Apocalipse 13 – A Identificação das Duas Bestas
Profecias do Apocalipse (Parte II)
I – INTRODUÇÃO
Antes de analisarmos o capítulo treze do livro do Apocalipse, devemos lembrar-nos que no capítulo anterior está implícita a mensagem de que há uma guerra entre a descendência da mulher e a descendência da serpente. Deus declarou em Gênesis 3:15 que haveria guerra entre estas duas partes.
Esta guerra, tanto quanto atingem os relatórios humanos, tem prosseguido por quase seis milênios. Avizinhamo-nos de suas últimas fases. Deus também, através de todo esse tempo, tem estado a operar, revelando Seu desejo de salvar os homens, pondo à mostra as ciladas do maligno.
Vimos que toda esta batalha é detalhada no capítulo doze do livro do Apocalipse e ali é desmascarado Satanás, o grande inimigo e perseguidor do povo de Deus de todos os tempos. Ele é apresentado simbolicamente em forma de um dragão vermelho possuindo sete cabeças com diademas e dez chifres. As sete cabeças com diademas simbolizam sete reinos com autoridade política, cada qual exercendo o seu período de domínio, através dos quais tem operado Satanás para oprimir e destruir os descendentes da mulher, os quais seguem os princípios ensinados por Deus. As sete cabeças representam os seguintes reinos:
1ª. Cabeça: Egito
2ª. Cabeça: Assíria
3ª. Cabeça: Babilônia
4ª. Cabeça: Medo-Persa
5ª. Cabeça: Grécia
6ª. Cabeça: Império Romano
7ª. Cabeça: Roma Eclesiástica
Estes reinos, sendo cabeças do dragão vermelho, significam que eles agiram e dominaram em conformidade com a mente e caráter de Satanás.
Da lista dos sete reinos, os dois últimos passaram a ser destacados no capítulo treze do livro do Apocalipse, por suas campanhas cruéis e sanguinárias e por serem dois poderes intolerantes e perseguidores do povo de Deus. Neste capítulo eles estão sendo representados simbolicamente por duas bestas ou dois reinos: Império Romano e Roma Eclesiástica.
II – A PRIMEIRA BESTA – IMPÉRIO ROMANO
“Então vi subir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças nomes de blasfêmia. E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder e o seu trono e grande autoridade. Também vi uma de suas cabeças como se fora ferida de morte, mas a sua ferida mortal foi curada. Toda a terra se maravilhou, seguindo a besta. E adoraram o dragão, porque deu à besta a sua autoridade; e adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela?”Apocalipse 13:1-4.
Os dez chifres da primeira besta de Apocalipse 13 representam a fragmentação do Império Romano e são apresentados com diademas ou coroas. Isto evidencia que estes reinos passariam a exercer domínio político somente após a divisão deste poderoso Império (Apocalipse 17:12-14).
As sete cabeças da primeira besta de Apocalipse 13 representam reinos e são apresentadas sem diademas ou coroas. Este fato comprova que estes reinos, no transcurso do cumprimento dessa profecia, perderiam o domínio político, como resultado do processo sucessório. De fato alguns desses reinos já nem mais existiam ou perderam o domínio quando o profeta João escreveu o livro do Apocalipse (Apocalipse 17:10), mas as suas ideologias e práticas pagãs continuariam vivas, influenciando fortemente o Império Romano.
Entendemos que esta primeira besta de Apocalipse 13 é o Império Romano e não Roma Eclesiástica ou Igreja Romana, como alguns a interpretam, pelos seguintes motivos:
a) A primeira besta de Apocalipse 13 e o quarto animal simbolizado pelo Império Romano apresentado em visão ao profeta Daniel, subiram do mar (compare Daniel 7:3 com Apocalipse 13:1). O termo “mar” simbolicamente significa “povos, multidões, nações e línguas” (Isaías 17:12 e 13; Jeremias 47:1 e 2; Apocalipse 17:15). Não há registro histórico e nem bíblico de que Roma Eclesiástica tenha surgido do “mar”, isto é, entre povos, multidões, nações e línguas. A história confirma que Roma Eclesiástica surgiu não em conseqüência de lutas e conquistas armadas como os grandes poderes mundiais das profecias, mas desenvolveu-se dentro do Império Romano;
b) A primeira besta de Apocalipse 13 e o quarto animal apresentado em visão ao profeta Daniel tinham dez chifres (compare Daniel 7:7 com Apocalipse 13:1). Não há registro bíblico de que Roma Eclesiástica tivesse dez chifres. Conforme Daniel 7:7, os dez chifres que saíram do quarto animal tem tudo a ver com o Império Romano, pois eles representam a fragmentação simbólica deste poderoso império, ocorrido em 476 d.C.
c) Os pormenores especiais dos detalhes da descrição da visão asseguram infalivelmente que esta besta é um emblema do Império Romano. Diz o texto que esta besta era semelhante ao leopardo, os seus pés como os de urso e a sua boca como a de leão. No símbolo do leopardo, nós deparamos sua sagacidade e presteza na consecução de seus fins; na figura dos pés de urso, vemos a sua força e seu poder subjugador sobre os seus oponentes; e, na boca simbólica de leão, vemos o seu orgulho e as suas pretensões de alcançar a supremacia mundial. Tudo isto a besta tem herdado dos animais representativos dos grandes impérios opressores e arrogantes da história, que no passado arruinaram o mundo com suas pretensões, suas conquistas e suas desumanas destruições. Em outras palavras, o Império Romano reuniu nele os traços de alguns desses reinos que exerceram poder tirânico sobre o povo de Deus no passado. Ele reuniu na boca de leão, o orgulho de Babilônia; nos pés de urso, os horrores de Medo-Persa; no corpo de leopardo, o sistema filosófico humano da antiga Grécia. A verdade é que Satanás entregou ao Império Romano o seu poder, o seu trono e grande autoridade.
d) O texto em análise diz que o profeta João viu uma das cabeças da primeira besta “como se fora ferida de morte, mas a sua ferida mortal foi curada. Toda a terra se maravilhou, seguindo a besta.” (Apocalipse 13:3). Aqui o profeta João está se referindo à queda do poderoso Império Romano, o qual, depois de sofrer sucessivas derrotas, foi ferido de morte em 476 d.C. Para cumprimento desta profecia, a ferida de morte teria que ocorrer antes do período de perseguição aos santos, período este conhecido pelos 1260 anos, de 538 a 1798 d.C., isto porque, em Apocalipse 13:3 ocorreu a ferida de morte e em Apocalipse 13:5 foi lhe dada autoridade para perseguir o povo de Deus. A seqüência dos fatos relatados na profecia precisa ser rigorosamente respeitada. A história fornece detalhadas informações e confirma que Roma Eclesiástica surgiu como poder dominante depois da queda e fragmentação do Império Romano. Ela é o mesmo poder representada pelo chifre pequeno que o profeta Daniel viu subir dentre os dez chifres ou pontas existentes na cabeça do quarto animal (Daniel 7:8). Ao ser mencionado que a ferida mortal do Império Romano tinha sido curada, Deus desejou mostrar, que, apesar da ocorrência da queda ou do fim deste Império, toda a sua estrutura de poder, suas ideologias pagãs e suas campanhas sanguinárias continuariam vivas, através as ações de Roma Eclesiástica, sua legítima sucessora. Muito importante observar que na estátua apresentada em visão ao rei Nabucodonosor, os pés eram de ferro e barro (Daniel 2:33). O “ferro” era uma representação do Império Romano, o quarto reino, que seria forte e que quebraria e esmiuçaria tudo (Daniel 2:40). Esta simbologia indica que a estrutura do Império Romano continuará viva até a volta de Jesus, pois na Sua segunda vinda os pés da estátua serão atingidos e o ferro, que ainda estará presente, será esmiuçado juntamente com o barro, bronze, prata e o ouro (Daniel 2:35).
A Igreja Romana criou-se e consolidou-se dentro do Império Romano. Ela faz parte da história deste poderoso Império. Quando Constantino, o Imperador Romano, sela a união Estado-Igreja, o Império Romano sofre uma metamorfose, passando do paganismo declarado para o paganismo cristianizado. Esta é a razão porque o profeta João insere na seqüência as ações de Roma Eclesiástica. Diz a profecia que “foi lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias; e deu-se-lhe autoridade para atuar por quarenta e dois meses. E abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do Seu nome e do Seu tabernáculo e dos que habitam no Céu.
Também lhe foi permitido fazer guerra aos santos, e vence-los; e deu-se-lhe autoridade sobre toda tribo, e povo, e língua, e nação. E adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.” Apocalipse 13:3-8.
De acordo com esta profecia, a segunda besta, sucessora do Império Romano, teria caráter religioso e seu poder temporal teria a duração de 42 meses proféticos (42 meses x 30 dias= 1.260 dias) ou 1.260 anos, de 538 a 1798 d.C. Com relação a esta besta, a profecia não nos autoriza a encobrir a verdade. É mais uma peça a se ajustar neste grande quebra-cabeça das profecias de Deus.
III – A SEGUNDA BESTA – ROMA ECLESIÁSTICA
“E vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como dragão.
Também exercia toda a autoridade da primeira besta na sua presença; e fazia que a terra e os que nela habitavam adorassem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada.” Apocalipse 13:11 e 12.
A segunda besta surge “da terra”. Isto deve indicar que ela surgiria não entre povos, multidões, nações e línguas.
Quão apropriadamente Roma Eclesiástica encaixa-se nesta profecia, pois ela surgiu e desenvolveu-se lentamente dentro do Império Romano, assim como uma planta que nasce, cresce e atinge a sua culminância. Ela transformou-se em um sistema religioso monumental de engano. Ela é identificada também como sendo o “falso profeta” (Apocalipse 19:20), pois afastou-se dos ensinamentos da Palavra de Deus e introduziu em seu lugar conceitos filosóficos de origem pagã.
Esta besta tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro e falava como dragão. O fato de os chifres serem semelhantes aos de um cordeiro, dá a entender que esta besta teria caráter predominantemente religioso, sendo os dois chifres uma indicação que esta besta exerceria suas ações através o poder político e religioso. Uma besta simbólica como esta, é motivo para se temer, não pelos simbólicos e inofensivos chifres de cordeiro, mas pela própria besta que, sob o disfarce de chifres de cordeiro, esconde sua verdadeira natureza. A voz do dragão é a voz de intolerância e perseguição. O dragão é simbolizado no Apocalipse 12 como sendo Satanás. A sua voz foi ouvida pela primeira vez no Jardim do Éden, para afastar o homem de Deus e com intuito de levá-lo à ruína e perdição eternas. É claro que ele fala por intermédio de seus agentes humanos e através deles tem planejado perverter os puros ensinamentos de Deus
De acordo com esta profecia, Roma Eclesiástica passaria a exercer toda a autoridade da primeira besta. Em outras palavras, esta segunda besta seria fiel servidora do Império Romano, o qual, embora ferido mortalmente em 476 d.C., continuaria vivo, porque toda a sua estrutura de poder e ideologias pagãs passariam a ser praticadas por Roma Eclesiástica, sua sucessora e que resultaria na formação da imagem da primeira besta.
Ainda com relação à segunda besta, o profeta João diz que “ela operava grandes sinais, de maneira que fazia até descer fogo do céu à terra, à vista dos homens; e, por meio dos sinais que lhe foi permitido fazer na presença da besta, enganava os que habitavam sobre a terra e lhes dizia que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia.” Apocalipse 13:13 e 14.
A besta “que recebera a ferida da espada e vivia”, é o Império Romano, aquela que subiu do mar. A segunda besta, Roma Eclesiástica, além de ser um poder religioso, estaria revestida também do poder civil, que copiaria as leis e toda a estrutura da primeira besta, formando desta forma uma imagem à primeira besta.
A segunda besta é um poder religioso apóstata de grande magnitude, que arrasta multidões, engana e as faz obedecer às disposições idólatras herdadas da primeira besta. Os sinais operados por ela enganariam os habitantes da terra. Isto indica claramente que os seus ensinos nada têm a ver com os ensinamentos deixados pelos profetas e apóstolos, mas sim, é uma demonstração de obediência e submissão a primeira besta que tem se levantado contra Deus.
Trata-se de uma apostasia que já tinha sido prevista nos tempos dos apóstolos. Era certamente uma das mais claras e tristes profecias do Novo Testamento concernentes à história do povo de Deus. A esse respeito o apóstolo Paulo escreveu o seguinte:
“Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles.” Atos 20:29 e 30.
À medida que o remanescente povo de Deus avançou em direção à sua experiência sob o domínio do Império Romano, a profecia do apóstolo no tocante à apostasia encontrou contínuo cumprimento. De fato, enche-nos de tristeza a história de como muitos dos primitivos cristãos se lançaram precipitadamente no tobogã da apostasia.
Era um processo que fazia parte das grandes pretensões de Roma Eclesiástica. Além disso, cumprindo a profecia, foi lhe concedida a prerrogativa especial para perseguir os santos do Altíssimo por 1260 dias ou anos (Apocalipse 12:6; 12:14 e 13:5), de 538 a 1798 d.C., quando ela deu fôlego à imagem da primeira besta, fazendo ressuscitar as antigas leis do Império Romano, revitalizando a prática de tortura legal, banimento, confisco, demolição de casas e anulação das liberdades individuais. Com a perda dos direitos civis, as pessoas não podiam comprar e nem vender. A esse respeito diz a profecia:
“Foi-lhe concedido também dar fôlego à imagem da besta, para que a imagem da besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta. E fez que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, lhes fosse posto um sinal na mão direita, ou na fronte, para que ninguém pudesse comprar ou vender, senão aquele que tivesse o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.” Apocalipse 13:15-18.
De 538 a 1798 d.C. a religião romana lançou feroz e implacável perseguição contra todos os que se opuseram ou discordaram de seus princípios. A inquisição foi oficialmente criada em 1229 d.C., no Concílio de Toulouse. Era um tribunal eclesiástico que julgava os hereges e as pessoas suspeitas de se desviarem da ortodoxia da religião romana. Eram protegidos apenas aqueles que defendiam as falsas doutrinas criadas por Roma Eclesiástica. Em termos simbólicos isto significava que estes possuíam o sinal da besta. Entre as muitas doutrinas que não têm respaldo bíblico e que foram implantadas como princípios de fé de Roma Eclesiástica, nós enumeramos as seguintes: Trindade, morada nos céus, imortalidade da alma, domingo como dia de repouso semanal, etc.
Muitos defendem a idéia de que os Estados Unidos da América do Norte seja esta segunda besta. Esta interpretação é totalmente equivocada, pois com relação à besta que subiu da terra o profeta declara que “aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.” (Apocalipse 13:18). O contexto assim o determina, por isso entendemos que este número está associado à Roma Eclesiástica, por estar vinculado à questões de adoração ao deus sol e falsidade ideológica. O dragão, a besta e o falso profeta comandam este falso sistema político-religioso, o qual está fundamentado em leis e doutrinas criadas pelo próprio homem.
IV - CONCLUSÃO
Diante da exposição deste décimo terceiro capítulo do Apocalipse, a mais acertada decisão que todo o homem e toda a mulher devem tomar, é livrar-se dessa teia construída pelo dragão, pela besta e pelo falso profeta. Os três estarão ativos na sexta praga, quando se desenrolarão os últimos acontecimentos (Apocalipse 16:13). Diz a Palavra de Deus que na segunda vinda do Messias, a besta e o falso profeta que fizera diante dela os sinais com que enganou os que receberam o sinal da besta, serão lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre (Apocalipse 19:20). O dragão ou diabo, porém, será lançado no lago de fogo e enxofre depois dos mil anos de reinado do Messias (Apocalipse 20:10).
A promessa de Deus é conceder uma vida melhor ao fiel povo de Deus: “E vi um como mar de vidro, misturado com fogo; e também os que saíram vitoriosos da besta, e da sua imagem, e do seu sinal, e do número do seu nome, que estavam junto ao mar de vidro, e tinham as harpas de Deus.” Apocalipse 15:2. A única salvaguarda é refugiar-se em Deus e sair com a máxima urgência da grande Babilônia (Apocalipse 18:4).