A Mensagem à Igreja em Laodicéia
As Sete Igrejas do Apocalipse (Parte VII)
I – INTRODUÇÃO
A cidade de Laodicéia estava situada no vale banhado pelo rio Lico, antiga região do centro da Ásia Menor. Originalmente chamada de Dióspolis ou cidade de Zeus, depois Rhoas e posteriormente ao ter sido ampliada e engrandecida por Antíoco II Theos, rei da Síria, a cidade mudou o seu nome para Laodicéia, em homenagem de sua esposa Laodice. Atualmente Denizli é a sucessora de Laodicéia, situada no que hoje é a aldeia de Eski Hissar, na Turquia, local onde podem ser vistas as ruínas históricas de sua passada grandeza.
A cidade era tradicionalmente denominada como “Cidade de Banqueiros e Finanças”, por causa dos seus grandes mercados, suas grandes casas de câmbio e de seus grandes interesses manufatureiros. Como conseqüência os seus cidadãos eram orgulhosos, arrogantes e satisfeitos consigo mesmos.
Perto da cidade havia um bom número de fontes de água mineral fria, quente e morna. Acreditavam que as águas possuíam propriedades curativas. E, conquanto fossem agradáveis para banho, as águas mornas eram de sabor desagradável e produziam náuseas. Os banhos mornos e as fontes minerais atraíam muitos visitantes da Europa e da Ásia.
Nos dias em que a mensagem do Apocalipse foi escrita, realmente existiu uma igreja cristã na cidade de Laodicéia. Considerando as características desta cidade, ela foi escolhida para representar simbolicamente a sétima e última etapa histórica vivida pelo verdadeiro povo de Deus, cabendo a este povo a grande responsabilidade de pregar ao mundo o Evangelho Eterno, nestes derradeiros momentos que antecedem a volta de Jesus em poder e grande glória.
II – COMO CRISTO SE APRESENTA À IGREJA EM LAODICÉIA
“Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus.” Apocalipse 3:14.
Jesus identifica-Se como “testemunha fiel e verdadeira”, significando que a Sua vida tinha como base dar testemunho do verdadeiro caráter de Deus, Seu Pai. Um exemplo a ser seguido pelo povo de Deus. No início do livro do Apocalipse foi introduzida uma frase chave que resume a revelação de Deus ao Seu povo e Sua revelação através Jesus Cristo como uma unidade indivisível: “A Palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo” (Apocalipse 1:2). Por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus o profeta João foi levado preso à ilha de Patmos (Apocalipse 1:9). No passado muitos fiéis servos de Deus morreram por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus, por não aceitarem as falsas doutrinas que lhes eram impostas pela Igreja de Roma (Apocalipse 20:4).
Em seguida Jesus declara ser “o princípio da criação de Deus”. No original grego lê-se esta frase da seguinte forma: “ho ARCHÉ tes ktiseos tou Theou”. A palavra “ARCHÉ” pode ser corretamente vertida por ORIGEM, PRINCÍPIO. Então teríamos o texto assim: “A origem da criação de Deus”. A que criação se refere o texto? Ao nosso planeta terra, ao cosmos e a toda forma de vida? Com certeza não.
A Palavra de Deus nos informa que Yahveh sozinho criou a Terra, o cosmos e deu origem à vida em todas as suas formas. Isto está claramente revelado em Isaías 44:24, que diz: “Assim diz Yahveh, teu redentor, e que te formou desde o ventre: Eu, Yahveh, é que tudo fiz, que sozinho estendo os céus, e espraio a terra.(com efeito, quem estava comigo?).”
Está registrado que há um só personagem que “SOZINHO” e sem a ajuda de ninguém criou tudo. Seu nome é YAHVEH. Mas será que o YAHVEH do Antigo Testamento é o Jesus Cristo do Novo Testamento? O texto de Salmos 110:1 nega energicamente esta possibilidade:
“De Davi, um Salmo. Assim disse Yahveh a meu Rei: Assenta-te à Minha direita, até que Eu ponha teus inimigos como escabelo de teus pés.” Salmos 110:1.
Neste texto o profeta Davi apresenta um fato que ocorreria aproximadamente mil anos depois, quando Yahveh, o Criador dos Céus e da Terra, convida a Jesus, após a Sua ascensão, a sentar-Se à Sua direita. Muitos textos do Novo Testamento tratam sobre esse assunto: (ver Mateus 22:44; 26:64; Marcos 12:36; 14:62; 16:19; Lucas 20:42-44; 22:69; Atos 2:34-35; 7:56; Romanos 8:34; 1 Coríntios 15:25; Efésios 1:20; Colossenses 3:1; Hebreus 1:3, 13; 8:1; 10:12-13; 12:2).
No livro de Isaías, Yahveh, o Criador dos Céus e da Terra fala a respeito do Seu escolhido Servo, que Ele enviará para trazer justiça às nações, para abrir os olhos dos cegos e sobre o qual prometeu por o Seu Espírito, indicando tratar-se de Jesus Cristo (ver Isaías 42:1-7 e Mateus 12:14-20). Está, pois, comprovado biblicamente que Jesus Cristo não é o Yahveh do Velho Testamento.
Como então Jesus pode ser o princípio e/ou originador da criação de Deus? A resposta é que há duas criações:
a) A primeira é a material, isto é, a criação da Terra, do cosmos e de toda a forma de vida. Nesta criação Yahveh, o Deus Todo Poderoso, agiu sozinho.
b) A segunda é a espiritual. Jesus, graças à Sua vitória sobre o pecado, passa a ser o originador da criação espiritual de Deus, transformando as pessoas em novas criaturas. Os textos a seguir são usados em relação à obra de Cristo no sentido regenerativo:
“Porque somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas.” Efésios 2:10.
“Pois nem a circuncisão, nem a incircuncisão é coisa alguma, mas sim o ser uma nova criatura.” Gálatas 6:15.
“Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” II Coríntios 5:17.
III – UMA CARTA COM GRAVES DENÚNCIAS
“Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente, oxalá foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da Minha boca. Porquanto dizes: “Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; aconselho-te que de Mim compres ouro refinado no fogo, para que te enriqueças; e vestes brancas, para que te vistas, e não seja manifesta a vergonha da tua nudez; e colírio, a fim de ungires os teus olhos, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te.” Apocalipse 3:15-19.
Com muita tristeza o Mestre Jesus faz uma grave denúncia como jamais fizera contra a Sua igreja em toda a sua história. Esta mensagem se aplica ao povo de Deus que professa crer nas Escrituras Sagradas, porém, vive numa condição de indolência, de torpor e de letargia espiritual.
O falso zelo de muitos tem ajudado o inimigo a debilitar e desalentar aqueles a quem Deus está conduzindo para pregar o Evangelho Eterno. Professam amar a verdade, mas são deficientes na devoção e na prática do amor para com o próximo. Não são nem frios e nem quentes. Eles ocupam uma posição neutra. Por essa razão tornam-se repulsivos e, semelhante à água morna da cidade de Laodicéia que causava náuseas, vômitos, assim, repugnando a sua condição, o Senhor Jesus ameaça vomitá-los de Sua boca.
A pretensão de ser o que em realidade não é, tem sido a causa real do doloroso estado de Laodicéia. Ao contemplar-se através um falso prisma, esta igreja julga ter tudo e que nada lhe falta. Orgulha-se de pertencer à pura linhagem dos apóstolos e de ser a legítima depositária da verdadeira luz para o século atual. No entanto, a “Testemunha Fiel” lança-lhe em rosto cinco evidentes fatos que testificam veementemente contra a sua arrogância por querer exaltar pretensões que jamais poderão salvá-la. Os vocábulos: “desgraçado, miserável, pobre, cego e nu”, expressam a sua verdadeira condição espiritual.
Juntamente com a reprimenda e a censura, o amado Salvador envia à igreja os remédios necessários, os quais teriam que ser comprados exclusivamente dEle. São eles:
1. Ouro refinado no fogo
O ouro que é refinado no fogo não possui impurezas. E quanto mais puro, mais valioso ele é. O apóstolo Pedro em sua epístola diz que a nossa fé, tal como o ouro, deverá ser provada no fogo (I Pedro 1:7). Ao passar pelo fogo das provações e ser enriquecido pelo poder de Deus, o Seu povo é aconselhado a ser como ouro refinado, ou seja, viver uma vida pura e consagrada a Ele.
2. Vestes brancas
O fato de Jesus sugerir aos cristãos do período de Laodicéia que comprem dEle vestimentas brancas para se vestirem, denota ausência destas vestimentas em suas vidas. Não é da vontade de Jesus que o fiel remanescente persista na falta desta preciosa vestimenta, pois ela representa a pureza de caráter e a justiça de Cristo. Lamentavelmente a justiça do homem é como trapos de imundícia (Isaías 64:6).
Em uma das visões do futuro reino de Deus, o profeta João viu uma grande multidão de salvos, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, que estavam em pé diante do trono de Deus, trajando compridas vestes brancas, as quais foram lavadas e branqueadas no sangue do Cordeiro (Apocalipse 7:9-14).
Estar vestido com as vestes da justiça de Cristo é quando o nosso coração se une ao Seu coração; quando o nosso desejo confunde-se com o Seu desejo e quando a nossa mente torna-se uma com a Sua mente.
Para aqueles que aguardam ansiosamente a vinda do Messias, um precioso lembrete:
“Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia, e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua nudez.” Apocalipse 16:15.
3. Colírio para os olhos
O colírio oferecido por Jesus aos arrogantes laodicenses é para ungir os seus olhos, os quais necessitam não só de uma visão física, mas de uma visão espiritual clara que os habilitem a discernir entre o falso e o verdadeiro e que reconheçam o pecado sob qualquer disfarce (Ezequiel 44:23). Esse colírio é o poder de Deus que comunicará claridade ao entendimento daqueles que buscam profundamente a verdade e desejam harmonizar suas vidas com os princípios das Escrituras Sagradas.
IV - CONCLUSÃO
“Eu repreendo e castigo a todos quantos amo, sê pois zeloso, e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo. Ao que vencer, Eu lhe concederei que se assente comigo no Meu trono; assim como Eu venci, e Me assentei com Meu Pai no Seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” Apocalipse 3:19-22.
O Senhor Jesus declara que ama a todos, embora acuse os faltosos por sua arrogância e por seu lamentável estado de letargia espiritual. A repreensão e castigo são revelados na Palavra de Deus como prova de amor (Hebreus 12:6).
O propósito da mensagem à igreja em Laodicéia não é condená-la, mas salvá-la. O verdadeiro objetivo é despertar em cada coração o genuíno arrependimento e o verdadeiro amor.
Ao Jesus bater à porta do coração de cada pessoa, fica claro o fato de que o Seu chamado é individual. Abrir ou não abrir a porta do coração aos apelos do amado Mestre reforça o entendimento do livre arbítrio do ser humano. Jesus oferece a salvação a todos, mas cada pessoa toma sua própria decisão.
A expressão “entrarei na sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” sugere uma relação especial de estar de acordo ou em comunhão.
Quando Cristo voltar e estabelecer o Seu reino na Terra, será concedido aos vencedores a honra de reinarem com Ele durante mil anos (ver Apocalipse 2:26 e 27; 5:9 e 10; 20:4). Tal privilégio não será para os orgulhosos e auto-suficientes, mas para os humildes e obedientes. Esta promessa é a maior e a mais importante de todas.
Apesar de todas as deficiências e dificuldades enfrentadas pelo povo de Deus, escrito está que a grande e final missão de proclamar o Evangelho Eterno está irrevogavelmente conectada ao período histórico da sétima igreja-Laodicéia. Somente aqueles que abrirem os seus corações e permitirem ser transformados espiritualmente pelo Senhor Jesus em novas criaturas, estarão aptos a cumprir o seguinte desafio:
“E este evangelho do reino será pregado no mundo inteiro, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.” Mateus 24:14.