Daniel e a Cova dos Leões

O Livro de Daniel e as Profecias de Deus (Parte VI)

I - INTRODUÇÃO
A história de Daniel na cova dos leões é por certo uma das mais conhecidas da Bíblia. Daniel se achava com 85 anos aproximadamente quando Deus o livrou dos leões famintos. Esse fato nos faz recordar que o Deus que libertou a Daniel daquela probante experiência, é o mesmo que nos resgata das perplexidades que temos de enfrentar na vida. Babilônia cai e cede seu domínio aos medos e persas. O novo rei, Dario, constituiu uma estrutura bastante avantajada para administrar os interesses do reino. Ela consistia de 120 sátrapas (governadores), e sobre estes, três presidentes, dos quais Daniel era o principal. O rei Dario achou em Daniel um homem íntegro e o constituiu como homem de confiança no primeiro escalão de seu governo. Um exemplo de servidor público que exerceu suas funções exemplarmente. A sua fé em Deus o fizeram honesto e fidedigno em suas responsabilidades profissionais. Ele é um dos poucos personagens sobre quem a Bíblia não registra nada de negativo. Mas isso não o impediu de ser lançado à cova dos leões. Em certo sentido o capítulo 6 de Daniel fornece um esboço claro do que é certo e errado, descreve a trajetória de um grande homem de Deus e seu final feliz.


II – DANIEL – UM HOMEM DE FÉ

A vida de Daniel foi cheia de provações. No entanto, em nenhum instante ele atravessou momentos tão difíceis aos olhos dos homens como aqueles no final de sua vida. Daniel era um homem piedoso e a sua íntima relação com Deus fez dele um verdadeiro homem, imbuído de uma fé inabalável.

O exemplo do profeta Daniel é um excelente modelo para qualquer pessoa que faz ou quer fazer parte do remanescente de Deus nos dias atuais. Ele não agia como se fosse naturalmente melhor do que os outros. Toda a sua grandeza e bondade vinham de Deus. Quando sua obediência o colocou em conflito com os costumes prevalecentes, ele aproveitou a oportunidade para mostrar o amor e a graça de Deus. Nem mesmo os seus inimigos o consideravam um fanático violento.

Algumas de suas qualidades o fizeram distinguir-se como um grande líder. “Então o mesmo Daniel se distinguiu destes príncipes e presidentes, porque nele havia um espírito excelente; e o rei pensava constituí-lo sobre todo o reino. Então os príncipes e os presidentes procuravam achar ocasião contra Daniel a respeito do reino; mas não podiam achar ocasião ou culpa alguma; porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum vício nem culpa.” Daniel 6:3 e 4.

Em capítulos anteriores há passagens bíblicas que descrevem outras importantes características de Daniel, as quais revelam a pureza de seu caráter (Daniel 1:8; 2:20-23; 2:49; 5:11 e 12; 5:17).

O profeta Daniel era um dos homens mais poderosos e influentes da corte, aparentemente o segundo depois do próprio rei. Não é difícil imaginar alguém cobiçando o posto. É muito provável que os demais presidentes e sátrapas tivessem ciúmes de Daniel, um estrangeiro que ocupava um lugar importante no reino. A cobiça é uma característica do inimigo de Deus. Satanás foi expulso do Céu porque desejou uma posição que não era sua. Quando os presidentes e sátrapas não conseguiram encontrar nada no caráter e nem nas atividades profissionais de Daniel, para que pudessem desacreditá-lo perante o rei Dario, eles resolveram atingir Daniel em sua prática de lealdade para com o Deus Criador. O decreto declarava que ninguém poderia fazer qualquer petição a qualquer deus ou homem, exceto ao rei, por trinta dias. Em outras palavras, durante esse período de trinta dias, nenhum outro deus deveria ser adorado, exceto o rei Dario (Daniel 6:5-8).

Daniel enfrentou um teste de lealdade para com a lei de Deus. A questão envolvida era: ADORAÇÃO. Homens ímpios planejaram todo o mal contra esse fiel servo de Deus. Em situações como estas, o pecado acariciado na mente torna-se cada vez mais robusto e cruel: Começa com o ciúme, inveja, ambição, mentira e finaliza com a prática do homicídio doloso.

Quando o profeta Daniel soube que o decreto havia sido assinado, entrou em casa, e como era seu costume, três vezes ao dia se punha de joelhos para orar e dar graças diante do seu Deus (Daniel 6:10). Era uma prática do povo de Deus invocar a Deus três vezes ao dia (Salmos 55:16 e 17), voltados para Jerusalém, onde havia sido edificado o templo de Deus. Quando da dedicatória do templo, o rei Salomão, referindo-se àqueles que porventura forem levados cativos para alguma terra longínqua ou próxima e “se eles se arrependerem de todo o seu coração e de toda a sua alma, na terra do seu cativeiro, a que os tenham levado cativos, e orarem voltados para a sua terra, que deste a seus pais, e para a cidade que escolheste, e para a casa que edifiquei ao Teu nome, ouve então do Céu, lugar da tua habitação, a sua oração e as suas súplicas, defende a sua causa e perdoa ao teu povo que houver pecado contra Ti.” II Crônicas 6:37-39. Fechar as venezianas da janela e orar a Deus na solidão do seu quarto teria sido uma saída fácil para Daniel. No entanto, ele era uma pessoa metódica. Os seus inimigos sabiam que podiam contar que ele iria orar todos os dias em certo tempo e lugar. Ele não se intimidou com o decreto do rei.


III – DANIEL LANÇADO NA COVA DOS LEÕES

Após ser denunciado pelos inimigos, Daniel foi trazido à presença do rei. Profundamente penalizado com a situação, o rei Dario reconheceu que Daniel era servo de Deus (Daniel 6:16). Na verdade, antes desse verso podemos ver a reação do próprio Dario, que percebera a farsa engendrada contra Daniel, mas nada podia fazer após ter assinado o decreto. A lei dos medos e persas dizia que nem mesmo o rei podia modificar a lei; e se ele o fizesse, seria deposto (Daniel 6:15). Leões famintos, ferozes e cruéis estavam esperando por Daniel na cova. Uma grande pedra foi trazida e a sua abertura foi selada. O rei sela com o seu anel. Era uma garantia para os inimigos de Daniel de que nenhuma tentativa seria feita para salvá-lo e uma garantia para o rei, de que Daniel não seria prejudicado de alguma forma pelos seus inimigos. O rei tinha forte esperança de que o Deus de Daniel o preservaria dos leões (Daniel 6:17).

Diz o relato bíblico que o rei Dario dirigiu-se naquela noite para o seu palácio e “passou a noite em jejum, e não deixou trazer à sua presença instrumentos de música; e fugiu dele o sono.” Daniel 6:18.

Ao romper do dia, o rei Dario foi até à cova dos leões. “E, chegando-se à cova, chamou por Daniel com voz triste; e, falando o rei, disse a Daniel: Daniel, servo do Deus vivo! Dar-se-ia o caso que o teu Deus, a quem tu continuamente serves, tenha podido livrar-te dos leões? Então Daniel falou ao rei: Ó rei, vive para sempre! O meu Deus enviou o seu anjo, e fechou a boca dos leões para que não me fizessem dano, porque foi achada em mim inocência diante dele; e também contra ti, ó rei, não tenho cometido delito algum.” Daniel 6:20-22.

Daniel sabia que estava vivendo em harmonia segundo a vontade de Deus, e que não havia feito nada que justificasse a sua condenação. Por ter Daniel confiado em Deus, Ele enviou o Seu anjo para fechar a boca dos leões. Daniel tinha conhecimento das promessas de Deus (Salmos 46:1; Salmos 34:7).

Em seguida todos os homens que levantaram acusações contra Daniel, com suas famílias, foram lançados na cova dos leões. Antes que chegassem no fundo da cova, os leões se apoderaram deles (Daniel 6:24). Estes homens que tentaram liquidar a Daniel, assim procederam mesmo sabendo da inocência do profeta de Deus e do registro excelente de sua vida, ao longo de aproximadamente sessenta e oito anos. À semelhança do rei Belsazar, e de tantas outras pessoas que vivem nos dias de hoje, esses homens “não acolheram o amor da verdade” (II Tessalonicenses 2:10).


IV - CONCLUSÃO

Logo depois quando ocorreu a manifestação do poder de Deus para com o profeta Daniel, o rei Dario expressou ligeiramente que ele possuía alguma correta compreensão do caráter e do poder de Deus (Daniel 6:27: Salmos 59:1 e 2). No mais, a compreensão que o rei tinha a respeito de Deus era muito limitada. Isso pode ser entendido melhor no decreto que ele baixou. O relacionamento com Deus precisa se basear em nosso próprio encontro pessoal com Ele, por causa do Seu amor, Sua misericórdia, Seu poder, em contraste com a nossa pecaminosidade, nosso desamparo e nossa grande necessidade de redenção. Por causa destes e outros motivos nós O adoramos. A adoração a Deus não pode ser forçada através um decreto por qualquer pessoa, ou governo, ou nem mesmo por uma igreja.

A relevância dessa história para as nossas necessidades atuais é salientada pelo apóstolo Pedro:

“Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar.” I Pedro 5:8.

As pessoas que fixam sua fé em Deus podem ser livradas das tentações de Satanás do mesmo modo como Daniel foi libertado dos leões, pois, como disse o rei Dario, o nosso Deus “é o Deus vivo e que permanece para sempre”. Dan. 6:26.