I – INTRODUÇÃO
Quando o livro de Jonas é apenas estudado superficialmente, parece cheio de incertezas e surpresas, no entanto, as suas páginas revelam-nos uma verdade imutável, isto é, apresentam-nos o grande amor de Deus.
Uma obra prima que mostra a incrível graça de nosso Criador para com um povo pagão, cruel e obstinado, e até mesmo para com um profeta teimoso e errado, que inicialmente se recusou a aceitar o Seu chamado.
Os livros proféticos apresentam, em sua maioria, as mensagens sagradas de Deus, transmitidas através os profetas. Em quase todos os casos, o enfoque está na mensagem, não no mensageiro. Todavia, a maior parte do livro do profeta Jonas, em contraste com os demais livros proféticos, lida com ele, pessoalmente, enquanto sua mensagem propriamente consiste em menos de dez palavras (Jonas 3:4). A história de Jonas e suas façanhas é a própria mensagem.
Deus tinha uma boa razão para pôr Jonas na Bíblia. Através as experiências desafiadoras e mesmo perturbadoras do profeta Jonas, Deus nos mostra que está mais do que nunca disposto a fazer o inesperado a fim de cumprir Seus propósitos para com cada um de nós.

II – NÍNIVE – UM DESAFIO PARA O PROFETA
Nínive é mencionada pela primeira vez na Bíblia em Gênesis 10:11:
“Dessa terra saiu Assur, que construiu Nínive, ...”
Ela foi fundada por Assur, depois do dilúvio, sobre as férteis barrancas do rio Tigre, tornando-se uma grande cidade, de três dias de caminho (Jonas 3:3), com uma população aproximada de 120.000 habitantes (Jonas 4:11).
Nínive era uma das maiores cidade do mundo antigo, a capital do domínio assírio. Uma cidade pagã, fortaleza de glória, mas também era o centro de crime e violência. A grande capital assíria distava cerca de 800 quilômetros a nordeste de Israel. As Escrituras Sagradas a descrevem como “cidade ensangüentada... toda cheia de mentiras e de rapina.” Naum 3:1. O profeta Naum fornece detalhes da maldade e violência praticados pelos moradores de Nínive: assassinatos, roubos, mentiras, adultérios, feitiçarias, etc. (Naum 3:1-4).
Sofonias declara que um dia, por causa do orgulho da cidade, Deus fará de Nínive uma desolação (Sofonias 2:13-15).
Apesar de ela ter-se tornado ímpia, Nínive não estava entregue inteiramente ao mal. Deus lembrou-Se dela:
“Ora veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até Mim.” Jonas 1:2.
Este é mais um exemplo de como Deus tenta alcançar as nações gentias com advertências sobre os resultados de seus pecados e iniqüidades. Isto prova que Deus está envolvido intimamente com a Sua criação. O envolvimento de Deus na vida humana não se limita meramente ao povo da aliança. Ele não faz acepção de pessoas. Até os que não aceitam o verdadeiro Criador devem responder por suas ações diante do Soberano Deus. No passado Ele pronunciou juízo sobre os desobedientes antediluvianos, porque, apesar das muitas advertências, grande era a maldade do homem e a terra estava corrompida e cheia de violência (Gênesis 6:11-13). No tempo de Abraão, Ele anunciou a destruição das cidades não israelitas de Sodoma e Gomorra, por ter-se agravado e multiplicado nelas o pecado (Gênesis 18:16; 19:29).
No caso de Nínive, Deus Se revelou aos seus habitantes de maneira inconfundível, a fim de levá-los ao arrependimento.
Um princípio fundamental do procedimento de Deus com a humanidade caída aparece em Ezequiel 18:21-23:
“Mas, se o perverso se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os Meus estatutos, e fizer o que é reto e justo, certamente viverá; não será morto. De todas as transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela justiça que praticou, viverá. Acaso, tenho Eu prazer na morte do perverso? diz o Senhor Deus; não desejo Eu, antes, que ele se converta dos seus caminhos, e viva?”
Em se tratando de Nínive, o instrumento escolhido para executar os planos de Deus foi o profeta Jonas.

III – O PERFIL DE UM PROFETA RELUTANTE E SUA MISSÃO
Jonas era filho do profeta Amitai, da tribo de Zebulom, e viveu no século VIII a.C. em Gate-Hefer, pequena cidade galiléia perto de Nazaré, ao norte de Israel. Ele viveu durante o reinado de Jeroboão II (786-746 a.C.). O seu nome aparece pela primeira vez em II Reis 14:25. De acordo com esse texto, Jonas transmitiu a Palavra de Deus ao rei Jeroboão II de Israel. Ele predisse que o rei iria restabelecer as fronteiras de Israel aos seus limites do tempo de Davi. A predição se cumpriu (II Reis 14:25-27).
O profeta Jonas foi comissionado pelo próprio Deus de Israel a ir à Nínive, capital da Assíria. A sua missão era advertir os assírios que, devido a sua crueldade, iriam ser destruídos caso não se arrependessem dentro de quarenta dias (Jonas 3:4).
Quando Deus comissionou Jonas a ir à Nínive, o profeta começou a suspeitar o que poderia acontecer. Ele pôs-se a pensar como Deus havia dado repetidas chances ao Reino do Norte de Israel. Caso os ninivitas se arrependessem de suas práticas perversas, Jonas sabia que era mensageiro de um Deus que podia compadecer-Se (Jonas 4:2; Êxodo 32:9-14; Jeremias 18:8-10; 26:3 e 13; 42:10).
Tomado por inúmeras incertezas, o profeta se levantou para fugir de diante da face de Deus. Ele desceu à cidade de Jope, e achando ali um navio que ia para Tarsis, pronto para zarpar, pagou a sua passagem e desceu para dentro dele. Tarsis, de fato, estava na direção oposta de Nínive, para onde o Senhor queria que Jonas fosse. Nínive estava a leste e Tarsis estava a oeste.
Foi na cidade de Jope que o profeta Jonas e mais tarde o apóstolo Pedro lutaram com as mesmas questões que os deixaram perplexos (Jonas 1:3 e Atos 10:8). Ambos cultivaram sentimentos puramente nacionalistas, criando barreiras e fazendo acepção de pessoas, práticas estas totalmente desaprovadas por Deus. As Escrituras Sagradas são claras em afirmar que nenhuma nação está excluída do plano de Deus (Gênesis 22:18; Mateus 24:14).
Deus confiou a Jonas uma pesada responsabilidade. Tivesse o profeta obedecido sem questionar, certamente teriam sido poupadas muitas experiências amargas e ele teria sido abundantemente abençoado. Jonas foi o único profeta que fugiu antes de transmitir sua mensagem.
Jonas não quis testemunhar aos pagãos em Nínive, mas quando irrompeu a grande tempestade, ele foi forçado a testemunhar aos pagãos dentro do navio. Ele foi direto ao coração do assunto dizendo-lhes o que eles precisavam conhecer: “...temo ao Senhor, o Deus do Céu, que fez o mar e a terra seca.” Jonas 1:9.
Hoje, os que proclamam a última mensagem de Deus, deveriam repetir as mesmas palavras: “Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque é chegada a hora do Seu juízo; adorai Aquele que fez o Céu e a Terra, e o mar, e as fontes das águas.” Apocalipse 14:7.
IV – A AÇÃO MISERICORDIOSA DE DEUS
O livro de Jonas apresenta-nos alguns dos conceitos mais profundos da Bíblia, sendo que entre todos eles, o mais surpreendente é a manifestação da misericórdia e a graça de Deus em ação. Pode parecer uma história simples, no entanto, apresenta-nos um profundo retrato do perdão de Deus. Em síntese, o livro de Jonas nos ensina que:
1. Deus tem o controle sobre toda a criação
Os incidentes ocorridos com Jonas é uma confirmação de que a criação está sob o controle de Deus:
a) A forte tempestade que varreu o mar (Jonas 1:4);
b) O grande peixe enviado para tragar Jonas (Jonas 1:17);
c) Deus falou ao grande peixe e este obedeceu, vomitando o profeta em terra firme (Jonas 2:10);
d) Deus fez nascer uma planta e enviou um verme para feri-la (Jonas 4:6-7).
2. O maior propósito de Deus é salvar e não destruir
Jonas conhecia a Deus e sabia que Ele é um Deus “compassivo, misericordioso, longânimo e grande em benignidade e que Se arrepende do mal.” (Jonas 4:2). O cuidado de Deus tem-se manifestado nas mais difíceis situações. Deus mostrou misericórdia e graça tanto ao profeta Jonas, aos marinheiros e ao povo de Nínive, os quais manifestaram reconhecimento por terem sido livrados da morte por Deus:.
a) O profeta Jonas reconheceu o ato milagroso de Deus nas entranhas do peixe (Jonas 2:2-9). Na segunda chamada de Deus (Jonas 3:2), Jonas obedeceu e foi à Nínive (Jonas 3:3).
b) Da mesma forma os marinheiros pagãos, após rogarem a Deus para salvá-los da tempestade (Jonas 1:14 e 15), O adoraram e Lhe fizeram votos (Jonas 1:16).
c) O povo de Nínive orou e jejuou vestido de saco (Jonas 3:7-9), convertendo-se do seu mau caminho e Deus os livrou a todos da destruição certa.

V – UMA HISTÓRIA REAL
A história do profeta Jonas é verídica. O próprio Jesus, durante o Seu ministério terrestre, fez três menções ao profeta, todas no mesmo contexto de Jonas no ventre do peixe (Mateus 12:39-41; Mateus 16:1-4; Lucas 11:29-32). Ele cria na veracidade da história desse profeta, particularmente a parte mais incrível, isto é, a excursão submarina de Jonas no ventre do grande peixe. Ele usou a história de Jonas para transmitir uma mensagem importante não só para os que O ouviram pessoalmente, mas também para nós.
Um grupo de fariseus e escribas pediu um sinal miraculoso de Jesus para autenticar a Sua missão como Messias (Mateus 12:38). Jesus foi enfático em Sua resposta:
“Mas Ele lhes respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal se lhe dará, senão o do profeta Jonas; pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra.” Mateus 12:39 e 40.
Em seguida, Jesus complementa dizendo:
“Os ninivitas se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão, porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui quem é maior do que Jonas. A rainha de Sabá se levantará no juízo com esta geração, e a condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui quem é maior do que Salomão.” Mateus 12:41-42.
Foi uma dura repreensão não só para aqueles líderes religiosos, mas para todos aqueles que hoje pedem sinais e não crêem no sinal que identifica o verdadeiro Messias (‘...como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra” Mateus 12:40). Jesus usou a história de Jonas para descrever o que Lhe aconteceria, isto é, Sua morte, sepultamento e ressurreição. (Desejando saber mais detalhes sobre esse assunto, ver o estudo: O MESSIAS E O SINAL DE JONAS)

VI – CONCLUSÃO
Como vimos no livro de Jonas, a natureza obedeceu, os pagãos obedeceram, mas somente Jonas, o hebreu, deixou de obedecer segundo o padrão que Deus queria. Em vez de sentir-se alegre pelo fato de Deus ter mudado os corações violentamente maus dos ninivitas, a história registra que essa mudança de rumo deixou Jonas muito furioso (Jonas 4:1). Algumas razões prováveis:
a) Talvez ele sentisse que, visto que o juízo não caiu, ele seria considerado um falso profeta, uma vez que os judeus conheciam muito bem o texto de Deuteronômio 18:22.
b) Talvez pelo fato de a Assíria ter sido inimiga de Israel, ele quisesse que o juízo de Deus caísse incondicionalmente sobre esse povo.
A verdade é que as experiências de Jonas é um retrato das experiências do povo de Deus ao longo da história. O que poderia ter sido feito na paz, foi forçado a fazer sob circunstâncias terríveis. Caso Jonas tivesse obedecido a Deus desde o início, a tempestade, o peixe e os três dias e três noites poderiam ter sido evitados.
A história termina sem sabermos o que finalmente aconteceu a Jonas e nem se ele chegou a ver algum vislumbre de Nínive sob a perspectiva de Deus. Ele acabou não sendo o que Deus queria que ele fosse. Em outras palavras, ele não compreendeu os reais propósitos de Deus. Não seria esse o problema de muitos hoje?