Jesus e o Sábado

Questões Bíblicas – Perguntas e Respostas (Parte VIII)

PERGUNTA:
Houve porventura alguma ordem para se guardar o sábado dada diretamente pelo Filho de Deus ou por algum escritor do Novo Testamento? E o fato de Cristo curar no dia de sábado não é uma clara indicação de Ele ter revogado esse mandamento de Deus?

RESPOSTA:

Mesmo que afirmássemos não haver ordem direta alguma quanto à observância do sábado no Novo Testamento, isto não mudaria nada, pois, acaso falou Deus apenas por intermédio dos escritores do Novo Testamento? Não falou Deus também por meio dos antigos profetas?

O apóstolo Pedro, um dos escritores do Novo Testamento, deixou registrado que os profetas foram impelidos a apresentar as verdadeiras mensagens da parte de Deus (ver II Pedro 1:19-21). Como explicar a declaração de Paulo, quando afirmou que “toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.” II Timóteo 3:16 e 17.

Não há lógica que a observância do sábado devesse ser cumprida apenas pelo povo de Israel. A plausibilidade desta questão reside no fato de que o mandamento do sábado foi proclamado de viva voz do cume do Sinai, destinado a uma multidão composta principalmente de israelitas. E deste fato muitos cristãos tiram a estranha conclusão de que os gentios não estão sob a obrigação de guardar este santo dia. Como pensariam muitos sinceros cristãos sobre o episódio ocorrido com os três discípulos, Pedro, Tiago e João, todos eles judeus? Eles estavam com Cristo no monte da transfiguração e em seguida veio uma voz do Céu, dizendo: “Este é Meu amado Filho; a Ele ouvi.” Lucas 9:35. Deve-se, então, compreender daí que esta ordem do Pai, de “ouvir” a Cristo devesse ser obedecida unicamente por aqueles três discípulos, ou, quando muito, unicamente pela raça judia, da qual faziam parte? Seria estranho, não é mesmo? Esta seria uma conclusão totalmente irrazoável. Não se pode negar que todos os profetas bíblicos foram judeus. O próprio Cristo tomou a descendência de Abraão (ver Hebreus 2:16) e andou na Terra como judeu. Os próprios apóstolos eram judeus. E Jesus mesmo declarou: “A salvação vem dos judeus.” João 4:22. Seria correto, então, concluir que os profetas bíblicos, os apóstolos, o Salvador e a salvação, devesse tudo ser limitado aos judeus? Qualquer pessoa que resolvesse seguir um falso raciocínio como este, incorreria num grave erro.

O mandamento do sábado foi dado por escrito em tábuas de pedra pelo próprio Deus, tendo sido revigorado por todos os antigos profetas e em parte alguma foi rejeitado ou anulado pelo Filho de Deus e nem por Seus apóstolos.

O próprio Senhor Jesus reconheceu que o sábado foi feito para toda a humanidade: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.” Marcos 2:27.

Durante todo o Seu ministério terrestre, Jesus deu-nos o exemplo quanto à fiel observância do sábado. Ele, na verdade, teve de corrigir a maneira de observar o dia de descanso estabelecido por Deus, livrando o mandamento dos excessos que os fariseus lhe haviam imposto. Era o que faziam também com respeito a outros mandamentos (ver Marcos 7:9-13). Caso Ele tivesse transgredido este mandamento, não poderia ser o prometido Messias. Ele teria transgredido a lei de Deus e estaria em contradição com as Suas próprias palavras registradas em João 15:10: “Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai, e no Seu amor permaneço.” Era Seu costume neste dia ensinar e participar das atividades de adoração:

“Chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou na sinagoga no dia de sábado, segundo o Seu costume, e levantou-Se para ler.” Lucas 4:16.

“Então desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e os ensinava no sábado.” Lucas 4:31 (ver também Marcos 1:21).

Ao identificar-Se com o sábado, Cristo estava cumprindo a Sua missão de Messias, particularmente através do Seu ministério aos sábados. Esta atitude de Cristo levanta importantes questões: Como considerou Jesus a observância do sábado? Será que Ele confirmou para Seus seguidores a validade de tal instituição como a inquestionável vontade de Deus?

O episódio de cura de um homem com a mão ressequida, narrado por todos os três evangelistas (Mateus 12:9-21; Marcos 3:1-6: Lucas 6:6-11) é o ponto de prova pelo qual Cristo começa Suas reformas quanto ao verdadeiro significado da observância do sábado. Jesus encontra-Se na sinagoga diante de um homem com uma mão paralisada. Estavam ali também os escribas e fariseus, não para adorar a Deus, mas para inspecionar Cristo e “ver se o curaria em dia de sábado, a fim de O acusarem” (ver Marcos 3:2). De acordo com Mateus, eles dirigiram à Cristo a probante pergunta: “É lícito curar no sábado?” (ver Mateus 12:10). A dúvida deles não era motivada por uma genuína preocupação pelo homem enfermo. Em vez disso, estavam ali para julgar Cristo com base nas minúcias e regras casuísticas elaboradas pelos rabinos. Lendo seus pensamentos, Cristo Se entristece com a dureza de seus corações (ver Marcos 3:5). No entanto, aceita o desafio. Primeiro Ele convida o homem para se aproximar, dizendo: “Vem para o meio” (ver Marcos 3:3). Este passo possivelmente destinou-se a despertar simpatia para com o homem enfermo e ao mesmo tempo para cientificar a todos do que Ele estava por fazer. Então perguntou aos especialistas da lei: “É lícito nos sábados fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou tirá-la?” (ver Marcos 3:4). Para tornar a pergunta mais direta, de acordo com o relato de Mateus, Cristo acrescentou uma segunda, na forma de uma parábola: “Qual dentre vós será o homem que, tendo uma só ovelha, se num sábado ela cair numa cova não há de lançar mão dela e tirá-la? Ora, quanto mais vale um homem do que uma ovelha? Portanto, é lícito fazer bem aos sábados.” (ver Mateus 12:11-12).

Estas declarações levantam um importante debate. Pretendeu Cristo abolir radicalmente o mandamento do sábado ou quis restaurar seus divinos valores e funções originais?

Se é correto fazer o bem e salvar no sábado, então qualquer recusa de fazê-lo significa fazer o mal ou matar. A obrigação de amar o Criador e amar o próximo é a essência da história do sábado. Infelizmente a observância da ritualística do sábado era mais importante para os escribas e fariseus do que uma resposta espontânea ao clamor das necessidades humanas. O episódio acima é um bom exemplo desta perversão, contrastando dois tipos de guardadores do sábado. De um lado ficou Cristo, condoído com a dureza dos corações de Seus acusadores e dando passos para salvar a vida de um homem defeituoso (ver Marcos 3:4-5). Do outro lado ficaram os especialistas da lei que, embora estando no lugar de adoração, gastaram seu tempo no dia de sábado “observando a Jesus... a fim de O acusarem... conspiravam em como Lhe tirar a vida.” (ver Marcos 3:2 e 6). Pense bem! A narrativa não trata da questão se o sábado deve ou não deve ser observado como dia de repouso. Com o acúmulo das tradições por parte dos escribas e fariseus, em muitos casos a função original do sábado estava obscurecida. Em outra oportunidade o Senhor Jesus chamou a atenção dos líderes judaicos sobre as tradições, as quais continham mandamentos de homens e não de Deus (ver Mateus 15:3 e Marcos 7:6-8). Não há dúvida alguma que Jesus sabia distinguir o falso do verdadeiro. A questão envolvia a correta observância do sábado e o objetivo de Cristo era legitimar a guarda desse dia sagrado e restaurá-lo às suas intenções originais.

Outro episódio que tinha como objetivo a valorização espiritual da guarda do sábado, apresenta a cura de uma mulher enferma que por dezoito anos andava encurvada, tendo sido relatado apenas por Lucas (ver Lucas 13:10-17). A atitude de Cristo ao declarar que a mulher estava livre da sua enfermidade (ver Lucas 13:12), fez a mulher endireitar-se imediatamente e dar glória a Deus, diante das palavras de Cristo. A reação imediata do chefe da sinagoga destacou o contraste entre a predominante perversão do sábado, de um lado, e do outro lado, o esforço de Cristo para restaurar ao sábado o seu verdadeiro significado. Disse o chefe da sinagoga: “Seis dias há em que se deve trabalhar, vinde, pois, nesses dias para serdes curados.” (ver Lucas 13:14). Para ele a cura era uma obra imprópria para o sábado, considerando o santo dia como uma regra a obedecer em vez de priorizar o amor pelas pessoas. A obra de Cristo visava restaurar o ser humano como um todo e seguindo esta linha de raciocínio, não havia melhor dia que o sábado para realizar este ministério redentor. Em resposta ao chefe da sinagoga e aos demais oponentes que o acompanhavam, Cristo fez a seguinte indagação: “Hipócritas, cada um de vós não desprende da manjedoua no sábado o seu boi ou o se jumento, para levá-lo a beber?” Lucas 13:15. É importante ressaltar que dar água a um animal no sábado não está incluido na mesma categoria de emergência quando comparado com o resgate de uma ovelha caída em uma cova (ver Mateus 12:11). A resposta de Cristo tinha como objetivo chamar a atenção para este pervertido senso de valores, ou seja, que a perda financeira derivada de negligenciar um animal no sábado era mais importante para alguns do que suprir as prementes necessidades dos seres humanos, cujo resultado não trazia nenhum retorno financeiro. Com intuito de chamar a atenção de como o sábado havia sido paradoxalmente distorcido, Cristo lhes faz mais uma pergunta: “Por que motivo não se devia livrar deste cativeiro em dia de sábado esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito anos?” Lucas 13:16. A perversão praticada com base nas tradições havia chegado a tal ponto, que um boi ou um jumento podiam ser libertados de sua manjedoura no sábado, mas uma mulher sofredora não podia neste dia ser curada de sua enfermidade física e espiritual. Deve-se notar que neste e em todos os exemplos Cristo não questionou a respeito da obrigatoriedade do mandamento do sábado, e sim destacou seus reais valores, que tinham sido bastante esquecidos.

“O Paralítico e o Cego” (ver João 5:1-18; João 9:1-41), ilustram igualmente a valorização espiritual da guarda do sábado, como mandamento de Deus. Os dois homens que haviam sido curados por Cristo, sofriam de uma doença crônica: um, inválido por 38 anos (ver João 5:5) e o outro, cego de nascença (ver João 9:2). Nos dois casos Cristo disse aos homens para agirem. Ao inválido Ele disse: “Levanta, toma a tua cama e anda.” João 5:8; e ao cego: “Vai, lava-te no tanque de Siloé” João 9:7. Em ambos os casos os fariseus acusaram Cristo formalmente de desobediência na guarda do sábado e especificamente no caso da cura do cego, consideraram isto como uma evidência de que Ele não era o Messias: “Esse homem não é de Deus, porque não guarda o sábado.” João 9:16. Percebe-se que nas duas situações, a acusação contra Cristo não envolvia primariamente a ação da cura em si, mas a violação das leis rabínicas do sábado, quando ordenou que o paralítico levasse a sua cama (ver João 5:8 e 10); e quando preparou o barro (ver João 9:6 e 14). Nos dois exemplos Cristo cumpriu a Sua missão profética como Messias, que era “proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos.” Lucas 4:18.

Muitos sinceros cristãos não conseguem extrair das próprias palavras de Jesus os fundamentos no tocante à santidade do sábado. Ao falar a respeito da perseguição que ocorreria após Sua ascensão, Ele deu os seguintes conselhos aos Seus discípulos a esse respeito:

“Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado.” Mateus 24:20.

Ter de fugir no sábado, interromperia a calma daquele santo dia. Ora, a destruição de Jerusalém não teve lugar senão quarenta anos mais tarde. Por todo esse tempo o Senhor Jesus orientou aos Seus discípulos que, ao orarem, conservassem o sábado em suas mentes. Como poderia Cristo ter abolido a observância do sábado, se os Seus discípulos deviam tê-lo sempre em memória em suas orações?

Tem-se a certeza que todos os escritores do Novo Testamento, sempre quando mencionam o sábado, não deixam transparecer em nenhum caso que ele houvesse perdido a santidade que o distinguia. Os muitos relatos bíblicos confirmam que tanto Cristo como os apóstolos pregavam ou adoravam aos sábados, como se esse procedimento fosse o mais natural. Há um fato marcante a ser destacado, que ocorreu após Jesus ter sido sepultado. Diz o relato bíblico que “as mulheres que tinham vindo com Ele da Galiléia, seguindo a José, viram o sepulcro, e como o corpo foi ali depositado. Então voltaram e prepararam especiarias e unguentos. E no sábado repousaram, conforme o mandamento” Lucas 23:55 e 56. Estas mulheres certamente acompanharam o Mestre Jesus durante o período de Seu ministério e absorveram todos os Seus ensinamentos, inclusive com relação à correta observância do sábado.

A conclusão é incontestável: JESUS, O VERDADEIRO MESSIAS, NÃO ABOLIU O MANDAMENTO DO SÁBADO.