A Mensagem à Igreja em Esmirna

As Sete Igrejas do Apocalipse (Parte II)

I – INTRODUÇÃO

A cidade de Esmirna, hoje chamada de Izmir, é uma das mais importantes cidades da Turquia, situada ao norte de Éfeso, numa linda baía do mar Egeu. Dentre as cidades da Ásia Menor ela tornou-se um grande centro comercial. Nenhuma cidade sofreu mais massacres, terremotos, fogo e praga que Esmirna. Sob o poder dos romanos, a história relata que o povo pagão desta cidade foi muito fiel ao culto imperial.

Esmirna tem o significado de “mirra”, que por sua vez, significa “perfume” ou “cheiro suave”. A mirra teve um vasto uso em todo o passado distante, sendo considerada uma das mais finas especiarias. Entrou na composição aromática do óleo da unção do santuário, seu mobiliário e seus sacerdotes (Êxodo 30:23).

A igreja em Esmirna representa simbolicamente uma difícil fase vivida pelo povo de Deus, o qual foi duramente perseguido por sua fidelidade à Palavra de Deus. Aquele foi um período de guerra entre a verdade e a mentira; entre a verdadeira e falsa adoração. Foi o período de horrendas perseguições movidas pelo Império Romano, quando os cristãos foram queimados vivos, decapitados e entregues às feras no circo romano.

No meio dos seus sofrimentos, esses fiéis mártires puderam lançar suas esperanças no Salvador, o primeiro e o último, que foi morto, mas que vive (Apocalipse 2:8). Ninguém, nem antes e nem depois dEle apresentou-se para morrer e levar sobre si os pecados da humanidade. O Senhor Jesus foi atribulado, perseguido e morto, mas triunfou ao ser chamado à vida por Seu Pai através a ressurreição. Os cristãos nesta fase da história podiam valer-se da vitória de Cristo e destemidamente enfrentar a calamidade a que eles estavam sujeitos com plena segurança de que Ele os faria também triunfar sobre a morte, na gloriosa ressurreição que ocorrerá quando da Sua vinda a esta Terra.

II – PALAVRAS ELOGIOSAS À IGREJA EM ESMIRNA

Nenhuma reprovação havia para esse povo: “Conheço a tua tribulação e a tua pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que dizem ser judeus, e não o são, porém, são sinagoga de Satanás. Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão, para que sejais provados; e tereis uma tribulação de dez dias. ...” Apocalipse 2:9-10.

O Senhor Jesus diz à igreja que sabia da sua pobreza material, mas que ela era rica, pois tinha muita fé. Tiago, em sua epístola, escreveu sobre a verdadeira riqueza que enriquece os pobres:

“Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que são pobres quanto ao mundo para fazê-los ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que O amam?” Tiago 2:5.

Nesta fase da história o povo de Deus sofreu uma série de perseguições lideradas pelos seguintes Imperadores Romanos:

Trajano (98 a 117 dC): Durante o seu reinado, ser cristão era considerado crime contra o Império Romano. Trajano tornou claro que simplesmente usar o nome “cristão” era ofensa capital. Para os cristãos, no entanto, a guerra era contra Satanás, não contra o povo romano e nem contra seu governo. Todos os cristãos que fossem denunciados seriam considerados culpados e condenados à morte.

Adriano (117 a 138 dC): O imperador Adriano foi um dos que promoveram o renascimento do paganismo. Ele reconstruiu entre outras coisas, o famoso Panteão de Roma, templo dedicado a todos os deuses e deusas pagãos. Ele foi proclamado “o Olímpico” e venerado ao lado do deus Júpiter. Para os romanos não havia distinção entre o Estado e a religião ou entre a fidelidade política e a espiritual. Somente os cristãos e judeus recusaram participar dos cultos pagãos, por defenderem a fé em um único Deus. Com relação aos cristãos, o Imperador Adriano seguiu a mesma política de seu antecessor.

Antonino Pio (138 a 161 dC): Os cristãos continuaram a ser considerados inimigos do Estado Romano. Desde o reinado de Trajano até o de Antonino Pio, os cristãos sofreram perseguições não tão severas, como as que foram registradas posteriormente. Ninguém podia ser preso sem culpa definida e comprovada.

Marco Aurélio (161 a 180 dC): O Imperador Marco Aurélio tinha pouca paciência para com os cristãos, pois os via como uma ameaça à sociedade e uma afronta aos deuses. Foi durante o seu reinado que os cristãos de Lyon sofreram perseguições e martírios. Neste período da história, conforme previsto na profecia (Apocalipse 2:9) certas seitas de judeus cristãos representavam um desafio especial para o verdadeiro povo de Deus. Consideravam-se descendentes dos primeiros cristãos de Jerusalém e tentaram sem sucesso introduzir as práticas judaizantes.

Sétimo Severo (193 a 211 dC): À medida que o povo de Deus se propagava por todo o Império, crescia o número de pessoas que falavam mal dos cristãos por recusarem servir o Estado ou venerar os deuses romanos. Os cristãos tinham sido frequentemente responsabilizados por tudo, desde a escassez de alimentos aos incêndios. Uma intensa perseguição religiosa foi empreendida contra os cristãos durante o reinado do Imperador Sétimo Severo. Onde ela se manifestou com mais intensidade foi no Egito e em outras partes ao norte da África. Muitos foram decapitados e outros foram despedaçados pelas feras.

Décio (249 a 251 dC): A ascensão de Décio ao poder foi desastrosa para os cristãos. Em 3 de janeiro de 250, o Imperador Décio realizou o sacrifício anual a Júpiter e apresentou as oferendas imperiais aos deuses. Pela primeira vez desde então, todos os cristãos foram obrigados a demonstrar a sua lealdade ao Estado. Para isso, teriam de negar a sua fé cristã e tomar parte nos sacrifícios pagãos. Os que desobedeceram à ordem do Imperador foram torturados e sumariamente executados.

Valeriano (253 a 260 dC): No verão de 257 dC, o Imperador Valeriano ordenou à todos os cristãos que adorassem os deuses tradicionais romanos. Os cristãos que se recusassem a obedecer ao decreto, perderiam os seus bens e seriam mortos. As perseguições se alastraram do ocidente ao oriente e muitos foram queimados vivos.

Diocleciano (284 a 305 D): Durante o governo do Imperador Diocleciano ocorreu a mais sangrenta perseguição aos cristãos no Império Romano. Calcula-se que no ano 300 dC. havia aproximadamente 6 milhões de cristãos, o que representava cerca de 10% da população total do Império. Esta perseguição teve início em 24 de fevereiro de 303, quando Diocleciano ordenou as primeiras investidas contra o povo de Deus. Exigiu que as Escrituras Sagradas fossem queimadas e que fossem destruídos todos os locais de reuniões dos cristãos. Em seguida, por exigência de Galério, sucessor de Diocleciano, as perseguições tornaram-se mais severas e milhares de cristãos foram queimados vivos. Esta perseguição estendeu-se até 313 dC. e é conhecida na história como “A Grande Perseguição” ou também como a “Era dos Mártires”. Num encontro entre Licínio e Constantino em Milão, em fevereiro de 313, os dois imperadores redigiram os termos de uma paz universal. O documento seria posteriormente denominado de “Édito de Milão”.

O período da grande tribulação que teve início em 303 dC. e estendeu-se até 313 dC. refere-se aos dez dias proféticos mencionados em Apocalipse 2:10: “Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão, para que sejais provados; e tereis uma tribulação de dez dias. ...”

Nas profecias das Sagradas Escrituras, um dia equivale a um ano (ver Ezequiel 4:6). Em vez de dez dias literais, temos aqui os dez anos proféticos de perseguição, registrados na história como os de maior crueldade praticados contra o povo de Deus.

As catacumbas de Roma, que ainda existem hoje, falam-nos eloquentemente das horrorosas perseguições que os cruéis e tirânicos imperadores romanos fizeram desabar sobre o verdadeiro povo de Deus nos primeiros séculos da era cristã.


III – CONCLUSÃO

“... Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida.” Apocalipse 2:10.

Esta promessa é para todos os vencedores em todas as épocas. Esta coroa não será dada imediatamente a nenhum fiel cristão logo ao morrer. É lhes garantida a coroa por sua fidelidade até ao derradeiro momento. O apóstolo Paulo, antes de sucumbir pela perseguição do Imperador Nero, escreveu que a “coroa da justiça” lhe seria dada por ocasião da vinda do Messias (II Timóteo 4:8). O apóstolo Pedro diz que a “coroa da glória” será dada ao vencedor “quando se manifestar o sumo Pastor” (I Pedro 5:4). E Jesus assegura que a recompensa virá aos mortos que foram fiéis a Deus na ressurreição dos justos (Lucas 14:14).

“... O que vencer, de modo algum sofrerá o dano da segunda morte.” Apocalipse 2:11.

Pela primeira vez temos no Apocalipse a menção da “segunda morte”. Mas, o que é a segunda morte? É o resultado da persistência do pecador em continuar na prática do pecado. O dano da segunda morte, de que nos fala o texto, é o extermínio total de todos os que conscientemente rejeitarem o plano de salvação oferecido por Deus:

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça (segunda morte), mas tenha a vida eterna.” João 3:16.