O Tempo de Angústia
O Livro de Daniel e as Profecias de Deus (Parte X)
I – INTRODUÇÃO
As histórias e as profecias relatadas no livro de Daniel servem de inspiração para nos mantermos vitoriosos face à tentação. O cumprimento dos muitos acontecimentos profetizados em seus últimos capítulos dá-nos a certeza da contínua presença de Deus. Através as profecias cheias de sabedoria e precisão é que a humanidade está sendo desafiada a crer no infinito poder do nosso Deus Criador. O cenário do capítulo 10 de Daniel transcorreu por volta do ano 535 a.C., no terceiro ano do reinado de Ciro. Os setenta anos já haviam decorrido desde que Daniel fora compelido a acompanhar os exércitos de Nabucodonosor, em sua marcha de Jerusalém para Babilônia. Deus cuidara de Daniel em todas as crises enfrentadas pelo profeta. Havia respondido às suas orações e mantivera-o em boas condições físicas, apesar de seus 88 anos de idade. A primeira ordem do rei Ciro para reconstrução de Jerusalém, havia sofrido uma renhida oposição por parte dos hostis samaritanos (Esdras 4). Ao invés de queixar-se, Daniel orou e jejuou por três semanas (Daniel 10:2). As suas orações novamente foram atendidas, da mesma forma como foram respondidas as suas petições em Daniel 2 (revelação do sonho ao rei Nabucodonosor); Daniel 6 (o livramento da cova dos leões); Daniel 9 (entendimento sobre a visão das 70 semanas). Daniel é informado pelo anjo que, Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar na libertação do povo de Deus.
O cenário do capítulo 11 de Daniel traz-nos mais informações sobre o fim dos impérios da Medo-Persa e Grécia. A divisão da Grécia em quatro reinos menores é novamente enfatizada por Deus (Daniel 11:4) quase trezentos anos antes que os fatos aconteceram. Em seguida Daniel narra o conflito entre os reinos situados ao norte e ao sul de Jerusalém, respectivamente os selêucidas e os ptolomeus, com todos os seus desdobramentos até o tempo do fim dessas duas dinastias de origem grega.
Finalmente o capítulo 12 do livro de Daniel merece a nossa especial atenção, pois encerra grandiosas promessas para o povo escolhido de Deus. Por meio deste estudo abre-se o caminho para uma nova compreensão do amor e do cuidado de Deus.
II – UM TEMPO DE ANGÚSTIA QUAL NUNCA HOUVE
“Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo, mas, naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que for achado inscrito no livro.” Daniel 12:1.
Eventos importantes são descritos em Daniel 12:1, os quais se desenrolarão nos momentos finais que antecedem a segunda vinda de nosso Senhor Jesus Cristo:
a) Levantar-se-á o arcanjo Miguel, o grande príncipe, para agir a favor do povo de Israel;
b) Haverá um tempo de angústia qual nunca houve desde que existiu nação até aquele tempo;
c) Livrar-se-á o povo de Deus, todo aquele que for achado escrito no livro da vida.
O tempo de angústia a que se refere o profeta Daniel envolverá principalmente a nação de Israel depois de seu renascimento. Esse tempo é denominado pelo profeta Jeremias como “angústia de Jacó” (Jeremias 30:7). É justificável esta angústia, pois a atual cidade de Jerusalém estará sendo vítima do cerco por parte dos exércitos inimigos, previsto em Joel 3:2 e Apocalipse 16:16, cujos textos tratam sobre o Armagedom. Os efeitos devastadores da batalha do Armagedom atingirão diretamente a todas as nações do mundo, pelo fato de elas estarem interligadas através o processo da globalização. Inevitavelmente se instalará em âmbito mundial o caos em todos os setores da sociedade e toda a estrutura montada pelo homem sucumbirá.
A grande angústia se instalará em virtude dos preparativos para a batalha do Armagedom e dos sinais cada vez mais intensos e destrutivos que anunciarão o breve retorno do Messias. Ela ocorrerá momentos antes da segunda vinda de nosso Senhor Jesus, pelos seguintes motivos.
a) Este evento cumprir-se-á depois do período negro da história, quando houve o domínio da igreja de Roma pelo período de 1260 anos (538 a 1798 d.C.), isto porque, segundo algumas traduções de Daniel 12:7, elas dizem que “depois de um tempo, e dois tempos, e metade de um tempo, todas estas coisas serão cumpridas”.
Para compreensão desta profecia, a matemática divina é a seguinte:
- um tempo equivale a um ano ou 360 dias proféticos;
- dois tempos equivalem a dois anos ou 720 dias proféticos;
- metade de um tempo equivale a meio ano ou 180 dias proféticos.
Os três anos e meio (360 + 720 + 180) totalizam 1260 dias proféticos. Considerando que cada dia corresponde a um ano literal (Números 14:34; Ezequiel 4:6), o resultado é 1260 anos. É interessante que o mesmo período profético é mencionado em outras passagens bíblicas, tais como Daniel 7:25; Apocalipse 12:6 e 13:5.
b) Outro detalhe importante é que, terminado o período dos 1260 anos de perseguição aos santos, em 1798, quando ocorreu a prisão do mandatário da igreja de Roma, haveria um período de espera (Daniel 12:12), um período de liberdade para ler e estudar o Livro Sagrado. Neste contexto o livro de Daniel foi descerrado (Daniel 12:4, 9 e 10). Isto significa que as suas profecias passariam a ser compreendidas. Após esse período, os servos de Deus teriam um conhecimento especial das Escrituras Sagradas, em cumprimento das palavras proféticas registradas em Apocalipse 10:11: “Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas, e reis.”
c) Depois de narrar que haveria um “tempo de angústia qual nunca houve”, o profeta Daniel fala da ressurreição:
“Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno.” Daniel 12:2.
Esta ressurreição está associada à segunda vinda de Jesus (I Tessalonicenses 4:16).
III – A INTERPRETAÇÃO DOS ANOS PROFÉTICOS DE DANIEL 12:11 E 12
“Depois do tempo em que o sacrifício diário for tirado, e posta a abominação desoladora, haverá ainda mil duzentos e noventa dias. Bem aventurado o que espera e chega até mil trezentos e trinta e cinco dias.” Daniel 12:11 e 12.
Neste texto existem duas profecias de tempo: 1290 e 1335 dias ou anos proféticos. O ponto de partida para se calcular esses dois períodos de tempo teria que estar relacionado ao povo de Israel, pois o texto faz referência a dois assuntos diretamente relacionados a esse povo: “sacrifício diário” e “abominação desoladora” (Daniel 12:11).
A profecia requer que, depois do tempo em que o “sacrifício diário” for tirado, seja iniciada a contagem dos dois períodos. Esta data inicial deve também estar associada às primeiras investidas para o estabelecimento da “abominação desoladora”. De acordo com a história, a única data que reúne esses requisitos é: 632 d.C. Com a morte de Maomé em 632 d.C. e o estabelecimento do califado islâmico, a história registra o início das investidas do povo árabe contra Jerusalém. A invasão islâmica em Jerusalém, pela força das armas, foi um ato considerado no livro de Daniel e pelos judeus como “abominação desoladora”. É que anos mais tarde, no mesmo espaço onde existia o templo de Salomão, foi construída a mesquita muçulmana de Omar, marco de identificação da fé islâmica. Portanto, a data de 632 d.C. é a base de cálculo para a contagem dos dois períodos proféticos:
a) Primeiro período profético: 632 + 1290 = 1922.
Em 24 de julho de 1922 foi formalizada pela Liga das Nações (antecessora da ONU) a Declaração Balfour, promulgada pela Grã-Bretanha, que recomendava o estabelecimento de um lar nacional judaico na Palestina – Terra de Israel.
b) Segundo período profético: 632 + 1335 = 1967.
Em junho de 1967 o mundo assistiu a “Guerra dos Seis Dias”, ocasião em que a cidade de Jerusalém voltou a ser do povo de Israel desde sua destruição no ano 70 d.C.
De acordo com as profecias registradas no livro de Daniel, Jerusalém sofreria três ataques por parte dos seus inimigos:
1) Nos anos 168 a 165 a.C. Jerusalém foi assolada e o Santuário terrestre profanado pelas tropas de Antíoco Epifanes IV (Daniel 8:13);
2) No ano 70 d.C. Jerusalém foi tomada e o Templo destruído pelas tropas romanas comandadas por Tito (Daniel 9:26). O Senhor Jesus em Mateus 24:15 deu o alerta aos Seus discípulos a respeito da iminência do cumprimento deste evento;
3) No ano 632 d.C., com o estabelecimento do califado islâmico, os sucessores de Maomé iniciaram seus ataques à Palestina (Daniel 12:11).
IV - CONCLUSÃO
O profeta Daniel se destacou pela sua piedosa sabedoria e justiça. Ele é comparado, segundo as próprias palavras de Deus, com Noé e Jó (Ezequiel 14:14, 20).
O livro de Daniel se encerra com uma promessa pessoal ao idoso profeta: “Tu, porém, ...descansarás, e ao fim dos dias, te levantarás para receber a tua herança.” Daniel 12:13. Ao profeta Daniel foi assegurado um lugar entre os santos que viriam a compor o novo Reino de Deus.
Esta promessa pertence também a todos os que branquearam as suas vestes no sangue do Cordeiro (Apocalipse 22:14; Daniel 12:10). Pertence também àqueles que compreenderão o sentido prático do livro de Daniel, pois estes “resplandecerão como o fulgor do firmamento; ... como as estrelas, sempre e eternamente.” Daniel 12:3.