O Fim do Império Babilônico

O Livro de Daniel e as Profecias de Deus (Parte V)

I - INTRODUÇÃO
O capítulo cinco do livro de Daniel começa narrando a respeito de um grande banquete oferecido por Belsazar, rei de Babilônia, para mil líderes nacionais. Era o ano de 538 a.C., vinte e quatro anos depois da morte de Nabucodonosor. Oferecer banquetes pródigos era costume no mundo antigo. Tanto isto é verdade que encontramos um interessante relato no princípio do livro de Ester, quando o rei Assuero deu um banquete para todos os seus nobres e servos. Aquela festa estendeu-se por 180 dias (Ester 1:3 e 4). Quanto à Babilônia, esta seguia uma trajetória continuamente descendente, deixando para trás sua época dourada. Nabucodonosor fora sucedido por uma série de governantes incompetentes. A ruína de Babilônia estava prestes a acontecer, pois um destacamento militar persa, comandado por Ciro, deslocara-se rapidamente para o sul, estacionando junto aos muros de Babilônia. Os muros eram grandes e fortes e seus armazéns achavam-se repletos de alimentos. O rio Eufrates trazia água à vontade para dentro da cidade. Para os líderes nacionais, Babilônia era invencível a qualquer inimigo. No entanto, deliberadamente o rei Belsazar decidiu desafiar o Deus Altíssimo e por isso teve que enfrentar as conseqüências finais das escolhas que livremente tomara.
II – BELSAZAR – UM MONARCA QUE DESAFIOU A DEUS
Quem foi Belsazar? Em Daniel 5:2, 11, 18 e 22, Nabucodonosor é mencionado como sendo o “pai” de Belsazar, e Belsazar como “filho” de Nabucodonosor. Era Nabucodonosor realmente “pai” de Belsazar? Os escritores bíblicos muitas vezes utilizam as palavras “pai” e “filho” para pessoas que, embora sendo genealogicamente relacionadas, achavam-se separadas por mais de uma geração. Jesus foi identificado como o “filho de Davi” (Mateus 9:27), muito embora estivesse separado do grande rei israelita por nada menos que vinte e oito gerações (Mateus 1:17). A história confirma que Belsazar era filho de Nabonidus, genro de Nabucodonosor. O rei Nabonidus, alguns anos após sua posse, se transfere para Temã na Arábia, deixando seu filho Belsazar governando como co-regente em Babilônia.
O banquete tinha como objetivo afrontar o Deus vivo. De modo blasfemo, quando o vinho começou a surtir efeito, Belsazar ordenou a seus mordomos que trouxessem os utensílios sagrados que Nabucodonosor havia removido do templo de Jerusalém. Dentre esses utensílios havia vasos sagrados que tinham sido dedicados ao Senhor, os quais foram utilizados pelos convivas para oferecerem brindes a seus ídolos (Daniel 5:1-4). Esse foi o último desafio do imoral Belsazar.
Em meio àquela orgíaca festividade pagã, onde ressoavam risos sarcásticos regados a muito vinho embriagante, a mão de Deus escreveu na parede com letras de fogo, estranhas e misteriosas palavras. A Bíblia diz que o semblante do rei mudou. As mãos tremiam e os joelhos batiam um no outro. A festança parou, e um silêncio mortal encheu a sala (Daniel 5:5 e 6).
Repetindo o gesto de seu avô, Nabucodonosor, o rei Belsazar pediu aos astrólogos, aos adivinhadores e aos sábios a interpretação daquelas palavras. Como a inscrição foi escrita em aramaico, ninguém foi capaz sequer de ler a escrita, muito menos de interpretá-la (Daniel 5:7-9).
Então a rainha-mãe entrou na casa do banquete e orientou ao rei a chamar o profeta Daniel (Daniel 5:10-12). Os estudiosos estão divididos sobre se a rainha era a mãe de Belsazar ou sua avó, a esposa de Nabucodonosor. Está descartada a hipótese de ela ser esposa de Belsazar, porque ele e suas concubinas já estavam no banquete (Daniel 5:3).
Belsazar falou com Daniel e prometeu, caso ele pudesse ler e interpretar a escrita na parede, conceder-lhe o terceiro lugar no comando do império babilônico. Até então o pai de Belsazar, Nabonidus, oficialmente ainda era o rei de Babilônia. Belsazar, como co-regente, era o segundo no comando. Portanto, ele só podia oferecer o terceiro lugar ao profeta Daniel.

Diante dos líderes e convivas reunidos no salão, Daniel relembrou ao rei o juízo que uma vez caíra sobre Nabucodonosor em virtude de seu orgulho e como a sua mente chegara ao ponto de levá-lo a comportar-se como animal, até que ele confessasse que o Altíssimo reina sobre todos os domínios humanos. Belsazar, por outro lado, sabia de tudo isto, mas escolheu desafiar a lei e a autoridade de Deus e recusou humilhar-se (Daniel 5:21-23).

III – UMA MENSAGEM DE CONDENAÇÃO

Esta era a mensagem do Céu escrita na parede: MENE, MENE, TEQUEL, UFARSIM (Daniel 5:25). A mensagem era clara e específica. Deus havia empilhado os crimes do rei e completado a sua medida. O período de supremacia política de Babilônia havia terminado. Essa foi a última noite dos babilônios e do rei Belsazar. Os babilônios cruzaram a linha-limite que Deus traçara.

Em seguida Daniel disse: “Contou Deus o teu reino, e o acabou. Pesado foste na balança e foste achado em falta. Dividido foi o teu reino, e deu-se aos medos e aos persas.” Daniel 5:26-28.

Belsazar, o último monarca babilônico que desafiou a Deus, tomou as decisões que afetaram sua vida. Deus pesou essas decisões a fim de constatar o quanto elas valiam. Deus entregou Belsazar às conseqüências naturais do curso de vida por ele escolhido. Em Romanos 1:18 a 32, o apóstolo Paulo revela a atitude de Deus para com todos aqueles que, à semelhança de Belsazar, escolhem seus próprios caminhos:

“Pois do Céu é revelada a ira de Deus contra toda a impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça. ...Tais homens são por isso indesculpáveis, porquanto, tendo conhecimento de Deus não O glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças, antes se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. Por isso Deus os entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seus próprios corações, para desonrarem os seus corpos entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém. ...Por causa disso os entregou Deus a paixões infames. ...E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes. ...Possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais. ...Conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem.” Romanos 1:18-32.

O corpo de Belsazar constituía um templo de Deus, violado, profanado e vazio. Como conseqüência, Babilônia sofreu um terrível massacre, que se estendeu por todo o Império. O historiador Heródoto escreveu que Ciro desviou o rio Eufrates, redirecionando o seu fluxo, levando o nível do rio a baixar para que seus soldados pudessem atravessar os muros da cidade. Quando a água chegou à metade da coxa de um homem, os soldados persas entraram na cidade pelo leito fluvial. Certos de que a cidade não podia ser tomada, os babilônios ficaram descuidados. Assim, em 538 a.C. os persas caíram de surpresa sobre eles e tomaram a cidade. Belsazar foi morto e Dario, o medo, começou a reinar.

IV – CONCLUSÃO

A profecia cumpriu-se em todos os seus detalhes. Com relação à Babilônia, o profeta Isaías escreveu: “Eis que suscitarei contra eles os medos, que não farão caso da prata, nem tampouco no ouro terão prazer. ...Babilônia, o ornamento dos reinos, a glória e a soberba dos caldeus, tornou-se como Sodoma e Gomorra. Nunca mais será habitada, nem nela morará alguém de geração em geração; nem o árabe armará ali a sua tenda; nem tampouco os pastores ali farão deitar os seus rebanhos.” Isaías 13:17-20.

É de grande importância a compreensão da mensagem geral de Daniel a respeito da queda de Babilônia. Ela se acha associada a profecias que em breve deverão cumprir-se com a Babilônia espiritual, um dos destacados temas do Apocalipse. O perfeito cumprimento das profecias relacionadas com Babilônia literal contribui para o fortalecimento de nossa confiança nas profecias que anunciam a iminente derrocada de Babilônia simbólica.

Na Palavra de Deus encontramos um admirável paralelismo relacionado com as profecias da queda de Babilônia literal e a queda da Babilônia espiritual no tempo do fim. Compare:

Jeremias 51:13 – Apocalipse 17:1
Jeremias 51:7 – Apocalipse 17:4
Jeremias 51:8 – Apocalipse 14:8
Isaías 47:7 e 8 – Apocalipse 18:7
Jeremias 51:45 – Apocalipse 18:4
Jeremias 51:48 – Apocalipse 18:20
Jeremias 51:64 – Apocalipse 18:21.

Homens e nações estão sendo testados pelo prumo na mão dAquele que é o Criador, o Deus Altíssimo. Todos estão por sua própria escolha decidindo seu destino e Deus indubitavelmente cumprirá os Seus propósitos.