Ester – Exemplo de Mulher Sábia e Corajosa
Personagens da Bíblia (Parte VII)
I – INTRODUÇÃO
A história de Ester teve seu desdobramento durante o reinado de Assuero, quando exercia o terceiro ano de seu mandato como rei da Pérsia. O rei Assuero é conhecido historicamente como Xerxes I e reinou de 486 a 465 aC.
Após Babilônia ter sido derrotada pela Medo-Pérsia, vários decretos foram emitidos para que os judeus cativos pudessem retornar à sua terra natal a fim de restabelecerem suas desoladas cidades e lares. Porém, a grande maioria dos israelitas decidiu permanecer nas províncias da Medo-Pérsia, contrariando os apelos de Deus, com base no que foi registrado pelo profeta Zacarias:
“Ah, ah! Fugi agora da terra do norte, diz o Senhor, porque vos espalhei como os quatro ventos do céu, diz o Senhor. Ah! escapai para Sião, vós que habitais com a filha de Babilônia.” Zacarias 2:6 e 7.
Embora seja verdade que 49.697 israelitas tenham voltado à sua pátria com Zorobabel (ver Esdras 2:1,2,64 e 65), outras centenas de milhares, porém, não o fizeram, isto porque, os persas, durante os reinados de Ciro e Dario I, trataram bondosamente os israelitas, permitindo-lhes trabalhar e prestar culto ao verdadeiro Deus de Israel num ambiente de total liberdade.
Anos mais tarde, durante o reinado de Xerxes I, as condições no reino da Medo-Pérsia sofreram profundas mudanças e aqueles judeus que resolveram permanecer foram chamados a enfrentar uma terrível crise. Entre esses muitos israelitas de Judá que foram levados cativos pelos babilônios, havia um certo judeu, de nome Mardoqueu, descendente da tribo de Benjamim (ver Ester 2:5 e 6). Ele fixou sua residência em Susã, uma antiga cidade do oriente médio, capital do Elão, que fez também parte dos impérios babilônico e persa, localizada cerca de 250 km a leste do rio Tigre, no que é hoje o sudoeste do Irã.
Mardoqueu adotou e criou sua prima órfã, de nome Hadassa, que significa “Murta”. Seu nome hebreu foi trocado pelo o de Ester, que em língua persa significa “estrela”. Ela era filha de Abiail, tio de Mardoqueu (ver Ester 2:15). Sendo seu guardião e primo mais velho, Mardoqueu era um oficial da corte que, com outros servidores reais, permanecia perto da entrada do palácio aguardando as ordens do rei (ver Ester 3:2).
A descrição detalhada dos fatos que ocorreram na corte persa define todo o cenário desta empolgante história, que revela o grandioso poder de Deus a favor de Seu povo através a ação corajosa e sábia de uma jovem israelita.
II – O DESPONTAR DE UMA ESTRELA
Assuero, no seu terceiro ano como rei, ostentou a fabulosa riqueza do seu reino, ao oferecer um banquete com duração de 180 dias para os ministros e funcionários do governo (ver Ester 1:3 e 4). Após esse evento o rei ofereceu um banquete que teve a duração de sete dias para as pessoas da cidadela de Susã, no pátio do jardim do palácio real. Aos convidados foram oferecidos vinho em taças de ouro e sofás de ouro e prata para se reclinarem (ver Ester 1:5 e 6). Simultaneamente, a rainha Vasti ofereceu um banquete separado para as mulheres no palácio do rei Assuero. Os persas eram conhecidos por seus banquetes abundantes.
Quando os sete dias de festividades chegaram ao seu término, durante um desenfreado momento de bebedeira, o rei Assuero enviou sete eunucos, que assistiam ao seu banquete, ordenando-lhes que trouxessem à sua presença a rainha Vasti, para mostrar aos convidados e aos príncipes a sua extraordinária beleza. Ela, entretanto, se recusou a comparecer perante o rei. Esse ato de desobediência ultrajou tanto o rei, que ele pediu conselho aos sábios quanto ao que se devia fazer à rainha Vasti, por não ter cumprido a sua ordem, segundo a lei vigente. Os conselheiros sentiram-se igualmente insultados diante do comportamento da rainha Vasti. Havia o temor por parte deles que quando as mulheres do reino, incluindo suas próprias esposas, ficassem sabendo da recusa da rainha Vasti em honrar uma ordem do marido, elas seguissem seu exemplo. Por isso eles recomendaram que o rei decretasse a deposição de Vasti e escolhesse uma nova rainha para substituí-la. O rei Assuero concordou e passou a enviar cartas a todas as províncias do reino. Teve início, assim, uma busca por belas donzelas dentre as quais o rei iria escolher a sua nova consorte.
Ester estava entre as muitas jovens mulheres que foram levadas para o palácio do rei, provenientes das cento e vinte e sete províncias do império que se estendia da Índia até a Etiópia. Por ser uma “donzela esbelta e formosa” (ver Ester 2:7), ela tornou-se a preferida de Hegai, o eunuco responsável das belas virgens, que lhe ofereceu cosméticos, alimentos e também sete criadas do palácio (ver Ester 2:9). Seguindo as orientações de Mardoqueu, Ester manteve em segredo a sua identidade judia.
Foi dado a Ester o tratamento padrão de beleza, “pois, assim se cumpriam os dias de seus preparativos, a saber, seis meses com óleo de mirra, e seis meses com especiarias e unguentos.” Ester 2:12. Durante este tempo Mardoqueu “passeava diante do pátio da casa das mulheres, para se informar de como Ester passava e do que lhe sucedia.” Ester 2:11.
Finalmente chegara o momento de Ester ir ao encontro do rei Assuero. Ele a preferiu a todas as outras mulheres, cativado por sua beleza e encanto, de sorte que lhe pôs sobre a cabeça a coroa real, e a fez rainha em lugar de Vasti. Com isso se encerrou uma busca que se estendeu por quatro anos, do terceiro ao sétimo ano de seu reinado (ver Ester 1:3 e 2:16).
III – CONSPIRAÇÃO NO PALÁCIO
Naquele tempo, estando Mardoqueu sentado à porta do rei, chegou aos seus ouvidos a notícia sobre um plano de assassinar o rei. Os protagonistas deste plano eram dois dos cortesões que cuidavam da primeira entrada do palácio, chamados Bigtã e Teres. Indignados por alguma coisa que o rei lhes fizera, intentaram levantar-se contra o rei e tirar-lhe a vida.
Mardoqueu rapidamente transmitiu a notícia para Ester e ela passou a informação para o rei. Uma investigação foi aberta e ao ter sido constatado que a notícia era verdadeira, os dois conspiradores foram presos e enforcados por seu crime. Esse evento foi registrado no livro das crônicas perante o rei (ver Ester 2: 22 e 23) Entretanto, Mardoqueu não foi recompensado por sua lealdade ao rei, um descuido que mais tarde ganha importância.
Logo depois o rei Assuero escolheu um homem de nome Hamã, para ocupar uma elevada posição de autoridade sobre todas as províncias da Medo-Pérsia, emitindo uma ordem para que todos os servos, que estavam à porta do rei, se inclinassem e se prostrassem perante Hamã. Porém, Mardoqueu, foi o único a não curvar-se em deferência a Hamã. Afinal, Hamã era o segundo no comando, o homem mais próximo ao rei. Por que então Mardoqueu não prestou homenagem a ele como o rei ordenou? (Ester 3:2). Era orgulhoso? A resposta é: não. A razão pela qual Mardoqueu não prestou homenagem a Hamã é que este era um descendente de Agague, um rei dos amalequitas. Mas o que havia de errado nisto? O problema é que os amalequitas lutaram contra Israel quando estes estavam a caminho da terra prometida, após sua saída do Egito (ver Êxodo 17). Eles eram inimigos históricos dos hebreus, e a respeito deles disse Deus a Moisés: "Então disse o Senhor a Moisés: Escreve isto para memória num livro, e relata-o aos ouvidos de Josué; que Eu totalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos céus. E Moisés edificou um altar, ao qual chamou: O Senhor é minha bandeira. E disse: Porquanto jurou o Senhor, haverá guerra do Senhor contra Amaleque de geração em geração." Êxodo 17:14-16. Em suas últimas admoestações, Moisés fez lembrar ao povo de Israel o mal que fez Amaleque:“Lembra-te do que te fez Amaleque no caminho, quando saías do Egito; como te saiu ao encontro no caminho e feriu na tua retaguarda todos os fracos que iam após ti, estando tu cansado e afadigado; e não temeu a Deus. Quando, pois, teu Deus te houver dado repouso de todos os teus inimigos em redor, na terra que o teu Deus te dá por herança para a possuires, apagarás a memória de Amaleque de debaixo do céu; não esqueças.” Deuteronômio 25:17-19. Passados quatrocentos anos desde quando foram pronunciadas aquelas palavras, chegara o momento do rei Saul executar o juízo de Deus sobre os amalequitas. A ordem foi enviada através o profeta Samuel, deixando claro que ele falava por determinação divina, pela mesma autoridade que chamara Saul ao trono. Disse o profeta: “Vai pois agora e fere a Amaleque; e destrói totalmente a tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até à mulher, desde os meninos até aos de mama, desde os bois até às ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos.” I Samuel 15:3. Porém, contrariando a ordem divina, o rei Saul preservou a vida do rei dos amalequitas, de nome Agague, e também o melhor das ovelhas e das vacas. Em resposta a essa transgressão, o profeta Samuel pronunciou ao rei Saul a irrevogável sentença: “Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, Ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.” I Samuel 15:26. Em seguida diz o relato bíblico que “Samuel despedaçou a Agague perante o Eterno em Gilgal.” I Samuel 15:33.
Essa histórica inimizade entre os amalequitas e o povo de Israel teve um desdobramento drástico no tempo da rainha Ester. Quando chegou à Hamã a notícia do desrespeito por parte de Mardoqueu, sua fúria foi tão grande, que ele planejou uma destruição não apenas de Mardoqueu, mas de todos os judeus do reino de Assuero (ver Ester 3:2-6).
Hamã tirou a sorte, um rito denominado “Pur”, para determinar um dia propício para executar o aniquilamento de todos os judeus nas 127 províncias jurisdicionais do império. A sorte caiu em uma data quase um ano à frente: o décimo terceiro dia do mês de “adar” (fevereiro/março). Ao anunciar ao rei Assuero as suas intenções, Hamã prometeu pagar dez mil talentos de prata para o tesouro do rei, caso tivesse êxito com relação ao seu pedido. A quantia que lhe foi oferecida era exorbitante. Ela equivalia a milhões de dólares, em valores de hoje. O rei Assuero, contudo, parece ter declinado do suborno, baseado na resposta dada a Hamã: “Guarda para ti a prata, que me ofereces, e no tocante ao povo faze o que quiseres.” Ester 3:11. Atendendo o pedido de Hamã, um decreto foi emitido pelo rei que determinava o massacre de todos os homens, mulheres e crianças de origem judaica do reino, e o saque de todas as suas propriedades (ver Ester 3:7-13). Esse decreto causou grande lamentação entre todos os judeus e deixou tão consternado o próprio Mardoqueu que ele “rasgou as suas vestes, vestiu-se de saco e de cinza, e saiu pelo meio da cidade, clamando com grande e amargo clamor (ver Ester 4:1-3).
A rainha Ester, que ainda não sabia sobre o decreto, entristeceu-se quando soube que Mardoqueu, estava muito amargurado e enviou um dos seus servos até ele para descobrir qual o motivo (ver Ester 4:4-6). Por meio deste servo, Mardoqueu a fez saber tudo o que tinha acontecido, ordenando-lhe a falar com o rei a respeito e implorar pelas vidas de seu povo (ver Ester 4:7-9). A princípio a rainha Ester esquivou-se da tarefa, contudo, ao responder a Mardoqueu, ela fez questão de lembrar-lhe que a punição por aparecer diante do rei sem ser chamada é a morte, a menos que o rei lhe estendesse o cetro de ouro. A preocupação dela fazia sentido, pois nos últimos trinta dias ela não tinha sido chamada a ver o rei (ver Ester 4:10 e 11).
Em resposta aos argumentos de Ester, Mardoqueu revela sua inabalável fé em Deus: “Não imagines que, por estares no palácio do rei, terás mais sorte para escapar do que todos os outros judeus. Pois, se de todo te calares agora, de outra parte se levantarão socorro e livramento para os judeus, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se não foi para tal tempo como este que chegaste ao reino?” Ester 4:13 e 14.
As palavras de Mardoqueu mudaram o desígnio de Ester. Ela ficou comovida ao ouvir essas palavras. Compreendeu, de repente, por que ela, uma pobre menina órfã, chegara a ser rainha. Deus previra essa terrível crise e por isso a tinha elevado ao trono a fim de salvar Seu povo; povo este que preservava o conhecimento do verdadeiro Deus. A crise que Ester e seu povo enfrentava, demandava ação fervorosa e imediata. Por isso ela enviou a seguinte mensagem a Mardoqueu: “Vai, ajunta todos os judeus que se acham em Susã, e jejuai por mim, e não comais nem bebais por três dias, nem de noite nem de dia; ...” Ester 4:16. Seu medo parece ter desaparecido quando ela diz: “ ...E eu jejuarei da mesma forma com as minhas criadas, e depois irei ter com o rei, ainda que não seja segundo a lei; e se perecer, pereci.” Ester 4:16. Diz a Palavra de Deus que “Mardoqueu foi, e fez conforme tudo quanto Ester lhe ordenara.” Ester 4:17.
IV – A LIBERTAÇÃO
No terceiro dia Ester finalmente foi ter com o rei. O monarca estende o cetro dourado em sua direção, permitindo a entrada da rainha. O rei lhe pergunta: “O que é, rainha Ester? Qual é a tua petição? Até metade do reino se te dará.” Ester 5:3. Ester convidou o rei e Hamã para um banquete que ela havia preparado para aquele dia. Ambos compareceram ao banquete e novamente o rei tornou a perguntar: “Qual é a tua petição? E ser-te-á concedida; e qual é o teu rogo? E se te dará, ainda que seja metade do reino.” Ester 5:6. Outra vez a rainha Ester convida os dois para um banquete no dia seguinte, quando então prometeu revelar ao rei a sua petição.
Hamã deixa o primeiro banquete com estado de espírito bastante alegre por causa do tratamente especial recebido por parte da rainha. No entanto, quando ele avistou Mardoqueu junto ao portão do palácio do rei, e viu que o mesmo não se levantou e nem se moveu na direção dele, Hamã ficou ultrajado, sentindo que toda a sua riqueza e honras nada valiam diante de tamanho desrespeito. Mesmo assim Hamã conteve-se e foi para casa. Ao expressar a sua fúria à sua mulher Zerés e aos seus amigos, eles aconselharam-no a construir uma forca de 50 côvados (cerca de 23 metros) de altura. Hamã tinha a intenção de no dia seguinte falar ao rei a respeito da sua intenção de enforcar Mardoqueu.
Por providência divina, naquela noite o rei não conseguia dormir, por isso, ordenou que os registros do diário lhe fossem trazidos e lidos. Após escutar atentamente a leitura dos fatos, o rei ficou sabendo que Mardoqueu salvara sua vida e nenhuma honra ou distinção havia sido conferida a ele como recompensa.
Naquele exato momento Hamã entra no vestíbulo exterior do palácio real com o firme propósito de pedir ao rei o enforcamento de Mardoqueu. No entanto, antes de revelar ao monarca o motivo de sua visita, o rei lhe surpreendeu com a seguinte pergunta: “Como se deve tratar um homem a quem o rei quer honrar? Ester 6:6. Imaginando que o rei referia-se a ele, Hamã sugeriu que essa pessoa seja honrada com vestimentas idênticas usadas pelo rei, e sobre a sua cabeça seja colocada um diadema real; que essa pessoa monte um dos cavalos reais e seja levada em glória na praça da cidade por um alto funcionário da corte. Para o grande desgosto de Hamã, o rei o instruiu a fazer exatamente isso para Mardoqueu. O rei disse a Hamã: “Apresse-se, tome as roupas e o cavalo, como você disse, e faça isso com Mardoqueu, o judeu, que se senta junto ao portão do rei. Não deixe de fazer nada do que você mencionou.” Ester 6:10. Humilhado, Hamã teve que obedecer a ordem do rei. Ele conduziu Mardoqueu vestido de roupas reais, montado no cavalo pela praça da cidade, proclamando a honra de seu inimigo.
Após essa indignidade, Hamã correu para casa com a cabeça coberta, em sinal de lamentação e Mardoqueu voltou ao portão do rei. Depois de Hamã ter contado a Zerés, sua mulher, e a todos os seu amigos tudo o que lhe aconteceu, eles lhe disseram: “Se Mardoqueu, diante de quem você começou a cair, é judeu, não será possível vencê-lo; ao contrário, sua derrota diante dele é inevitável.” Ester 6:13. Tal fato parece se referir à rixa de séculos de existência entre seus respetivos ancestrais.
Enquanto Hamã ainda estava falando, chegaram a sua casa os cortesões do rei para acompanhá-lo ao lugar onde seria oferecido o segundo banquete preparado por Ester. É certo que depois de ele passar por aquela humilhação, o banquete perdera todo o seu encanto. Além disso, como poderia pedir permissão ao rei para enforcar a Mardoqueu diante de tais circunstâncias?
O rei e Hamã foram ao baquete da rainha Ester. Incapaz de reprimir por mais tempo sua curiosidade, o rei dirige-se à rainha Ester e disse-lhe outra vez: “Qual é a tua petição, rainha Ester? E ser-te-á concedida; e qual é o teu rogo? Até a metade do reino se te dará.” Ester 7:2. Ester corajosamente lhe respondeu com as seguintes palavras: “Se eu obtive seu favor, rei, e se for do seu agrado, então o que pedirei é que me seja concedida minha vida e a vida de meu povo. Pois nós fomos vendidos, eu e meu povo, para sermos destruídos, mortos e exterminados.” Ester 7:4. O rei foi surpreendido e perguntou quem fez essa ação terrível. Ester respondeu: “O nosso inimigo e perseguidor é este malvado Hamã.” Ester 7:6. O rei ficou tão furioso que levantou-se do banquete e saiu ao jardim do palácio, deixando o aterrorizado Hamã sozinho com a rainha. Sentindo vividamente o perigo que corria, Hamã rogou a rainha Ester que lhe poupasse a vida, pois ele percebeu que o rei decidira condená-lo. Aterrorizado, precipitou-se em direção ao divã onde estava Ester. Quando o rei voltou à sala, viu Hamã caído sobre o divã em que Ester se encontrava. Ao ver aquilo, ficou ainda mais enfurecido, pois pensou que Hamã planejava agredir de algum modo a rainha. Então o rei gritou: “Agora ele está para violentar a rainha aqui, no meu palácio, diante dos meus olhos?” Ester 7:8. No momento em que essas palavras saíram de sua boca, seus oficiais cobriram o rosto de Hamã. Naquele instante um dos servos do rei, de nome Harvonah, disse: “Vejam! Há uma forca de 23 metros de altura que Hamã mandou fazer para enforcar Mardoqueu, aquele que só expressou o bem para o rei, junto à casa de Hamã.” Ester 7:9. Ironicamente o rei ordenou que Hamã fosse enforcado na mesma forca que havia sido construída para Mardoqueu. Assim, o homem que planejara eliminar os filhos de Israel caiu ele em sua própria armadilha.
Ao morrer Hamã, ocorreu uma grande mudança na corte persa. Nesse mesmo dia o rei entregou a Mardoqueu o seu anel de selar, atribuindo-lhe grande honra, designando-o como sucessor de Hamã e feito o segundo no comando, depois do rei (ver Ester 10:3). O rei também transferiu à rainha Ester todas as propriedades de Hamã, as quais passaram a ser administradas por Mardoqueu.
Os judeus, porém, ainda estavam em grande perigo, pois, segundo as leis dos persas, o rei não tinha poderes para revogar um decreto emitido em seu nome. Assim, aquele decreto que determinava o massacre de todos os homens, mulheres e crianças de origem judaica do reino, e o saque de todas as suas propriedades, continuava válido e ninguém poderia mudá-lo. Entretanto, o rei permitiu que Ester e Mardoqueu emitissem outro decreto em nome do rei, dando-lhes liberdade quanto aos termos do documento (ver Ester 8:8). De acordo com esse novo decreto, foi concedido aos judeus, no dia marcado para seu extermínio, ou seja, no décimo terceiro dia do décimo segundo mês, que é o mês de Adar, defender suas vidas, permitindo-lhes destruir, matar e assolar todas as forças dos seus inimigos que os atacasse, bem como a seus filhos, mulheres ou a quem tentasse confiscar seus bens (ver Ester 8:11). O texto era exatamento o reverso do decreto de Hamã, e o cenário tem se transformado em uma batalha grandiosa e sangrenta.
O decreto foi promulgado em Susã e uma cópia do edito deveria ser publicada como lei em todas as 127 províncias, desde a Índia até a Etiópia e anunciada a todos os povos, e os judeus deveriam preparar-se nesse dia para a vingança contra os seus inimigos. Não houve quem ficasse para trás, pois diz o relato que “mensageiros, montando cavalos velozes usados no serviço do rei, partiram rapidamente, com pressa por causa da ordem do rei.” Ester 8:14.
Enquanto isso, Mardoqueu apareceu em mantos reais, com uma coroa dourada, e os judeus de Susã se regozijando com a mudança de sua sorte. De fato, o documento trouxe alívio a todo o povo de Deus, pois “muitas pessoas dentre os povos da terra tornaram-se judeus, pois o temor dos judeus tinha caído sobre eles.” Ester 8:17.
V - CONCLUSÃO
Quando chegou o tempo do cumprimento da ordem e do decreto do rei, os judeus promoveram o massacre de seus inimigos, sob o comando de Mardoqueu. Diz a Palavra de Deus que “todos os oficiais das províncias, os comandantes do exército, os governadores e quem se ocupava dos assuntos do rei auxiliaram os judeus porque temiam a Mardoqueu. Mardoqueu tornara-se uma pessoa poderosa no palácio do rei, e sua fama espalhou-se por todas as províncias.” Ester 9:3 e 4.
Os judeus mataram todos os seus inimigos à espada, tendo sido mortos 500 pessoas somente na cidadela de Susã, incluindo os dez filhos de Hamã. Nas províncias eles mataram 75.000 pessoas, sem, no entanto, tocarem no espólio. Depois de o rei ter sido informado sobre o número de mortos em Susã, a capital, ele perguntou à rainha Ester: “Agora, qual é a tua petição? E te será concedida; e qual é ainda o teu rogo? E atender-se-á.” Ester 9:12. Respondendo ela pede que seja permitido que os judeus de Susã tivessem mais um dia de extermínio de seus inimigos. Com a permissão do rei, no dia seguinte os judeus mataram mais 300 pessoas, porém, sem tocarem no espólio.
De certa forma a história dá maior enfoque na celebração que ocorreu após a batalha do que na matança propriamente dita. Mardoqueu registrou esses acontecimentos e enviou cartas a todos os judeus em todas as províncias do rei, instruindo-os a “observar o décimo quarto e o décimo quinto dias do mês de Adar todos os anos, para comemorar os dias em que os judeus obtiveram descanso de seus inimigos e o mês em que sua tristeza foi transformada em alegria, e o lamento, em um feriado; deveriam celebrar esses dias com alegria, enviando porções de comida uns aos outros e dando presentes aos pobres.” Ester 9:20. Os judeus celebram anualmente a festa do Purim até os dias atuais. O nome “Purim” vem da palavra hebraica “pur”, que significa “sorteio”. Este foi o método usado por Hamã para escolher a data na qual ele pretendia massacrar os judeus residentes em todas as províncias da Pérsia.
Embora a história de Ester não mencione o nome de Deus, no entanto, Sua direção faz-se presente em todo o livro. É um dos mais fascinantes dramas de toda a literatura judaica, pois tem sido um retrato fiel dos acontecimentos que mudaram o curso da história de todo um povo.
Ester demonstrou ter as qualidades de quem confia na lei de Deus. Ela era uma donzela esbelta e formosa (ver Ester 2:7). Ester causou admiração em todos os que a viram. Evidentemente ela não achava que adornos ostentosos fossem a coisa importante, pois “ela não pediu nada além do que Hegai, o oficial do rei encarregado do harém, lhe aconselhou.” Ester 2:15. A sua conduta era de inteira submissão ao seu marido, rei da Pérsia, dirigindo-se a ele com tato e respeito, quando a vida dela e a do seu povo estavam em perigo. Mantinha-se calada quando a situação assim o exigia, mas falava firme e destemidamente na hora certa quando necessário (ver Ester 2:10; 7:3-6). Aceitava humildemente os conselhos do experiente primo Mardoqueu, mesmo consciente que ao segui-los punha em perigo a sua própria vida (ver Ester 4:12-16). Demonstrou em toda a sua vida o seu amor e sua lealdade para com o seu povo, os judeus, com o qual o verdadeiro Deus tem firmado um pacto incondicional (ver Jeremias 31:33-37).