As Duas Naturezas de Cristo – O Que Diz a História?
Estudo Sobre a Questão da Preexistência de Cristo (Parte I)
I – INTRODUÇÃO
O que revela a história sobre a origem da crença que ensina que Jesus é Deus, possuidor de duas naturezas? É bíblico esse ensinamento? Infelizmente com o avanço do paganismo, os princípios ou os alicerces da fé do evangelho foram gradativamente sendo substituídos por ensinos errôneos com suas ideias e tradições humanas. Mesmo diante todos esses sutis ataques, os apóstolos enfrentaram com determinação quaisquer tentativas que tinham como objetivo corromper a genuína fé e os puros ensinos da Palavra de Deus.
O apóstolo Paulo escreveu que ainda no seu tempo surgiriam homens que falariam coisas perversas e que falsos ensinos seriam introduzidos nas comunidades cristãs (ver Atos 20:28-31). O teor de algumas das cartas escritas pelos apóstolos é evidência clara de que eles estavam detendo a onda desses obreiros fraudulentos que forçava a corrupção da primitiva fé.
Já a partir do segundo século as portas das comunidades cristãs foram abertas aos mais degradantes e corruptos ensinos de homens que procuravam a preeminência em seu meio. O manancial da revelação divina foi abandonado em favor das criações filosóficas humanas. Os ensinos dos profetas e dos apóstolos inspirados foram trocados pelos ensinos de homens de mentes falíveis, desconectados em relação aos ensinos que Deus deu ao Seu povo no passado. Surgiram várias concepções errôneas sobre a pessoa de Cristo, ideias sobre a sua preexistência e ideias que negavam a sua plena humanidade.
Nessa mesma época muitas doutrinas de origem pagã começaram a se misturar às verdades bíblicas, sendo: Trindade, encarnação e a dupla natureza de Jesus. Todas estas doutrinas introduzidas pela igreja romana possuíam uma forte interligação e foram elaboradas dentro do ambiente greco-romano, portanto fora do ambiente judaico e consequentemente sem respaldo bíblico. A história revela como os concílios de Nicéia (325 dC), Constantinopla (381 dC) e de Calcedônia (451 dC) foram decisivos na aprovação e oficialização das doutrinas mestras da igreja romana.
II – CONCÍLIO DE NICÉIA (ANO 325 dC) – AS PRIMEIRAS DECISÕES DO PROCESSO DE CORRUPÇÃO DA GENUÍNA FÉ
A história registra que muitas doutrinas falsas foram gradativamente sendo introduzidas no seio das comunidades cristãs durante os primeiros séculos da nossa era. Nesse período da história, após o falecimento dos apóstolos, o verdadeiro povo de Deus não foi capaz de conter o avanço da apostasia, que foi cuidadosamente arquitetada pela Igreja Romana através seus apologistas, os quais expressaram seus conhecimentos teológicos com base na filosofia grega de Platão, portanto, fora do ambiente judaico.
Nessa época outras doutrinas foram sendo incorporadas através os seus filósofos e teólogos, tais como a imortalidade da alma, domingo como dia de repouso, morada nos céus, etc. Aos poucos os ensinamentos das Escrituras Sagradas foram reinterpretados e ajustados para se adaptarem aos ensinamentos da filosofia pagã.
Paralelamente ao estudo da trindade, havia um outro estudo que levou algum tempo para ser aprovado pela Igreja Romana, pois ele gerou muitas controvérsias entre seus líderes. Esse estudo dizia respeito à pessoa de Jesus Cristo. O problema com que os teólogos dos séculos IV e V se defrontaram era extraordinariamente difícil: determinar a natureza da humanidade e da divindade de Cristo. Esse campo de investigação foi denominado como CRISTOLOGIA. Os dois temas, trindade e cristologia, por terem uma forte interligação teológica, eram considerados inseparáveis.
Para buscar restaurar a unidade, tendo em vista as controvérsias existentes, o Imperador Constantino convocou uma assembléia de prelados da Igreja, que se reuniria na cidade de Nicéia, em 325 dC. Bispos e o clero de todas as congregações foram convidados para assistirem ao Concílio, com todas as despesas pagas pelo Imperador. Através o Concílio de Nicéia ocorreram as primeiras decisões nesse processo de corrupção da genuína fé herdada dos profetas e apóstolos.
Eis o credo aprovado pelo Concílio de Nicéia:
“Cremos em um só Deus, Pai, todo-poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis;
E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, unigênito do Pai, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial (homoousios) ao Pai, por quem todas as coisas vieram à existência, tanto no Céu como na Terra, o qual por nós homens e para nossa salvação desceu do Céu e encarnou, fez-se homem, padeceu e ressurgiu de novo ao terceiro dia, subiu ao Céu e virá para julgar os vivos e os mortos;
E no Espírito Santo. Mas aqueles que dizem 'Houve um tempo em que Ele não existia', e 'Antes de nascer, Ele não existia', e que Ele veio a existir a partir do nada, ou que afirmam que o Filho de Deus é uma realidade ou substância diferente, ou que está sujeito a alteração ou mudança – esses são anatematizados pela Igreja católica e apóstolica”
(Fonte: Depois de Jesus, o triunfo do cristianismo – p. 221 e 223.)
As definições tomadas no Concílio de Nicéia foram elaboradas dentro do conceito que colocava Jesus como segunda pessoa da trindade (verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem).
O termo “encarnação”, mencionado no credo de Nicéia, é uma crença mística mergulhada na filosofia pagã. Ela foi introduzida pelos chamados “pais da igreja romana” já a partir do segundo século, sem o devido respaldo bíblico.
III – CONCÍLIO DE CONSTANTINOPLA (ANO 381 dC) – A OFICIALIZAÇÃO DA DOUTRINA DA TRINDADE
O debate sobre o tema da trindade e o estudo com relação à pessoa de Cristo teve prosseguimento, até que em 381 dC o Imperador Teodósio convocou um Concílio em Constantinopla. O seu único objetivo era eliminar de uma vez por todas o movimento ariano, que não concordava com os termos aprovados pelo Concílio de Nicéia. Ário, que nasceu em 256 dC e faleceu em 336 dC, deu início a esse movimento e era um dos líderes da Igreja Romana em Alexandria. Ele era de tal forma monoteísta que, na sua angústia de preservar a singularidade de Deus Pai, sentia que tinha de negar a co-eternidade de Cristo, o Filho de Deus. A ideia defendida por ele era: Se o Pai gerou o Filho, aquele que foi gerado teve necessariamente um começo de existência; é, portanto evidente, dizia Ário, que houve um tempo em que o Filho não existia. Ário teve ao seu lado um grande defensor, o bispo Eusébio de Cesaréia, conhecido escritor da Igreja Romana, o qual nunca aplicou à pessoa de Jesus o termo “theos”, porque, segundo ele, tudo o que é defendido para além disso, é suspeito de politeismo.
Quando se realizou o concílio em 381 dC, os bispos que se fizeram presentes, em sua maioria, contestaram a ideia do movimento ariano, pois eles viam nela uma negação do dogma da encarnação, recentemente aprovado pelo Concílio de Nicéia.
O Concílio de Constantinopla foi assistido por cerca de 150 bispos do oriente. Foi neste concílio que a doutrina da trindade tornou-se oficial em todas as fronteiras do império. Todos os que discordaram foram expulsos e excomungados de suas congregações. Eles foram considerados “hereges”.
A versão do Credo Niceno-Constantinopolitano foi aprovado nos seguintes termos:
“Cremos em um só Deus, Pai, todo-poderoso, criador do Céu e da Terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis;
E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho único de Deus, gerado do Pai antes de todos os tempos, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial (homoousios) ao Pai, por quem todas as coisas foram feitas, o qual por nós homens e para nossa salvação desceu do Céu, e encarnou pelo Espírito Santo e da Virgem Maria e se fez homem, e por nossa causa foi crucificado sob Pôncio Pilatos, e padeceu e foi sepultado, e ressurgiu de novo ao terceiro dia segundo as Escrituras, e subiu ao Céu e está sentado à mão direita do Pai, e virá de novo em sua glória para julgar os vivos e os mortos, e cujo Reino não terá fim;
E no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, que procede do Pai [e do Filho], e que com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, e que falou pelos profetas; e numa Igreja una, santa, católica e apostólica. Confessamos um só batismo para a remissão dos pecados; e esperamos na ressurreição dos mortos e na vida do mundo que há de vir. Amém.”
(Fonte: Depois de Jesus, o triunfo do cristianismo – p. 223)
Neste credo foi introduzida a falsa crença de que o Espírito Santo é uma PESSOA, considerado como “Senhor que dá a vida”, o qual deveria ser adorado e glorificado. Estabeleceu-se então que Deus Pai, Deus Filho e Deus Espirito Santo formariam a chamada “santíssima trindade”. Foi nesse concílio que esse dogma foi oficialmente aprovado, tendo o mesmo sido aceito, até os dias de hoje, por quase a totalidade das instituições religiosas.
IV – CONCÍLIO DE CALCEDÔNIA (ANO 451 dC) – DEFINIÇÕES SOBRE AS DUAS NATUREZAS DE CRISTO
Anos mais tarde o estudo teológico sobre a pessoa de Cristo prosseguiu, gerando novas controvérsias. Para solucionar mais esse impasse, Marciano, imperador romano do oriente convocou em 451 dC um novo concílio com a finalidade de definir a questão. Reuniram-se cerca de 520 bispos na Igreja de Santa Eufêmia, em Calcedônia. Mais da metade dos bispos assinou uma definição a respeito da “encarnação” e das “duas naturezas de Cristo”. Assim, o Concílio de Calcedônia declarou que em Cristo há duas naturezas, cada uma mantendo as suas próprias propriedades, e juntas unidas numa substância e, em uma única pessoa.
O credo de Calcedônia foi aprovados nos seguintes termos:
“Fiéis aos santos pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, e perfeito quanto à humanidade; verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, constando de alma racional e de corpo, consubstancial com o Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade, em tudo semelhante a nós, excetuando o pecado; gerado segundo a divindade pelo Pai antes de todos os séculos, e nestes últimos dias, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, nascido da virgem Maria, mãe de Deus; um e só mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, antes é preservada a propriedade de cada natureza, concorrendo para formar uma só pessoa e em uma substância; não separado nem dividido em duas pessoas, mas um só e o mesmo Filho, o Unigênito, Verbo de Deus, o Senhor Jesus Cristo, conforme os profetas desde o princípio acerca dele testemunharam, e o mesmo Senhor Jesus nos ensinou, e o Credo dos santos Pais nos transmitiu.”
Fonte: Wikipédia.
De acordo com este credo, o Filho foi gerado duas vezes: a primeira foi antes das eras e a segunda como homem, através a virgem Maria. Pergunta-se: Poderia o Filho de Deus ser gerado duas vezes? O credo ressalta inclusive a questão das duas naturezas, sendo elas inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis e inseparáveis. Obviamente estes conceitos não têm apoio bíblico.
V - CONCLUSÃO
Os credos aprovados transformaram-se num poderoso alicerce para a negação do claro e evidente ensinamento bíblico de que Jesus é um HOMEM:
“Porque há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus homem.” I Timóteo 2:5.
Quando se ensina que Jesus é Deus por natureza, ele não poderia ser nosso mediador, já que o texto acima citado mostra que há UM SÓ DEUS e UM SÓ MEDIADOR e este mediador é o HOMEM Cristo Jesus.
Os cristãos que desejam seguir os ensinos da Palavra de Deus devem hoje ter o cuidado ao lerem suas bíblias através das lentes dos Concílios da Igreja Romana. O correto e seguro é situar Jesus em seu contexto judaico do primeiro século. Este sim é um retorno às raízes da fé.
Qualquer estudo imparcial da história revelará as investidas dos homens cruéis que durante um período de tempo, nos diversos concílios eclesiásticos, intentaram modificar e omitir as palavras das escrituras, para apoiar suas doutrinas. É o caso do Concílio de Nicéia em 325 dC, que tinha como objetivo principal despersonalizar Deus e retirá-Lo da sua posição de Soberano e Todo-Poderoso do universo.
Aqueles nobres servos de Deus no passado, que combatiam tenazmente os falsos dogmas aprovados nesses concílios, além de terem sido chamados de “hereges”, foram presos, torturados e mortos. Estranhamente nos dias atuais os religiosas, em sua maioria, chamam esses mártires e valorosos servos de Deus como “heróis da fé”, por sua coragem de não apoiarem a onda de corrupção que minaria a genuína fé herdada dos profetas e apóstolos. Por outro lado, porém, se alguma pessoa nos dias atuais intentar se levantar contra esses mesmos ensinamentos filosóficos pagãos combatidos pelos mártires do passado, não seria ela chamada também de “herege” e não seria ela sumariamente expulsa de sua congregação? Há de se concluir, pois, que esses falsos ensinos perduram ainda até hoje e são apoiados pela maioria das instituições religiosas
.
O fiel povo de Deus precisa ser informado dessas corrupções e como elas estão sendo atualmente “canonizadas” por muitos como sendo a Palavra de Deus. Aqueles que se deixam guiar por Deus certamente saberão discernir entre a verdade revelada e os ensinamentos filosóficos pagãos, que se originaram fora das Escrituras Sagradas.
Esta série de estudos tem como objetivo apresentadar as muitas comprovações bíblicas, em resposta às equivocadas decisões dos concílios de Nicéia, Constantinopla e Calcedônia.