A Mensagem à Igreja em Éfeso
As Sete Igrejas do Apocalipse (Parte I)
I – INTRODUÇÃO
Faz-se necessário primeiramente fazer uma breve abordagem a respeito do significado das sete igrejas apresentadas no livro do Apocalipse. É que dentre as muitas congregações que existiam na Ásia Menor, atual Turquia, sete foram citadas no livro do Apocalipse para representarem simbolicamente as fases pelas quais passaria o verdadeiro povo de Deus, desde a era apostólica até o segundo advento de Cristo. O apóstolo João escreveu a estas igrejas quando se achava exilado em Patmos, uma ilha rochosa situada no mar Egeu. Os romanos usavam este lugar como desterro de criminosos. João foi levado para lá, não por ter praticado algum crime, mas por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo (Apocalipse 1:9). O exílio de João aconteceu aproximadamente em 95 ou 96 d.C., no ano décimo quarto do reinado de Domiciano, Imperador Romano.
Estas sete igrejas é uma representação profética da trajetória do povo de Deus depois de Cristo, devendo ser consideradas como constituindo um todo completo. São elas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia.
O termo “igreja” é mal interpretado pela maioria dos estudiosos da Palavra de Deus. Este termo não se refere a uma determinada organização religiosa devidamente constituída, vinculada ao Estado, e nem é identificada por alguma placa. A verdadeira “igreja” de Deus é um organismo, formada por pedras vivas (I Pedro 2:5), pedras estas edificadas como casa espiritual para serem um sacerdócio santo e que formam individualmente o corpo de Cristo (Romanos 12:5; I Coríntios 12:27). O livro do Apocalipse identifica este povo simplesmente por sua obediência a Deus e por sua fé em Jesus (Apocalipse 12:17 e 14:12). A verdadeira igreja de Deus é guiada por Jesus Cristo, sendo Ele a cabeça da igreja (Efésios 5:23; Colossenses 1:18). Ela não é dirigida por homens falíveis e pecadores. Infelizmente em muitas organizações religiosas é estabelecida uma hierarquia eclesiástica centralizadora, cujo sistema contraria os ensinamentos da Palavra de Deus. A necessidade de sete cartas bem diferentes reforça a importância de respeitar a autonomia de cada congregação.
Cristo se dirige ao povo de Deus com palavras de elogios, censuras, exortações, advertências e promessas. Estas palavras nada mais são do que mensagens com intuito de produzir a edificação espiritual de todos aqueles que desejam servir de todo o coração ao único e verdadeiro Deus.
A trajetória da Igreja de Deus desde a era apostólica foi marcada por grandiosos desafios. Apostasia, perseguições e mortes foram os grandes obstáculos para o pequeno remanescente povo de Deus que decidiu manter-se fiel às Escrituras Sagradas.
Ao Jesus dizer: “conheço as tuas obras” (Apocalipse 2:2, 19; 3:1, 8, 15), “conheço a tua tribulação” (Apocalipse 2:9), “sei onde habitas” (Apocalipse 2:13), indica que nada podemos esconder dEle. Todas as nossas ações, propósitos e palavras são por Ele tão distintamente acompanhados como se houvesse unicamente um indivíduo em todo o universo.
Ele exorta também ao fiel povo de Deus que “quem tiver ouvidos, ouça o que Espírito diz” (Apocalipse 2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13 e 22).
II – A MENSAGEM À IGREJA EM ÉFESO (Apocalipse 2:1-7)
A cidade de Éfeso estava situada na costa ocidental da Ásia Menor. O que mais fazia de Éfeso uma cidade suntuosa e próspera, um centro internacional e uma atração mundial, era o famoso templo de Diana, uma das sete maravilhas do mundo da antiguidade. Hoje nada mais resta de Éfeso, senão ruínas de vasta extensão.
Uma pequena congregação de fiéis foi estabelecida pelo apóstolo Paulo em Éfeso, apesar da dominante cultura grega e do poder imperial romano. O apóstolo Paulo instruiu esse povo durante três anos (Atos 20:31). O nome “Éfeso” significa: desejável. As características desta comunidade cristã local tinham tudo a ver com a condição espiritual vivida pelo povo de Deus durante a era apostólica.
Nesta primeira carta, o nosso Senhor Jesus Se identifica como sendo “aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro.” Apocalipse 2:1. Esta descrição de Jesus está baseada no que está escrito em Apocalipse 1:12, 13, 16 e 20. Estas palavras dão-nos a certeza de que Ele tem o poder e o domínio sobre a Igreja de Deus. Lembramos novamente que ela é guiada por Jesus Cristo, sendo Ele a cabeça da igreja (Efésios 5:23; Colossenses 1:18).
Há de se destacar nesta carta palavras de elogios e de reprovação:
ELOGIOS: “Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua perseverança; sei que não podes suportar os maus, e que puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança e por amor do Meu nome sofreste, e não desfaleceste. ...Tens, porém isto; que aborreces as obras dos nicolaitas, as quais Eu também aborreço.” Apocalipse 2:2-3, 6.
O povo de Deus nesta fase da história enfrentou forte oposição, dentro e fora da sua comunidade. Na sua perseverança, os efésios suportaram as mais duras provas e não desanimaram. Depois de tantas advertências sobre o perigo de falsos mestres, a defesa da verdade se tornou um ponto forte para o povo de Deus durante o período apostólico. Falsos apóstolos foram desmascarados. Eram os chamados “falsificadores da palavra de Deus” (II Coríntios 2:17) e esses tais falsos apóstolos foram considerados “obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo” (II Coríntios 11:13). Todos foram postos à prova e desmascarados como mentirosos.
No primeiro século d.C. o povo de Deus sofreu muito no desempenho de sua missão. Ele foi duramente perseguido pelos judeus e pelos romanos, sendo todos os apóstolos, com exceção de João, martirizados. Com eles muitos outros foram sacrificados sob o comando dos imperadores romanos Nero (54 a 68 d.C.) e Domiciano.(81 a 96 d.C.).
Embora perseguidos, os apóstolos atiraram-se denodadamente aos quatro quadrantes do mundo em conquista de almas para Cristo (Colossenses 1:23).
O que é notável nesta carta à Igreja em Éfeso, é que Cristo não só se dispôs a exaltar as suas boas obras e o seu excelente trabalho, como suas atitudes em aborrecer as obras dos “NICOLAITAS”. A história não registra dados precisos sobre os nicolaitas. Uma vez que o Apocalipse é um livro profético, devemos atentar para o significado desta palavra. “Nicolaita” em grego é composto por duas palavras e que tem o seguinte significado:
NIKAO = conquistar (no sentido de dominar);
LAOS = povo, gente, multidão.
Portanto, o termo “NICOLAITAS” tem o sentido de “DOMINADORES DO POVO”. Infiltrados nas igrejas do primeiro século, os nicolaitas tentaram introduzir a idéia de uma hierarquia eclesiástica com a finalidade de exercer o poder sobre o povo. Esse movimento, no entanto, foi corajosamente rechaçado durante esse período da história da igreja de Deus, pois o texto de Apocalipse 2:6 diz: “Tens, porém, isto, que aborreces as obras dos nicolaitas, as quais Eu também aborreço.” Infelizmente anos mais tarde, no quarto século, durante a época representada pela Igreja de Pérgamo (Apocalipse 2:15), os nicolaitas conseguiram oficializar esse sistema de governo centralizador, o qual passou a ser praticado até hoje em quase todas as denominações religiosas. Trata-se de uma hierarquia eclesiástica de poder, reservado unicamente aos ministros do evangelho, selecionados para exercerem a liderança nas igrejas. Este sistema concede a eles a exclusiva autoridade para interpretarem ao povo as Escrituras Sagradas e exercerem o domínio em questões de fé. De acordo com os ensinos da Palavra de Deus, durante a era apostólica as congregações agiam com total independência.
Para esta fase histórica da igreja de Deus, havia uma reprovação por parte de nosso Senhor Jesus.
REPROVAÇÃO: “Tenho, porém contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; e se não, brevemente virei a ti, e removerei do seu lugar o teu candeeiro, se não te arrependeres.” Apocalipse 2:4 e 5.
A igreja apostólica do primeiro século apesar de ter sido valorosa ao evangelizar o mundo e levar multidões a se decidirem pela Palavra de Deus e pelo amoroso Salvador, é, por fim, acusada da perda do primeiro amor. As cartas apostólicas evidenciaram que, quando ainda os apóstolos estavam vivos, aquele primitivo amor já manifestava sintomas de fraqueza. Tomando-se como base a denúncia, admoestação e advertência, conclui-se que a situação era bastante grave. A história ainda se repete nos dias de hoje. O entusiasmo se extingue e as idéias humanas começam a tomar o lugar dos reais ensinamentos de Deus.
Seja como for, a primitiva igreja estava ameaçada de ser removida do seu lugar, ou seja, ameaçada de perder o seu lugar no plano da salvação de Deus. Cristo falou de três passos práticos que o povo de Deus deveria dar a fim de voltar ao primeiro amor: 1) Lembra-te donde caíste; 2) Arrepende-te; 3) Volte a praticar as primeiras obras.
III - CONCLUSÃO
Por último, uma gloriosa promessa ao vencedor: “Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus.” Apocalipse 2:7.
Vencer deve ser o alvo de todo o sincero cristão. O povo de Deus é encorajado a vencer todos os males do pecado, quer internos, quer externos, para que, ao final, na vinda gloriosa do Messias, receber o galardão da vida eterna.