O Fiel Testemunho de Daniel e Seus Companheiros

O Livro de Daniel e as Profecias de Deus (Parte II)

I – INTRODUÇÃO

A maior parte das pessoas que habitavam o reino de Judá achava-se tão corrompida que Deus não teve outra alternativa senão corrigi-la, levando-a para o cativeiro. Evidentemente nem todos se corromperam. Havia uma minoria que não se rebelou contra Deus. A Bíblia narra a história de quatro jovens tementes a Deus: Daniel, Hananias, Misael e Azarias. A despeito do colapso de seu próprio país, eles guardaram puro o seu caminho numa terra pagã. A partir do estudo dos textos sagrados disponíveis, os jovens descendentes da tribo de Judá aprenderam a distinguir entre o único Deus verdadeiro de Israel e os falsos deuses de Babilônia. Eles conheciam a importância de serem fiéis e honestos em todas as suas ações. Eles foram educados dentro dos padrões judaicos. Deus ordenou que os pais judeus ensinassem diligentemente a Sua Palavra aos seus filhos (ver Deuteronômio 6:6-7).

O jovem Daniel e seus amigos resguardaram as suas vidas através do estudo da Palavra de Deus. Eles não tiveram acesso à boa parte daquilo que hoje conhecemos como Bíblia. Ainda não haviam sido escritos todos os livros do Antigo Testamento, bem como nenhum dos livros do Novo Testamento. Eles foram capazes de fazer separação entre alimentos próprios e impróprios ao consumo humano, baseando-se em Levítico 11 e Deuteronômio 14. Eles conheciam a importância das orientações de Deus sobre o perigo de beber vinho e bebidas fortes. Com certeza eles sabiam da dramática experiência de Nadabe e Abiú e os conselhos de Deus revelados em Levítico 10:9-11.

As muitas experiências vitoriosas vividas por aqueles quatro jovens em Babilônia ficaram registradas nos anais da história. Daniel e seus companheiros transformaram-se em fiéis testemunhas do Deus de Israel longe de sua terra natal.


II – BREVES LAMPEJOS ACERCA DA VIDA DE DANIEL

Os babilônios tinham como hábito procurar jovens talentosos e treiná-los para serem homens experientes na corte imperial. Dentre os cativos, o jovem Daniel era um nobre, descendente do reino de Judá. Desde os primeiros dias de seu exílio, a Palavra de Deus diz que Daniel era instruído em toda a sabedoria, douto em ciência e versado no conhecimento (ver Daniel 1:4). Torna-se evidente, que ele já recebera considerável grau de instrução, como aluno judeu, no reino de Judá. Um dos aspectos marcantes do povo de Deus era a sua notável devoção à educação. A Palavra de Deus menciona especificamente que ele se tornara versado na língua e cultura dos caldeus.

Durante três anos ele e seus três amigos deveriam receber provisões reais e educação, de modo que pudessem ser preparados a fim de servirem no governo de Nabucodonosor (ver Daniel 1:5). Eles foram educados na filosofia babilônica e aprenderam sobre o intelectualismo dessa cultura e sua religião.

Porém, os sábios conselhos e instruções de seus pais, não foram esquecidos. Daniel resolveu agradar a Deus e Deus resolveu abençoar a vida de Daniel.

De acordo com as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo (ver Mateus 24:15), Daniel foi um profeta de Deus. As suas profecias têm sido confirmadas historicamente e têm-se cumprido com absoluta precisão.

Quando Daniel foi levado cativo para Babilônia, acredita-se que ele tinha entre 17 e 18 anos, pois a Bíblia descreve a Daniel e seus demais companheiros como “jovens” (ver Daniel 1:4). Deus prometeu através o profeta Jeremias que, depois de completados os setenta anos, tomaria providências para que pelo menos os cativos tivessem a oportunidade de regressar a seus lares (ver Jeremias 29:10 e Daniel 9:1 e 2). Em 538 a.C. o império babilônico foi derrotado pelo exército do império de Medo-Persa, liderado por Ciro, o Grande. A última visão de Daniel ocorreu durante o terceiro ano do reinado de Ciro (ver Daniel 10:1), sendo que nesta ocasião o profeta deveria estar com aproximadamente oitenta e oito anos de idade. Nessa ocasião o profeta Daniel já se encontrava demasiadamente idoso para retornar à Palestina. Toda a sua vida adulta transcorreu no dinâmico Oriente Médio - uma região que atualmente ocupa com freqüência os espaços dos jornais e dos noticiários de televisão. Contudo, ele vivera uma vida plena de realizações, uma vida que Deus abençoara do início até o fim.

Não há dúvidas que o profeta Daniel estará entre os salvos (ver Daniel 12:13). Embora o seu nome não esteja relacionado em Hebreus 11, há, contudo, uma indicação clara a respeito da experiência que ele teve, por causa de sua fé inabalável no Deus Altíssimo, quando um anjo foi enviado para fechar a boca dos leões (ver Hebreus 11:32 e 33 e Daniel 6:22-23).


III – DANIEL E SEUS COMPANHEIROS NA CORTE DE BABILÔNIA

Ao serem retirados da simplicidade de seus lares judaicos, esses jovens de linhagem real foram levados a maior e mais magnificente das cidades da época e introduzidos na corte do maior monarca do mundo, Nabucodonosor, rei de Babilônia.

A cada um deles foi dado um novo nome (ver Daniel 1:7). A razão de o rei ter mandado mudar seus nomes originais é que ele desejava que eles mudassem suas identidades, inclusive, suas personalidades. Na Bíblia, os nomes têm importantes significados. O nome Daniel, por exemplo, significava “Deus é meu juiz”. Seu nome babilônico, Beltessazar, significa “que o deus Bel proteja o rei”. De acordo com o relato bíblico, Nabucodonosor ordenou que seus soldados pegassem o candelabro de ouro e outros objetos de valor do santuário de Jerusalém e os colocassem no templo pagão de Bel-Marduque, o deus supremo da Babilônia (ver Daniel 1:2). Com o intuito de mostrar a soberania deste “grande” deus, o nome de Daniel foi trocado. Em outras palavras estava-se dizendo a Daniel que o Deus de Israel não era mais seu juiz e que o deus Bel passaria a ser o protetor do rei e de todos os utensílios sagrados. Os nomes originais dos demais companheiros de Daniel também foram trocados, recebendo nomes que correspondiam aos deuses pagãos de Babilônia: de Hananias (o Senhor é gracioso) para Sadraque (inspiração do sol); de Misael (que pertence a Deus) para Mesaque (servo da deusa de Sheba); de Azarias (o Senhor é meu ajudador) para Abednego (o servo de Nebo).

Em seguida tiveram que passar por uma decisiva prova de caráter. A sociedade para onde estes jovens foram levados era materialista e moralmente corrompida. É interessante que Deus não começa o livro de Daniel com uma profecia. Ele inicia relatando a experiência de jovens que estavam longe de casa, sendo postos à prova num país estrangeiro, sujeitos a toda influência tendente ao mal. Esses jovens israelitas faziam parte da nobreza e da linhagem real, dotados de sabedoria, inteligência e instrução, razão porque o rei Nabucodonosor determinou que eles fossem alimentados com as iguarias do rei e do vinho que ele bebia (ver Daniel 1:5).

Daniel é o exemplo de um jovem fiel vivendo numa sociedade corrompida e sem Deus, cuja mente poderia ter sido deturpada. A história registra que Daniel decidiu em seu coração fazer a vontade de Deus. O vocábulo “coração” é muitas vezes utilizado na Bíblia e tem um significado muito especial: é o lugar do intelecto e da emoção, o centro do processo do pensamento. O sábio Salomão escreveu a esse respeito o seguinte: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida.” Provérbios 4:23.
Os babilônios puderam mudar o nome de Daniel, mas não a sua lealdade a Deus. O assunto de comer da mesa do rei envolvia sua relação com Deus. “Daniel, porém, propôs no seu coração não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto pediu ao chefe dos eunucos que lhe concedesse não se contaminar.” Daniel 1:8. Ele pediu ao chefe dos eunucos que servisse a ele e aos seus três companheiros apenas legumes a comer e água a beber, durante o período de dez dias (ver Daniel 1:12). Para permanecer fiel a Deus, ele devia viver e comer de maneira simples. Ele sabia que se bebesse do vinho do rei e comesse a comida do rei, ele não poderia se manter leal a Deus e não estaria apto para enfrentar as grandes provas na Babilônia. À primeira vista, este problema sobre comer e beber parece bem insignificante. Daniel 1 e Gênesis 3 ilustram o fato de que Satanás normalmente se empenha para nos alcançar através dos sentidos: audição, visão, olfato, tato e paladar. A vida cristã bem sucedida depende de guardarmos os nossos sentidos. Deus se comunica conosco e nos alcança pelas células nervosas do cérebro, e se essas células nervosas são influenciadas pelo que comemos e bebemos, que dever mais importante pode haver do que o de preservar o corpo na melhor condição possível?
Dos alimentos cárneos não nos é dito por que isto contaminaria Daniel. Talvez fosse carne que tivesse sido sacrificada aos ídolos e comê-la seria um problema de consciência (ver I Coríntios 10:28); ou talvez fosse uma comida proibida, considerada imunda (ver Levítico 11), ou carne que tivesse sido sangrada inadequadamente (ver Levítico 17:13-14).
E quanto ao vinho que o rei bebia? Deus declarou expressamente que o Seu povo não deveria nem olhar para o vinho, quando este se mostra vermelho. Deus nunca autorizou o Seu povo a tomar qualquer substância intoxicante que prejudicasse a mente (ver Provérbios 23:29-32; 20:1; Isaías 28:7).

IV - CONCLUSÃO
Não havia dúvida na mente de Daniel e de seus companheiros. A lealdade a Deus foi mais importante do que a lealdade ao rei. A fidelidade deles estava sendo provada, e o assunto era a obediência a Deus ou ao homem. Tomando-se como base o fiel testemunho desses quatro jovens, o povo de Deus no tempo do fim também não vai hesitar a fazer suas escolhas entre o certo e o errado.
Quando os dez dias se completaram, eles eram os melhores dentre todos os demais jovens (ver Daniel 1:15-20). Eles tinham a mente clara e o corpo saudável. Eles desempenharam o papel de persuasivas testemunhas de Deus. Neste episódio, de forma clara e inegável, quando os obstáculos foram removidos, a fidelidade para com Deus compensou tanto que todos puderam ver os resultados da sua fidelidade. Diz a Palavra de Deus que “a estes quatro jovens, Deus lhes deu o conhecimento e a inteligência em todas as letras e em toda a sabedoria; e Daniel era entendido em todas as visões e todos os sonhos. ...e em toda matéria de sabedoria e discernimento, a respeito da qual lhes perguntou o rei, este os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos e encantadores que havia em todo o seu reino.” Daniel 1:17 e 20. Individualmente temos escolhas a fazer. Existe uma eternidade aguardando para aqueles que são fiéis a Deus, uma vida inteiramente nova onde o pecado, a morte, o sofrimento e a perda não existirão. Vale a pena ser fiel a Deus.