O Batismo em Nome de Jesus

Ordenanças Determinadas Por Jesus (Parte I)

I – INTRODUÇÃO

O Senhor Jesus, logo após a Sua ressurreição, apresentou-Se aos Seus discípulos e a outros seguidores por um espaço de 40 dias, falando a respeito do Reino de Deus (Atos 1:3). Durante esses encontros Ele fazia questão de lembrá-los das coisas que lhes havia ensinado enquanto ainda estava com eles.

Depois de ter trazido à memória todas as passagens que falavam a Seu respeito nas Sagradas Escrituras, o Senhor Jesus abriu-lhes “o entendimento para compreenderem as Escrituras; e disse-lhes: Assim está escrito que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressurgisse dentre os mortos; e que em Seu nome se pregasse o arrependimento para remissão dos pecados, a todas as nações, começando por Jerusalém.” Lucas 24:45-47.

Esta ordem de Jesus foi fielmente cumprida por Seus discípulos. No dia de pentecostes, quase três mil pessoas em Jerusalém (Atos 2:41) atenderam o seguinte convite do apóstolo Pedro:

“Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo.” Atos 2:38.

Há, no entanto, uma controvérsia nos meios teológicos sobre esta questão, pois em Mateus 28:19 está escrito que o Senhor Jesus deu aos Seus apóstolos a missão de irem por todo o mundo e fazerem discípulos, “batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.”

Para os estudiosos das Escrituras Sagradas é bastante intrigante encontrar no Novo Testamento duas fórmulas batismais completamente opostas, ou seja, uma ordenando o batismo em nome de Jesus e uma outra ordenando o batismo em nome de uma trindade.

O tema levanta uma série de questões interessantes. Por que a fórmula de Mateus 28:19 não foi aplicada pelos apóstolos? Por que o batismo em nome da trindade aparece explicitamente apenas em um único texto no evangelho de Mateus, e não aparece nos demais evangelhos e em nenhuma das epístolas?

Para que este assunto seja entendido, faremos uma profunda investigação à luz da Palavra de Deus e também um amplo estudo no campo histórico sobre fatos que ocorreram nos primeiros séculos da era cristã.


II – A FÓRMULA BATISMAL NA ERA APOSTÓLICA

Os registros bíblicos confirmam que na época dos apóstolos o batismo por imersão era sempre ministrado “em nome de Jesus Cristo” ou “em nome do Senhor Jesus”. No livro de Atos encontramos quatro eventos em que esta fórmula batismal foi claramente exposta pelos apóstolos:

1) ATOS 2:38
A primeira ocasião em que se menciona o batismo em nome de Jesus ocorreu no dia de Pentecostes. Ali estavam presentes judeus e prosélitos de todas as nações. O apóstolo Pedro aproveitou a oportunidade para proferir uma mensagem vibrante na qual explicou os acontecimentos recentes e falou a eles a respeito da morte de Jesus e Sua ressurreição por Deus. Diz o relato bíblico que “ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?” Atos 2:37. Em resposta foi dito que deviam arrepender-se e ser batizados em nome de Jesus Cristo:

“Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.” Atos 2:38.

2) ATOS 8:16
A próxima referência ao batismo em nome de Jesus ocorreu em território não judaico. A missão de pregar o evangelho havia acabado de entrar no segundo estágio prescrito por Jesus em Atos 1:8 - Judéia e Samaria (Atos 8:1). O evangelista Filipe prega o evangelho (Atos 8:5,12) e os samaritanos aceitam a mensagem com fé e alegria (Atos 8:8,12), sendo posteriormente batizados em nome do Senhor Jesus:

“...mas somente tinham sido batizados em nome do Senhor Jesus.” Atos 8:16.

3) ATOS 10:48
A terceira referência ao batismo em nome de Jesus é de tremenda importância no contexto geral do livro de Atos. O episódio ilustra o enorme desafio enfrentado pela igreja primitiva: a inclusão dos gentios em uma comunidade de discípulos que, a essa altura, era quase inteiramente judaica. Estavam ali reunidos: o gentio Cornélio, seus parentes e amigos mais íntimos (Atos 10:24). Em seguida o apóstolo Pedro declara que todo o que crê em Jesus receberá a remissão dos pecados pelo Seu nome. Para que esta promessa pudesse se concretizar, o apóstolo Pedro mandou “que fossem batizados em nome de Jesus Cristo.” Atos 10:48.

4) ATOS 19:5
A última referência ao batismo em nome de Jesus é registrada num contexto muito excepcional. O apóstolo Paulo cumpre sua missão de pregar o evangelho em Éfeso, em sua terceira investida missionária à Ásia Menor. O avanço da pregação do evangelho alcança a sua última etapa prescrita por Jesus em Atos 1:8, num contexto geográfico para aquela época – (“até os confins da terra”). Paulo encontrou em Éfeso alguns discípulos que passaram pelo batismo de João (Atos 19:3). Após ouvirem a mensagem do apóstolo Paulo, eles “foram batizados em nome do Senhor Jesus”. Atos 19:5. A partir de então a nova conexão deles com Cristo e o seu compromisso com Ele tornaram-se explícitos.

Além dessas referências, o livro de Atos relata a surpreendente experiência do apóstolo Paulo, chamado pelo próprio Senhor Jesus para uma missão muito especial: “Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para Mim um vaso escolhido, para levar o Meu nome perante os gentios, e os reis, e os filhos de Israel.” Atos 9:15. Após o seu chamado, ele foi batizado (Atos 9:18). Em um de seus discursos, ao defender-se dos ataques de seus opositores, ele relata um detalhe muito importante sobre o seu batismo: “Um certo Ananias, varão piedoso conforme a lei, que tinha bom testemunho de todos os judeus que ali moravam, indo ter comigo, de pé ao meu lado, disse-me: ...O Deus de nossos pais de antemão te designou para conhecer a Sua vontade, ver o Justo, e ouvir a voz da sua boca. Porque hás de ser Sua testemunha para com todos os homens do que tens visto e ouvido. Agora por que te demoras? Levanta-te, batiza-te e lava os teus pecados, invocando o Seu nome.” Atos 22:12-16.

Foi dito ao apóstolo Paulo que, ao ser batizado, fosse invocado apenas o nome de Jesus. A razão disto é porque o batismo em nome de Jesus tem um significado muito especial. Não se deve esquecer que os grandes fatos da graça redentora são exibidos pelo batismo por imersão, através do qual estão representados a morte, o sepultamento e a ressurreição de nosso Salvador Jesus Cristo (Romanos 6:3-6).

A importância que o apóstolo Paulo deu a esse detalhe pode-se deduzir pelo que ele escreveu aos gálatas: “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo.” Gálatas 3:27.

Diante do sucesso e número cada vez mais crescente de pessoas que ouviram e creram nas mensagens dos discípulos, as autoridades da época lançaram uma importante pergunta a Pedro e João:

“Muitos, porém, dos que ouviram a palavra, creram, e se elevou o número dos homens a quase cinco mil. No dia seguinte, reuniram-se em Jerusalém as autoridades, os anciãos, os escribas, e Anás, o sumo sacerdote, e Caifás, João, Alexandre, e todos quantos eram da linhagem do sumo sacerdote. E, pondo-se no meio deles, perguntaram: Com que poder ou em nome de quem fizestes vós isto? Atos 4:4-7.

A resposta dele foi enfática e precisa:

“Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, nesse nome está este aqui, são diante de vós. Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta como pedra angular. E em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu, nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos.” Atos 4:10-12.

Ao escrever sua carta à Igreja de Colossos, o apóstolo Paulo dirige uma exortação para os novos conversos, os quais foram sepultados e ressuscitados juntamente com Cristo no batismo (Colossenses 2:12 e 3:1), dizendo-lhes:

“E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai.” Colossenses 3:17.

As Escrituras Sagradas ensinam que Deus, o Pai, concedeu a Jesus toda a autoridade no céu e na terra: “E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-Me dada toda a autoridade no céu e na terra.” Mateus 28:18.

Após ter recebido toda a “autoridade” (do grego: exousia) de Deus, Jesus autorizou Seus discípulos a irem e ensinarem a todas as nações, e pregarem em Seu nome o arrependimento para remissão dos pecados (Lucas 24:47). Constatamos, pois, que os apóstolos cumpriram fielmente a ordem de nosso Salvador Jesus, cuja autoridade Lhe foi dada pelo Pai. A partir do Pentecostes, eles começaram a batizar em nome de Jesus.



III – PROVAS HISTÓRICAS E A CONTROVERSA PASSAGEM DE MATEUS 28:19

O texto em questão diz o seguinte: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” Mateus 28:19.

O texto de Mateus 28:19 é contraditório, pois tira a primazia de Jesus Cristo como nosso único Salvador e Mediador.

Esta citação é única e isolada na Palavra de Deus. Os teólogos são unânimes em concordar que não devemos apoiar nossa fé em ensinos que têm por base um texto isolado nas Escrituras Sagradas. Além de ser um texto único e isolado, provamos que não há um único registro nas Escrituras Sagradas de os apóstolos terem se utilizado desta fórmula.

Resta-nos, pois, buscar informações através de fontes históricas disponíveis. A história, no decorrer do tempo, vem mostrando as mudanças efetuadas por pessoas de grande influência religiosa dentro do cristianismo. Os registros históricos provam que o texto original, que serviu de base para os batismos realizados pelos apóstolos foi modificado em alguma época do passado, a fim de adaptá-lo ao credo dos concílios de Nicéia e Constantinopla.

O que dizem algumas fontes históricas acerca desta controversa passagem bíblica?

“A fórmula batismal foi mudada do nome de Jesus Cristo para as palavras Pai, Filho e Espírito Santo pela Igreja Católica no segundo século.” Enciclopédia Britânica, 11ª. Edição, volume 3, pp. 365 e 366.

“Sempre nas fontes antigas menciona que o batismo era em nome de Jesus Cristo.” Enciclopédia Britânica, 11ª. Edição, volume 3, p. 82.

“É possível que, em sua forma precisa, essa fórmula (Pai, Filho e Espírito Santo) reflita influência do uso litúrgico posteriormente fixado na comunidade primitiva. Sabe-se que o livro dos Atos fala em batizar `no nome de Jesus`... Mais tarde deve ter-se estabelecido a associação do batizado às três pessoas da Trindade.” (Grifo nosso) Comentário no rodapé da Bíblia de Jerusalém.

“Um dos rituais mais dramáticos observados pelos primeiros cristãos foi o batismo. O seu objetivo era lavar toda a impureza resultante do pecado, preparando assim o iniciado para a sua nova vida. Na sua forma mais elementar, a cerimônia exigia do candidato uma profissão de fé, seguida da imersão total na água em nome de Jesus Cristo.” (Grifo Nosso) Depois de Jesus o Triunfo do Cristianismo – p. 36 – Seleções do Reader´s Digest.

“A religião primitiva sempre batizava em nome do Senhor Jesus até o desenvolvimento da doutrina da trindade no segundo século.” Enciclopédia da Religião – Canney, p. 53.

“O batismo cristão era administrado usando o nome de Jesus. O uso da fórmula trinitariana de nenhuma forma foi sugerida pela história da igreja primitiva; o batismo foi sempre em nome do Senhor Jesus até o tempo do mártir Justino, quando a fórmula da trindade foi usada.” Enciclopédia da Religião – Hastings, vol. 2, pp. 377-389 (em inglês).

“A forma básica da nossa profissão de fé (Mateus 28:19) tomou forma ao longo dos séculos segundo e terceiro d.C. em conexão com a cerimônia do batismo. Trata-se originariamente de uma fórmula nascida em Roma.” (Grifo Nosso) Introdução ao Cristianismo – Capítulo 2, p. 82 (Autor: Cardeal Joseph Ratzinger – Atual Papa Benedito XVI).

No Compêndio da História da Igreja, de autoria de Frei Dagoberto Romag, Volume I, intitulado: A Antiguidade Cristã, impresso pela Editora Vozes, pp. 90-93 e 143-145, diz que a ordem do batismo em nome do Pai, Filho e Espírito Santo, saiu da pena de Tertuliano, no ano 197 d.C.
Podemos citar também Eusébio, bispo de Cesaréia. Ele é referido como pai da história da igreja, porque em seus escritos estão os primeiros relatos quanto à história do cristianismo primitivo. Ele possuía cópias do evangelho de Mateus, no idioma hebraico. Em seus escritos ele citava frequentemente as palavras de Jesus em Mateus 28:19, na versão original, da seguinte forma: “Ide fazei discípulos de todas as nações em Meu nome”. (grifo nosso) Eusébio de Cesaréia.- História Eclesiástica.- Livro III. 24.6. Segundo ele, o texto original não mandava batizar em nome da trindade.

IV – CONCLUSÃO

Logo após a ressurreição, o Senhor Jesus se encontrou com os onze discípulos para lhes dar importantes instruções. Entre eles estava presente o apóstolo Pedro que ouviu atentamente aquelas instruções dadas pelo Mestre:

“E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dos mortos; e em Seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém.” Lucas 24:46 e 47.

Mais tarde, no dia de Pentecostes, cumprindo as instruções de Jesus relatadas em Lucas 24:47, Pedro pregou o arrependimento e apelou aos novos conversos para que se batizassem “em nome de Jesus Cristo”, para perdão dos pecados (Atos 2:38).

Em Atos 2:41-43 encontramos registrado a comprovação de que Deus abençoou a obra do apóstolo Pedro:

“ ...Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas. ... Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos....E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.” Atos 2:41, 43.

As atitudes de Pedro, Paulo e de outros apóstolos não teriam aprovação, a menos que eles estivessem cumprindo exatamente a ordem dada pelo Senhor Jesus. Sendo isso verdade, o original de Mateus 28:19 nunca poderia ser o que conhecemos hoje nas Bíblias atuais. Com base nos fatos históricos, há fortes evidências que já a partir do segundo século o texto original sofreu modificações, para se enquadrar à recém criada doutrina da trindade..

O dogma da trindade inegavelmente foi criado pela Igreja de Roma e se fundamenta em suposições filosóficas derivadas de idéias pagãs. Os primeiros estudos sobre esse assunto surgiram a partir do segundo século d.C.. O povo de Deus, no século III, enfrentou uma crise de fé no interior de suas fileiras em virtude dos debates a respeito da trindade. A história revela que “muitos cristãos opunham-se à idéia de um Deus uno e trino formado pelo Pai, o Filho e o Espírito Santo, o que lhes parecia muito próximo do politeísmo dos seus vizinhos pagãos.” Depois de Jesus o triunfo do cristianismo, p. 153.

A oficialização do dogma da trindade ocorreu no quarto século, nos Concílios de Nicéia (325 d.C.) e Constantinopla (381 d.C.).

Para o fiel pesquisador das Escrituras Sagradas a conclusão é clara. A fórmula batismal correta é aquela praticada pelos apóstolos e realizada “EM NOME DE JESUS”.