I – INTRODUÇÃO

Conhecer cada vez melhor o panorama traçado para este mundo é nosso dever e grande privilégio. Através das revelações proféticas do livro do Apocalipse, Deus abre as cortinas para que o povo de Deus contemple o seu futuro, mostrando suas intensas lutas e sua final vitória nesta guerra contra Satanás. Não há mistérios em seus escritos. Deus jamais enviaria uma mensagem incompreensível, oculta ou misteriosa, pois, de nada adiantaria. As palavras iniciais do Apocalipse deixam bem evidente a fonte original de sua procedência:

“Revelação de Jesus Cristo, que Deus Lhe deu para mostrar aos Seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e, enviando-as pelo Seu anjo, as notificou a Seu servo João.” Apocalipse 1:1.

De acordo com o texto, embora seja a “revelação de Jesus Cristo”, seu verdadeiro Autor é Deus, a Eterna Fonte de toda a sabedoria e verdade. O livro do Apocalipse foi escrito aproximadamente no ano 95 d.C. Embora esta revelação trate de “coisas que brevemente devem acontecer” (Apocalipse 1:1), há fatos, porém, que tiveram seu desdobramento antes de 95 d.C. Especificamente no capítulo 12 deste livro destacamos os seguintes: A perseguição de Satanás à mulher, para tentar impedir o nascimento do Filho de Deus (Apocalipse 12:4); a expulsão de Satanás do Céu (Apocalipse 12:7-9); a forte influência de Satanás junto aos reinos que dominaram o povo de Deus no passado (Apocalipse 12:3).

O último livro da Bíblia apresenta-nos o ato final da longa história do fiel povo de Deus, cuja jornada começou no jardim do Éden, quando foi apresentada pelo Criador a primeira promessa de um Salvador, o qual viria da semente da mulher:

“Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça e tu Lhe ferirás o calcanhar.” Gênesis 3:15.

Com intuito de impedir o cumprimento dessa promessa, Satanás inicia sua implacável batalha contra aqueles que decidiram andar com Deus.

Para os que seguem a Deus, o futuro do mundo acha-se amplamente delineado em todas as suas páginas. Através deste livro vemos a consumação do plano divino para restauração do mundo, o clímax das relações de Deus com o homem caído em pecado e o cumprimento de todas as promessas do Evangelho. Neste contexto, o capítulo doze de Apocalipse revela por meio de símbolos a tremenda batalha comandada pelo arquiinimigo de Deus. Identifica as suas ações e desmascara as suas artimanhas, bem como as suas estratégias por detrás dos bastidores.

Para uma correta compreensão e interpretação dos símbolos mencionados neste capítulo, é indispensável estar atento às respostas de Deus encontradas na Sua Palavra, pois “nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.” II Pedro 1:20.


II – A MULHER VESTIDA DO SOL

“E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. E estando grávida, gritava com as dores do parto, sofrendo tormentos para dar à luz” Apocalipse 12:1 e 2.

A mulher que o apóstolo João viu na visão é uma representação simbólica do remanescente fiel povo de Deus de todas as épocas, antes e depois de Cristo. O apóstolo Paulo retrata bem esse remanescente em sua epístola aos Romanos:

“Deus não rejeitou ao Seu povo que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como ele fala a Deus contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os Teus profetas, e derribaram os Teus altares; e só eu fiquei, e procuram tirar-me a vida? Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para Mim sete mil varões que não dobraram os joelhos diante de Baal. Assim, pois, no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça.” Romanos 11:2-5.

A mulher está vestida com o esplendor do Céu. As suas vestes são refulgentes, pois ela estava coberta com a justiça de Deus (Salmos 84:11). O povo de Deus no passado estava sendo justificado de todas as suas transgressões, através a grande solenidade do dia da expiação que era celebrada uma vez ao ano e que apontava para a missão salvífica do Salvador vindouro.

O texto sob análise diz que a mulher tem a lua debaixo de seus pés. A única referência bíblica em que a lua aparece num contexto simbólico está em Gênesis 37:9. No sonho de José aparecem o sol, a lua e as estrelas, simbolicamente associados à sua família. A lua naquele caso representava Raquel, a esposa de Jacó (Israel). Entendemos que não é possível associar os mesmos simbolismos à figura da mulher de Apocalipse 12. A lua, que reflete a luz do sol, poderia ser o sistema de sacrifícios praticados pelo povo de Deus durante o velho pacto, que refletia a obra redentora do esperado Messias e que ao mesmo tempo era a base de seus anseios e esperanças.

Outro detalhe a destacar no texto em questão é que a mulher tem uma coroa de doze estrelas sobre sua cabeça. A coroa representa a elevada posição do remanescente povo de Deus através todos os tempos em todos os seus combates contra as forças do mal. Enquanto que as doze estrelas simbolizam as doze tribos de Israel e os doze apóstolos. As doze tribos de Israel e os doze apóstolos estão interligados, pois numa outra visão foi mostrado ao profeta João a Nova Jerusalém. Lá havia um grande e alto muro com doze portas; sobre as portas estavam escritos os nomes das doze tribos de Israel (Apocalipse 21:12). O muro da Santa Cidade tinha doze fundamentos e neles estavam escritos os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro (Apocalipse 21:14).

A mulher estava grávida. Através a descendência desse povo nasceria o tão esperado Messias. Apenas um pequeno remanescente dentre o povo de Israel esperava o nascimento do Filho de Deus, como uma mulher grávida espera seu filho, um filho que viria de uma das tribos de Israel (Judá). Os gritos e a ânsia demonstravam as dificuldades deste povo em meio ao sofrimento a que estava passando, sendo dominado pelos inimigos e desejando a liberdade, como uma criança se liberta de um ventre para a vida. Esta ansiedade pela chegada do Libertador era sentida desde a primeira promessa messiânica feita no Jardim do Éden (Gênesis 3:15), passando por Abraão, até a expectativa de fiéis como Simeão e Ana, e muitos outros (Lucas 2:29-32 e 34).

Na era pós Cristo, os novos conversos, judeus e gentios, dispersos pela perseguição, têm enfrentado uma guerra sem tréguas por parte de Satanás, por não se aliarem aos poderes seculares. Apesar de ser oprimido e perseguido, esse povo permanecerá fiel aos requisitos da lei de Deus e do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo (Apocalipse 14:12).


III – O GRANDE DRAGÃO VERMELHO

“Viu-se também outro sinal do céu: eis um grande dragão vermelho que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas; a sua cauda levava após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; ...” Apocalipse 12:3 e 4.

A profecia do dragão vermelho é uma das mais extraordinárias do Apocalipse. No mesmo capítulo doze de Apocalipse, ele é identificado como sendo a antiga serpente, o diabo e Satanás:

“ E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama o diabo e Satanás, que engana todo o mundo; ...” Apocalipse 12:9.

Durante o milênio, ao Satanás ser preso e lançado no abismo, o profeta João volta a identificá-lo como sendo o dragão:

“Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás.” Apocalipse 20:2.

O grande dragão vermelho é Satanás. Ele é o articulador de todas as más ações, influenciando agentes humanos para executar os seus intentos de impedir e desvirtuar a proclamação da verdade. Ele foi o promotor de uma guerra no Céu (Apocalipse 12:7-9) Ele foi expulso do Céu e precipitado na terra juntamente com uma terça parte dos anjos. Satanás é descrito como sendo “o acusador de nossos irmãos” (Apocalipse 12:10).

O dragão tinha sete cabeças com diademas e dez chifres. As sete cabeças são sete reinos e são também reis (Apocalipse 17:9 e 10) diretamente influenciados por Satanás para oprimir o povo de Deus. O curioso é que há diademas ou coroas apenas sobre as sete cabeças e não sobre os dez chifres. Através esse detalhe fica claro que os sete reinos tiveram seu período de domínio sobre o povo de Deus, cada um em sua respectiva época. Entendemos que os sete reinos que dominaram o povo de Deus foram: Egito, Assíria, Babilônia, Medo-Persa, Grécia, Roma Imperial e Roma Eclesiástica.

Os dez chifres representam a diversidade de poderes políticos, que até então não exerceram domínio, pois não havia diademas sobre eles. Estes poderes políticos receberam domínio somente mais tarde, após o surgimento da besta que subiu do mar (Apocalipse 13:1).


IV – A IMPLACÁVEL PERSEGUIÇÃO DO DRAGÃO

“...e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho. E deu à luz um filho, um varão que há de reger todas as nações com vara de ferro, e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o Seu trono. E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias. ...E, quando o dragão viu que fora lançado na terra, perseguiu a mulher que dera à luz o varão. E foram dadas à mulher duas asas de grande águia, para que voasse para o deserto, ao seu lugar, onde é sustentada por um tempo, e tempos, e metade de um tempo, fora da vista da serpente. E a serpente lançou da sua boca, atrás da mulher, água como um rio, para que pela corrente a fizesse arrebatar. E a terra ajudou a mulher; e a terra abriu a sua boca e tragou o rio que o dragão lançara da sua boca.” Apocalipse 12:4-6, 13-16.

A mulher que deu à luz um Filho se torna agora objeto do ataque de Satanás, simbolizado pela figura do dragão. A mulher é um organismo formado por pedras vivas (I Pedro 2:5), compostas por homens e mulheres que têm irradiado a luz do Céu antes e depois de Cristo. Satanás manteve-se vigilante quanto ao nascimento do Messias na esperança de tirar-Lhe a vida ao nascer. Através de Herodes, intentou Satanás eliminar Jesus, quando decretou a matança das criancinhas de dois anos para baixo em Belém (Mateus 2:13-16). Herodes era um representante de Roma Imperial, uma das sete cabeças do dragão, e, através deste poder procurou matar o Filho de Deus.

Ao ver-se vencido mais uma vez e compreendendo que a morte do Filho de Deus assegurara a sua futura destruição, Satanás enfureceu-se sobremaneira e procurou vingar-se daquele povo remanescente que creu no sacrifício expiatório de Jesus e permaneceu fiel ao lado de Deus.

Imediatamente instou terrível perseguição contra os que aceitaram a Jesus, empregando para isto os próprios líderes judeus e o rei Herodes Antipas. As prisões foram abarrotadas de fiéis e se fizeram notar os primeiros mártires da fé.

O remanescente povo de Deus dispersou-se de Jerusalém e, onde quer que os apóstolos e inúmeros outros fiéis anunciavam a Jesus, eram tenazmente perseguidos pelos agentes do inimigo de Deus. Por fim os imperadores romanos, alarmados com os progressos da pregação do evangelho de Jesus Cristo, desembainharam a espada, desde Nero a Deocleciano, e fizeram correr rios de sangue em todo o império romano.

Depois de usar Roma Imperial contra o remanescente povo de Deus, Satanás usou Roma Eclesiástica. Durante mais de doze séculos, precisamente 1260 anos (um tempo, dois tempos e metade de um tempo), de 538 a 1798, muitos dos descendentes da mulher foram perseguidos e mortos, enquanto que outros foram preservados por Deus em lugares seguros, onde mantiveram acesos os princípios inabaláveis das Sagradas Escrituras.

Diz o texto bíblico que “a serpente lançou da sua boca, atrás da mulher, água como um rio, para que pela corrente a fizesse arrebatar”. A serpente, conforme Apocalipse 12:9, é o próprio Satanás. Águas, nas profecias, representam povos, multidões, nações e línguas (Apocalipse 17:15). Um rio saindo da boa do dragão dá a idéia de perseguição. Via de regra, sempre que “rios” são usados como figura de povos, nações, há ali um contexto de lutas (Isaías 8:7; Salmos 93:3; Jeremias 46:7-8). Durante o período negro da história da humanidade, Satanás usou Roma Eclesiástica para “afogar” o remanescente povo de Deus, através a “santa inquisição” e também enviando atrás dele as hordas sanguinárias das "Cruzadas", compostas de reis e exércitos fanáticos sedentos de sangue inocente, simbolicamente representadas nesta profecia por um “rio”. Milhões sucumbiram sob a espada desses cruéis inquisidores.

Providencialmente a terra ajudou a mulher, engolindo o rio (Apocalipse 12:16). Se o rio representa perseguição, a terra neste contexto representa proteção. Para não ser extinto completamente, Deus protegeu o Seu povo, guiando-o para algum lugar seguro, para que ali pudesse restabelecer-se e em seguida continuar sua missão de pregar o Evangelho eterno.


V – CONCLUSÃO

“E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao resto da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo.” Apocalipse 12:17.

No final do capítulo 12 de Apocalipse, a Bíblia é explícita: O dragão vai fazer guerra contra o remanescente povo de Deus, também chamado de “resto”, o qual, depois de sustentado por Deus durante o período de 1260 anos profeticamente representado no verso 6 e no verso 14, passa a ser novamente objeto da ira de Satanás. Esse “resto”, todavia, não é uma nova organização ou nova instituição, mas é aquele mesmo povo que descendeu da contínua linha de obediência desde o jardim do Éden, da qual nasceu o Filho de Deus. Esse povo estabeleceu sua plataforma de fé nos mandamentos de Deus e no testemunho de Jesus Cristo (Apocalipse 12:17).

É um capítulo que desmascara as cruéis ações de Satanás, identificando-o como sendo o mentor de todas as atrocidades contra o povo de Deus em todas as épocas. Como vimos, o dragão do Apocalipse 12 não é um reino, mas trata-se do próprio Satanás. Ele foi derrotado por Cristo.

Assim como a providência amorosa de Deus atendeu às necessidades de Seu povo no passado, igualmente irá atender no futuro. Pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do Seu testemunho, o povo remanescente de Deus tem assegurado a vitória contra Satanás (Apocalipse 12:11).