VERDADE EM FOCO

PERGUNTA:

Pedro foi o primeiro papa?


RESPOSTA:

Em muitos círculos cristãos pretende-se defender o pontificado do apóstolo Pedro, com as alegações de natureza exclusivamente tradicional, que ele foi o primeiro papa, também denominado como bispo de Roma ou pontífice romano.

Para que o assunto seja plenamente compreendido é necessário um profundo estudo de todas as passagens bíblicas relacionadas ao referido tema. A base de toda a doutrina e crença religiosa são as Escrituras Sagradas, as quais darão termo a toda discussão doutrinária. Havendo dificuldade para a sua interpretação e havendo passagens obscuras, estas se explicam pelas próprias Escrituras, não havendo necessidade de qualquer auxílio estranho, mesmo sendo uma entidade eclesiástica qualquer autorizada para tal.

O principal texto sobre o qual pretende-se apoiar a ideia do pontificado do apóstolo Pedro e seu pretenso direito a ele conferido por Jesus Cristo, encontra-se registrado em Mateus 16:16-19:

“Simão Pedro, respondendo disse: Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo. Jesus respondeu-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isso, sim o meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha igreja, e as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus.”


I – A PEDRA SOBRE A QUAL FOI EDIFICADA A IGREJA

De acordo com o texto bíblico apresentado acima, seria o apóstolo Pedro verdadeiramente a pedra fundamental da igreja? Seria possível confirmar esta interpretação através outros textos das Escrituras Sagradas?

Para se ter uma resposta plausível e que esteja em conformidade com os claros ensinos da Palavra de Deus, requer-se um aprofundamento maior para que o assunto seja totalmente esclarecido.

Há vários textos bíblicos muito esclarecedores, que lançam luz sobre este assunto. Eis alguns:

“Então Pedro, cheio do Espírito Santo, disse-lhes: Líderes e anciãos do povo! Se somos chamados hoje para prestar contas de um ato de bondade feito a favor de um deficiente, se vocês desejam saber como lhe foi restaurada a saúde, saibam vocês e todo o povo de Israel que por meio do nome do Messias, Jesus de Nazaré, a quem vocês executaram em uma estaca como criminoso, mas a quem Deus ressuscitou dos mortos, este homem está aí diante dos senhores curado. Este Jesus é a PEDRA rejeitada por vocês, construtores, que se tornou a PEDRA angular.” Atos 4:8-11.

“E, chegando-vos para ele, PEDRA viva, rejeitada na verdade , pelos homens, mas, para com Deus eleita e preciosa, vós também, quais pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Jesus Cristo. Por isso, na Escritura se diz: Eis que ponho em Sião uma PRINCIPAL PEDRA ANGULAR, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os que credes, é a preciosidade; mas para os descrentes, a PEDRA que os edificadores rejeitaram, esta foi posta como a principal da esquina, e: Como uma PEDRA de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados.” I Pedro 2:4-8.

“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a PRINCIPAL PEDRA DA ESQUINA; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo do Senhor.” Efésios 2:20 e 21.

“Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é JESUS CRISTO.” I Coríntios 3:11.

Diante destas afirmações, deduz-se que todos os apóstolos, de igual maneira, foram os primeiros que concorreram para a edificação espiritual do povo de Deus, firmados na pedra angular, Jesus, o Filho de Deus. E não poderia ser diferente, pois a igreja jamais poderia ser solidamente edificada sobre Pedro, que, embora tenha sido um grande apóstolo, foi, no entanto, falível e passível de erros, como demonstra o contexto imediato da passagem bíblica sob análise:

“Ele (Jesus), porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo porque não estás pensando nas coisas que são de Deus, mas sim nas que são dos homens.” Mateus 16:23.

Assim, Cristo não estava falando de Pedro como sendo a pedra, mas sim de si mesmo, baseado na resposta que o apóstolo Pedro havia dado e que faz parte deste contexto:

“Mas vós, perguntou-lhes Jesus, quem dizeis que eu sou? Respondeu-lhe Simão Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” Mateus 16:15 e 16.

A verdade é que a igreja está edificada sobre a confissão de que ele (Jesus) é o Messias, filho do Deus vivo.

É muito importante enfatizar que se Pedro fosse a principal pedra de esquina, Cristo teria dito: “sobre ti edificarei a minha igreja.” Este mesmo episódio foi relatado por Marcos (Mc 8:27-30) e Lucas (Lc 9:18-22), sendo que ali nada consta ter Cristo conferido à Pedro a responsabilidade de ser a pedra angular da igreja. Sabe-se, com base na Palavra de Deus, que unicamente Cristo é a cabeça da igreja e não um líder eclesiástico escolhido por homens falíveis (ver Efésios 5:23; Colossenses 1:18).


II – AS CHAVES DO REINO DOS CÉUS

Há também a afirmação que o apóstolo Pedro foi o único que teria recebido as chaves do reino dos céus. Esta falsa interpretação está sendo baseada segundo o texto de Mateus 16:19:

“Eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.”

Esta não é uma prerrogativa única concedida ao apóstolo Pedro, pois Jesus mais adiante, falando ao grupo dos discípulos, pluralizou a expressão, dizendo:

“Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no Céu.” Mateus 18:18.

Acrescenta-se ainda a mensagem de Jesus à sua igreja, na qual ele se auto denomina como “santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre.” Apocalipse 3:7.

Quão tendenciosas são as declarações de muitos teólogos ao afirmarem que eles têm a autoridade de abrir e fechar ou ligar ou desligar as pessoas do reino eterno. Diante de tantas conclusões falsas, como entender o verdadeiro sentido da declaração de Jesus encontrada em Mateus 16:19? Tudo é muito simples. Quando o povo de Deus prega o evangelho eterno, abre-se a possibilidade de as pessoas encontrarem o caminho para a salvação. Quando, porém, não for pregado o evangelho eterno, fecha-se esta possibilidade. Isto fica muito claro quando Cristo advertiu os fariseus:

“Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque fechais aos homens o reino dos céus; pois nem vós entrais, nem aos que entrariam permitis entrar.” Mateus 23:13. (ver também Lucas 11:52).

Quando o povo de Deus anuncia o autêntico evangelho, sem mistura e nem alterações, abre-se para as pessoas o caminho para a salvação. Por outro lado, quando a verdade de Deus é misturada com o erro, fecha-se esta oportunidade.

Lembre-se o que Jesus disse: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá, e achará pastagens.” João 10:9.


III – PEDRO NÃO TINHA A SUPREMACIA SOBRE A IGREJA

Quando os discípulos perguntaram a Jesus: “Quem é o maior no reino dos céus?” (Mateus 18:1), ele não se aproveitou da ocasião para estabelecer a superioridade do apóstolo Pedro, mas antes disse que deviam ser todos como meninos humildes, sem pretensão a títulos de grandeza. Basta ler todo o seu contexto.

Em outra ocasião Jesus instruiu os discípulos a respeito desse mesmo assunto:

“Jesus, pois, chamou-os para junto de si e lhes disse: Sabeis que os governadores dos gentios os dominam, e os seus grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva.” Mateus 20:25 e 26.

O grande encargo de Jesus a seus discípulos, antes da ascensão, foi: “Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-as...” (Mateus 28:19). O encargo foi dado de maneira uniforme; o poder dado é o mesmo para todos, e com todos estaria Jesus, de igual maneira, para dirigi-los, e não por intermédio de um líder eclesiástico.

No livro de Atos, em que se relata a atuação dos apóstolos na pregação do evangelho eterno, nada foi escrito sobre esta suposta posição do apóstolo Pedro como cabeça da igreja. No entanto, neste livro observa-se apenas o fato de que todos exerceram as mesmas posições em nível de igualdade.

No primeiro capítulo do livro de Atos vê-se que não foi Pedro quem nomeou a pessoa que devia tomar o lugar vago com a morte do traidor Judas, mas foi a coletividade dos fiéis (ver Atos 1:15-26).

Outra passagem concludente do livro de Atos diz o seguinte:

“Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, tendo ouvido que os da Samária haviam recebido a palavra de Deus, enviaram-lhes Pedro e João.” Atos 8:14.

Com base neste texto, conclui-se que o apóstolo Pedro foi enviado por seus irmãos, porque se ignorava totalmente a hierarquia que hoje se exerce em muitas instituições religiosas.

Nas epístolas de Paulo nota-se que o apóstolo aos gentios ignorava totalmente a autoridade supostamente atribuída ao apóstolo Pedro. Disse ele aos coríntios:

“...visto que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos; ainda que nada sou.” II Coríntios 12:11.

Esta expressão denota igualdade entre os apóstolos. O apóstolo Pedro não era uma pedra inabalável e nem era superior aos demais apóstolos. Ele foi um homem enviado por Deus, assim como os demais apóstolos, para consolidar os rumos da igreja primitiva.


IV - CONCLUSÃO

Jesus Cristo é o fundamento e a cabeça da igreja. Sob a direção de Deus, ele pode assegurar a vitória de seu povo contra as investidas do inimigo, e pode assegurar a vitória e exaltação de todo aquele que se coloca ao lado da verdade, assim como fizeram os apóstolos, ao depositarem n'ele a fé e com humildade realizaram suas tarefas com amor.