A Mensagem à Igreja em Pérgamo
As Sete Igrejas do Apocalipse (Parte III)
I – INTRODUÇÃO
De uma forma impressionante os fatos históricos a respeito da cidade de Pérgamo ajustam-se aos fatos descritos na terceira carta de Cristo (ver Apocalipse 2:12-17). Atualmente chamada de Bergama, Pérgamo foi nos tempos antigos uma importante cidade da Mísia, situada na Ásia Menor, a 80 quilômetros ao norte de Esmirna e foi construída num monte, numa altitude de 350 metros. Por isso, o significado de Pérgamo é altura e/ou elevação. Ela começou a se destacar depois que o seu rei, Átalo III, em 133 aC. legou em testamento o seu reino aos romanos.
A fama de Pérgamo fundamentava-se principalmente em sua preeminência religiosa.. Quando os persas conquistaram os babilônios, eles deram liberdade a seus habitantes. Mas os sacerdotes pagãos, mais tarde, revoltaram-se e saíram da cidade de Babilônia, fugindo para Pérgamo. Ali estabeleceram o seu quartel general. Era o centro de quatro grandes cultos pagãos: Zeus, Atenas, Dionísio e Esculápio. Também foram erigidos templos em honra dos imperadores Augusto, Trajano e Sétimo Severo. O monarca governante tornou-se o líder do sistema. Seu título “Pontífice Máximo” tem o significado de “máximo construtor de pontes”. Nisto vemos uma semelhança com a construção da torre de Babel, cujo propósito era unir todos os povos e estabelecer uma ponte entre o céu e a terra. A falsa religião estabelecida em Pérgamo tinha as mesmas pretensões.
Quando Átalo III transferiu o seu reino aos romanos, todo o culto pagão foi conseqüentemente transferido para Roma, que desde então passou a ser o centro deste falso sistema de culto. Pérgamo tornou-se assim um elo entre a antiga Babilônia e a moderna Roma.
Todas estas informações históricas são muito significativas e elas nos dão os indícios necessários das razões de Pérgamo ter sido escolhida para representar simbolicamente a terceira fase vivida pelo povo de Deus. Foi um período de grandes mudanças no campo espiritual. Quando Constantino tornou-se Imperador Romano, um dos seus primeiros atos foi juntar-se ao seu co-imperador Licínio na publicação do Edito de Milão, em fevereiro de 313 dC., que não só confirmava a tolerância religiosa para com os cristãos, como a estendia aos adeptos de todas as religiões. Estava formado um poder político-religioso de grandes proporções, com a finalidade de assegurar a paz religiosa em todas as províncias romanas. Esta mútua transigência entre o paganismo e a fé cristã resultou no desenvolvimento de um gigantesco sistema de religião falsa, uma obra prima do poder de Satanás.
II - O CRISTIANISMO DE CONSTANTINO
Esta fase da história da igreja de Deus cobre o período em que se estabeleceram os fundamentos da falsa religião. Sempre foi o objetivo de Satanás atacar aqueles que se propuseram a obedecer a Deus. Como ele não conseguiu destruir o povo de Deus com as perseguições, tentou destruí-lo por outros meios.
Ao tornar-se Imperador Romano, Constantino conseguiu alterar o curso da História. Mesmo dizendo ter-se convertido ao “cristianismo”, ele conservou o título de “Pontifex Maximus” do paganismo ou sumo sacerdote da religião do Estado. Ele atribuiu a sua vitória ao “deus sol-invictus”. O cristianismo defendido por Constantino nada tinha a ver com a fé defendida pelo verdadeiro povo de Deus. Dentre este povo muitos foram batizados sem conseguirem abandonar inteiramente os velhos costumes e doutrinas trazidos das religiões pagãs. Assim a pureza do evangelho de Cristo foi aos poucos se corrompendo com as falsas doutrinas ensinadas por aquelas religiões.
Constantino considerava a Igreja como uma grande força unificadora e estava ansioso para que o cristianismo se tornasse a religião universal do Império Romano. Ele queria evitar todas as lutas internas da Igreja, arrazoando que deveria haver uma igreja unida e conseqüentemente um império unificado. Como resultado, muitos cristãos não foram capazes de manter pura a adoração ao único e verdadeiro Deus.
Ao intrometer-se em assuntos eclesiásticos, exercendo a sua influência apaziguadora, o Imperador Constantino, em 07 de março de 321, ditou a primeira lei tornando obrigatória a observância do domingo, dia em que os pagãos prestavam culto ao deus Sol, prática que posteriormente foi incorporada no seio do cristianismo. O primeiro dia da semana tomou o lugar do sábado bíblico. A lei determinava o seguinte:
“Todos os juízes, pessoas da cidade e artesãos devem descansar no dia venerável ao Sol. Mas as pessoas do campo podem sem objeções dedicar-se à agricultura, pois muitas vezes acontece ser este o dia mais favorável para semear cereais ou plantar vinhas.” Depois de Jesus o triunfo do cristianismo, p. 239.
Foi também durante o seu reinado que a doutrina da Trindade foi pela primeira vez discutida em assembléia, na presença de 318 bispos, durante o Concílio de Nicéia em 325 dC. Nesta assembléia foram tomadas decisões importantes, porém, contrárias aos ensinamentos de Cristo e de Seus apóstolos.
O cristianismo de Constantino, com suas tradições humanas e costumes pagãos, transformou-se num forte desafio para o verdadeiro povo de Deus.
III – ANALISANDO A CARTA À IGREJA EM PÉRGAMO
“Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Isto diz aquele que tem a espada aguda de dois gumes: Sei onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; mas reténs o Meu nome, e não negaste a Minha fé, mesmo nos dias de Antipas, Minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita. Entretanto, algumas coisas tenho contra ti; porque tens aí os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, induzindo-os a comerem das coisas sacrificadas a ídolos e a se prostituírem. Assim tens também alguns que de igual modo seguem a doutrina dos nicolaitas. Arrepende-te, pois, ou se não, virei a ti em breve, e contra eles batalharei com a espada da Minha boca. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer darei do maná escondido, e lhe darei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.” Apocalipse 2:12-17.
1. A ESPADA DE DOIS GUMES
Diz o texto bíblico que o Senhor Jesus apresentou-Se à Igreja em Pérgamo como “aquele que tem a espada aguda de dois gumes.” Apocalipse 2:12.
A espada foi considerada como o símbolo de ordem mais elevado de autoridade oficial na cultura romana e era também um símbolo de guerra. Aqui é Jesus quem segura a espada de dois gumes, significando que neste período da história cristã seria travada uma importante batalha espiritual. Somente aqueles que desembainhassem esta espada venceriam esta luta. O que seria esta espada? A Bíblia nos dá a resposta:
“Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” Hebreus 4:12.
2. O TRONO DE SATANÁS
“Sei onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; ...” Apocalipse 2:13.
Pérgamo era uma cidade totalmente tomada por adoradores dos falsos deuses. Por esta razão ela foi citada na carta como lugar onde estaria o trono de Satanás. A igreja em Pérgamo representa simbolicamente o período da história cristã em que o arqui-inimigo de Deus se infiltraria entre o verdadeiro povo de Deus sob o manto de religiosidade com o objetivo de seduzi-lo, levando-o a perverter a verdadeira fé.
Confirmada a tolerância religiosa que abrangia os adeptos de todas as religiões, o Imperador Constantino procurou induzir o povo a fazer parte de uma igreja que seria elevada à condição de Igreja Imperial e à categoria de Igreja do Estado, estabelecida por ele. Mais tarde este falso sistema religioso ganhou força em todo o Império Romano e um dilúvio de mundanismo, corrupção, ritos e cerimônias pagãs foram ali praticados. Constantino introduziu através os seus concílios as doutrinas pagãs, entre elas a adoração de imagens e a doutrina da trindade. Satanás deu ao Império Romano “o seu poder, e o seu trono e grande autoridade.” Apocalipse 13:2 (última parte).
Mesmo neste período de terrível apostasia, houve aqueles que permaneceram fiéis, os que combateram o bom combate da fé e não desanimaram mesmo em face da morte: Estes não se uniram ao falso sistema estabelecido por Constantino. A estes foram dirigidas as seguintes palavras:
“… mas reténs o Meu nome, e não negaste a Minha fé, mesmo nos dias de Antipas, Minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita.” Apocalipse 2:13.
Com relação à Antipas não há registro histórico e em nenhuma outra passagem bíblica o seu nome é mencionado. Alguns supõem que Antipas representa uma classe de cristãos que se opunha ao poder do clero romano. Outros o apresentam como um personagem real, mártir numa das perseguições contra os cristãos. O destaque, porém é que Antipas recebeu o título de “fiel testemunha”, o mesmo título dado a Jesus (ver Apocalipse 1:5), pois com a sua morte selou seu testemunho a favor de Cristo.
3. A DOUTRINA DE BALAÃO
Na repreensão dada à igreja do período simbólico de Pérgamo, o Senhor Jesus diz que alguns dentre o povo de Deus seguem a doutrina de Balaão (Apocalipse 2:14).
Encontramos a história de Balaão em Números capítulos 22-25. No final dos 40 anos de peregrinação no deserto, o povo de Israel chegou perto da terra prometida. Os israelitas acamparam-se nas campinas de Moabe, deixando os moabitas e midianitas amedrontados. Balaão era considerado pelo povo de Israel como um profeta de Deus. Porém, segundo o relato bíblico, por amor à exaltação e ao dinheiro, Balaão une-se aos pagãos para armar ciladas contra o povo de Deus. Procurado por Balaque, rei de Moabe, para amaldiçoar Israel que avançava vitorioso, Balaão concordou em atender o seu pedido, mas Deus frustrou todas as suas tentativas. Ao chegar Israel à margem oriental do Jordão, Balaão sugeriu um plano ao rei moabita para afastar os israelitas de Deus. Deu o conselho de convidar o povo de Israel a participar de uma festa idólatra. Nesta festa muitos israelitas se envolveram na idolatria e na imoralidade. Como castigo, Deus mandou uma praga que matou 24.000 israelitas.
Esta era também a tendência durante o quarto século da simbólica igreja em Pérgamo. Algumas pessoas agiam como Balaão. Incentivavam o povo a tolerar as mais diversas práticas pagãs e o pluralismo religioso. O cristianismo pagão, com suas doutrinas, cerimônias e superstições, têm se propagado rapidamente, tornando-se um desafio à fé e culto dos professos seguidores de Cristo.
4. A DOUTRINA DOS NICOLAITAS
O termo “nicolaita” é composto no idioma grego por duas palavras e que tem o seguinte significado:
NIKAO = conquistar (no sentido de dominar);
LAOS = povo, gente, multidão.
Assim, o termo “nicolaitas” tem o sentido de “Dominadores do Povo”. A doutrina nicolaita concebeu a idéia da formação de uma hierarquia na Igreja, o chamado Clero. A formação de uma hierarquia eclesiástica tinha a finalidade de exercer o poder sobre o povo. Apenas o Clero tinha autoridade para interpretar ao povo as Escrituras Sagradas e exercer o domínio em questões de fé. Infelizmente este sistema de governo centralizador é atualmente praticado em quase todas as denominações religiosas.
Possivelmente foram os nicolaitas os formadores do pensamento da recém formada Igreja Romana. De acordo com o relato bíblico, houve uma frustrada tentativa de exercer o poder sobre o povo de Deus já no final do século I (ver Apocalipse 2:6). A partir do século IV, ao se institucionalizar a Igreja Romana, disseminou-se a idéia de se formar uma Igreja Universal, com sua sede e poder hierárquico centralizador. Em meados do século VI, ou seja, no ano 533 dC., através um decreto do Imperador Justianiano, o bispo de Roma foi elevado à condição de Chefe da Igreja Universal. Estabeleceu-se desta forma uma hierarquia sem o devido respaldo bíblico:
1. O Sumo Pastor nunca poderia ser o bispo de Roma. Jesus Cristo é o nosso Sumo Sacerdote, Sumo Pastor e cabeça da Igreja de Deus (Hebreus 4:14; 6:19,20; 8:1,2; I Pedro 5:1-4; Efésios 5:23).
2. Dentro do modelo apostólico não existe a idéia de um líder regional, nacional ou mundial. Nenhum ministro pode exercer autoridade sobre o outro (I Coríntios 3:4-9, 21-23).
IV – CONCLUSÃO
Nesta carta à Igreja em Pérgamo havia um prenúncio do grande declínio espiritual e do crescente comprometimento com o erro, culminando com a inevitável apostasia de muitos professos cristãos.
A mensagem possui um chamado ao arrependimento e uma advertência, em função de alguns dentre o povo de Deus ter abraçado falsas doutrinas condenadas por Deus:
“Arrepende-te, pois; ou se não, virei a ti em breve, e contra eles batalharei com a espada da Minha boca”. Apocalipse 2:16.
Para concluir, uma promessa ao vencedor:
“Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer darei do maná escondido, e lhe darei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.” Apocalipse 2:17.