um objeto descendo, como se fosse um grande lençol, sendo baixado pelas quatro pontas sobre a terra.” (ver Atos 10:11). Neste lençol “havia de todos os quadrúpedes e répteis da terra e aves do céu. E uma voz lhe disse: Levanta-te, Pedro, mata e come.” (ver Atos 10:12 e 13).

Presumindo que a visão significava que ele deveria comer animais imundos, espontaneamente Pedro respondeu: “De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda (ver Atos 10:14).

A mesma visão apareceu três vezes para Pedro (ver Atos 10:16). Neste ponto muitos sinceros cristãos, sem concluir o relato e sem se ater ao contexto, tiram conclusões absurdas. Mas o que diz o contexto do capítulo 10 de Atos?

Atos 10:1 – “E havia em Cesareia um varão por nome Cornélio, centurião da corte chamada italiana”.

Cesareia era um porto marítimo de Saron, construído por Herodes, o grande, no ano 13 aC., residências dos procuradores romanos. Cornélio possivelmente era romano, pois além de cargo militar altamente importante, servia em uma base radicalmente romana. Ele não era judeu. Ele era um gentio e os gentios costumavam ser tratados pelos líderes judeus como homens comuns e imundos. Cornélio, no entanto era um homem diferente:

Atos 10:2 – “Piedoso e temente a Deus, com toda a sua casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e de contínuo orava a Deus.”

Era desprendida a sua devoção e o mais maravilhoso é que Deus atentou para aquele que aos olhos dos líderes judeus não merecia sequer conhecê-lo.

Com a leitura dos versos 3 a 8 conclui-se que o amor de Deus envolveu Cornélio e o prestigiou com a incumbência de um anjo que trazia do Céu, a aprovação para seu gesto caridoso e amante, orientando-o a ir em busca do apóstolo Pedro, dando-lhe o endereço, como cidade, localização da casa, etc.

Assim que o anjo se retirou, Cornélio chamou dois dos seus domésticos e um piedoso soldado dos que estavam a seu serviço. E, havendo-lhes contado tudo, os enviou a Jope.

Atos 10:9 e 10 - “E no dia seguinte, indo eles em seu caminho, e estando já perto da cidade, subiu Pedro ao terraço para orar, quase à hora sexta (meio dia). E tendo fome, quis comer; e enquanto lhe preparavam, sobreveio-lhe um arrebatamento de sentido.”

Quando Deus queria ensinar alguma coisa ao homem, utilizava algo que lhe estivesse afeto. Como Deus desejava transmitir algo sublime e maravilhoso a Pedro, que melhor ilustração utilizaria senão aquilo que estivesse mais intimamente ligado à sua condição no momento, isto é: “comida”. Pedro estava com fome.

Deus preparou Pedro para a grande mensagem. Assim, conforme dizem os versos 11 e 12, Deus mostrou-lhe em visão, o famoso lençol, no qual havia de todos os quadrúpedes e répteis da terra e aves do céu. E Deus declarou: “...levanta-te Pedro, mata e come.” (Atos 10:13). A resposta de Pedro foi rápida e sincera: “...de modo nenhum, Senhor. Porque nunca comi coisa alguma comum e imunda.” Atos 10:14.

Observa-se que cerca de uma década depois da morte do Messias, Pedro continuou fiel e obediente à lei alimentar, pois claramente ele menciona que até aquele momento ele nunca comeu coisa comum e imunda. Os versos 17 e 18 relatam que Pedro estava perplexo e desconcertado com aquela visão. Tentando chegar a uma conclusão e pôr em ordem os seus desencontrados pensamentos, eis que batem à porta. Eram os homens que Cornélio enviara, conforme instruções de Deus. Em meio ao aturdimento de Pedro, Deus avisa-o que três varões o procuravam (ver Atos 10:19) e que ele sem demora, deveria descer e apresentar-se aos estrangeiros, pois fora Deus quem os enviara.

Pedro imediatamente recebeu-os em casa e no dia seguinte tomando alguns irmãos de Jope, rumou para Cesareia, a fim de se encontrar com Cornélio, o qual lhe esperava com os seus parentes e amigos mais íntimos (ver Atos 10:23-24).

Pedro finalmente entendeu o significado daquela visão ao declarar o seguinte:

“E disse-lhes: vós bem sabeis que não é lícito a um varão judeu ajuntar-se ou achegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que A NENHUM HOMEM CHAME COMUM OU IMUNDO.” Atos 10:28.

Então, reconhecendo o verdadeiro intuito da visão, Pedro batizou os primeiros gentios (não israelitas). Vê-se, pois, que essa revelação divina nada tinha a ver com alimentos. Pelo contrário, tinha a ver com pessoas. Como seria bom se muitos dos teólogos da atualidade tivessem a mesma compreensão do apóstolo Pedro.

Foi demonstrado que o Eterno sempre desejava oferecer a salvação a todas as pessoas que tinham o desejo de obedecer à Ele de todo o coração.


2. COMER DE TUDO QUANTO SE VENDE NO AÇOUGUE (I Cor. 10:25)

O texto diz o seguinte:

“Comei de tudo quanto se vende no açougue, nada perguntando por causa da consciência.” I Cor. 10:25.

Este verso bíblico, isolado do seu contexto, tem trazido uma mensagem equivocada. Ao analisar o seu contexto, verifica-se que o foco da questão era: comer ou não comer carnes sacrificadas aos ídolos. O apóstolo Paulo de forma alguma está autorizando os seguidores de Yeshua a comer carnes de animais imundos. Seria inacreditável ele ter apresentado tal ensinamento uma vez que ele era um homem zeloso, hebreu de hebreus, fariseu de fariseus, instruído por Gamaliel, que era mestre e doutor da lei (ver Atos 22:3; 26:4 e 5).

A verdade é que o apóstolo Paulo, ao escrever a carta à igreja em Corinto, tinha total certeza que toda a carne ali vendida era limpa, embora algumas delas tivessem sido oferecidas aos ídolos. Essa conclusão faz sentido pois os açougues administrados pelos servos de Deus seguiam rigorosamente as orientações de Deus quanto às leis alimentares e às regras de abate desses animais.

Outro ponto muito importante a ser considerado é que de acordo com Atos 14:12 e 13 os idólatras sacrificavam touros aos seus deuses, cuja espécie é considerada por Deus como sendo animal limpo (ver Levítico 11:3). Portanto, o fato de esses animais terem sido sacrificados aos ídolos, para o apóstolo Paulo não tinha muita relevância, pois o seu conceito era de que o ídolo nada é (ver I Cor. 10:19). Porém, para não ofender a consciência de alguém que tivesse algum pensamento contrário, o dever é respeitar e não ser uma pedra de tropeço.

Consequentemente, o assunto sob análise trata especificamente sobre o comer carnes que possam ter sido sacrificadas aos ídolos. O apóstolo Paulo não deixa implícito neste texto que a distinção entre carnes limpas e imundas tenha sido abolida. Nem poderia, pois o que Deus disse nas primeiras páginas de Gênesis (ver Gênesis 7:2 e 3), reafirmou no Pentateuco (ver Levítico 11:1-47 e Deuteronômio 14:1-21), reafirmou também ao profeta Isaías (ver Isaías 66:17), confirmou através Yeshua (ver Mateus 13:47-49) e ratificou no Apocalipse (ver Apocalipse 18:2 e 16:13).


IV – CONCLUSÃO

Como se vê, não existem evidências nas Escrituras que indiquem que tenha havido alguma mudança na prática de seguir as instruções de Deus sobre carnes limpas e imundas. Os animais que Deus classificou como imundos há milhares de anos continuarão sendo imundos no presente e no futuro.

De acordo com a Palavra de Deus, no futuro reinado milenar de Yeshua, também não será permitido comer carnes de animais imundos que causam abominação à Deus. Aqueles que insistem em transgredir essa orientação não herdarão a salvação:

“Os que se santificam, e se purificam para entrar nos jardins após uma deusa que está no meio, OS QUE COMEM DA CARNE DE PORCO, E DA ABOMINAÇÃO, E DO RATO, ESSES TODOS SERÃO CONSUMIDOS, diz o Senhor.” Isaías 66:17.

Yeshua fez questão de ressaltar em uma de suas parábolas que há peixes limpos e peixes imundos:

“Igualmente, o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanhou toda espécie de peixes. E, quando cheia, puxaram-na para a praia; e, sentando-se, puseram os bons em cestos; os ruins, porém, lançaram fora.” Mateus 13:47 e 48.

Os judeus, incluindo Yeshua e seus discípulos, não consideravam a carne imunda como uma possível fonte de alimento. Não há uma única passagem bíblica autorizando o povo de Deus a comer “carne imunda”. Tal ideia evidentemente está ausente nas Escrituras Sagradas. Deus é coerente e imutável:

“Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em Quem não há mudança nem sombra de variação.” Tiago: 1:17.

Para o povo de Deus, desejar violar a lei de Deus que trata sobre carnes limpas e imundas, seria impensável.

O verdadeiro servo de Deus deverá refletir sobre as palavras do apóstolo Paulo: “Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo.” I Coríntios 6:19 e 20.